segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A GULA - DO LIVRO:OS SETE PECADOS CAPITAIS (2010) FERNANDO MARTINS FERREIRA

A Gula “A gula é uma fuga emotiva, um sinal de que alguma coisa nos está a devorar”. P. de Vries A gula é o excesso de comer, beber e tem como característica o engolir e não digerir, é também tudo aquilo que comemos depois de já estarmos satisfeitos. Na sua simbologia maior significa voracidade. O guloso come a toda hora e além do necessário. Para alguns o prazer de comer passa a ser um fim em si mesmo e tem nisso sua satisfação e se frustram quando a refeição não é suculenta e farta. A gula é às vezes irresistível pois não podemos nos esquecer de que o prazer oral é o primeiro prazer que experimentamos, pois é pela boca que trocamos com a mãe os primeiros contatos, que nos alimentamos para viver, que sentimos as primeiras emoções e que experimentamos sensações diversas. A gula portanto é compensatória, primitiva, e um recurso para abafar nossas frustrações. Nos traz a sensação de conforto, pois nos lembra a amamentação, o aconchego do seio materno. Segundo a escritura norte-americana, Francise Prose em seu livro “Gula”, de “todos os sete pecados capitais, a gula talvez tenha a história mais intrigante e paradoxal”. “As maneiras como o pecado tem sido encarado evoluíram de acordo com as obsessões mutantes da sociedade e da cultura”. – Realmente, pois na Roma Antiga a gula era considerada normal pois os romanos festeiros como eram, participavam às vezes de mais de uma festa por dia. Caso não se comesse a fartar-se seria considerado uma ofensa para o anfitrião. Existiam nas residências até mesmo a figura do vomitódromo, pois comiam, provocavam o vômito e comiam novamente. Isso era o usual. Diversos filmes de época retratam isso. Já no renascimento comer demasiadamente significava incorrer em uma idolatria que afastava as pessoas de Deus. Após a revolução industrial sucumbir a tentação da gula passou a ser sinal de prosperidade. O fato é que comer é necessário à sobrevivência então como estabelecer limites entre a alimentação ideal e a gula? Do “Verba Seniorum” (Sabedoria dos Antigos) nos vem uma lição: - “O abade pastor passeava com o monge de Sceta, quando foram convidados para comer. O dono da casa, honrado pela presença dos padres, mandou servir o que havia de melhor. Entretanto o monge estava no seu período de jejum. Quando a comida chegou, pegou uma ervilha e mastigou-a lentamente e nada mais comeu. Na saída, o abade pastor conversou com ele: - Irmão quando for visitar alguém, não torne a sua santidade uma ofensa. Da próxima vez que estiver em jejum, não aceite convites para jantar”. A igreja prega o comer sem prazer, evitando-se o culto dos sentidos que pode nos levar ao pecado. Conta-se que São Francisco de Assis colocava cinzas sobre a comida para eliminar qualquer vestígio de sabor. O ato de comer, o pecado foi levado tão a sério que as santas Catarina de Sena, Clara de Assis e Verônica, chegaram a ser advertidas pelos membros do clero por seus jejuns exagerados. Afirmavam esses, que elas podiam incorrer no pecado da soberba pelo “heroísmo” de tamanha penitência. A Bíblia em Eclesiástico 37: 32-34 nos adverte: “Não sejas ávido em banquete algum e não te lances sobre todos os pratos. Pois em muita comida entra a doença e a intemperança conduz à cólica. Pela gula insaciável muitos perecem quem porém, é sóbrio, prolonga a vida”. Sábia Bíblia, pois a gula é a porta aberta para a obesidade que nos traz doenças como hipertensão, doenças cardiovasculares, cérebro-vasculares, diminuição do HDL (colesterol bom), diabetes, infertilidade entre outras. Devemos dizer não à gula, ao desejo incontrolável por comida equilibrando-nos e nos impondo limites, assegurando o domínio da inteligência sobre os instintos e dominando assim nossas vontades e não sendo dominado por elas. Gula é o resultado final da baixo estima, insegurança, depressão e tristeza. Agora veja o caso a seguir: Na França existe uma associação denominada “Associação dos Assuntos da Gula”. Era liderada pelo que foi considerado o maior padeiro de todos os tempos Lionel Poilane (morto recentemente em um desastre de helicóptero). São afiliados dessa associação os grandes chefs da cozinha francesa e internacional, entre eles o famoso Paul Bocuse, escritores e celebridades. Pois bem, a associação, hoje liderada pela filha de Lionel encaminhou ao Papa João Paulo II uma petição para que ele retirasse a gula dos pecados capitais. Você caro leitor acredita que a igreja o retirará? Eu não.

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