terça-feira, 31 de janeiro de 2012

QUE NINGUEM SE OFENDA:PODE ACONTECER COM QUALQUER UM-TEXTO DE FLAVIO MARCUS DA SILVA(FOTO)






29 - Que ninguém se ofenda: pode acontecer com qualquer um


A bela professora de Direito Tributário entrou na sala de aula como se estivesse na passarela de um desfile de modas em Paris ou Milão. Era sexta-feira à noite, e embora já estivesse com o atestado médico em mãos, assinado por uma prima ginecologista, ela resolvera, de última hora, abandonar o marido e os amigos no refinado restaurante francês Le Bistrot e ir direto para a universidade. Não que ela respeitasse a instituição: fez isso pelos alunos, que queriam muito a sua presença durante a realização do complicadíssimo exercício que ela havia preparado para aquela noite.
Quando ela pisou na sala, havia em seus intestinos 300 ml de um vinho francês da Borgogne, já completamente absorvidos pelo maravilhoso Cassoulet que ela havia comido antes de sair [Cassoulet: ensopado com feijão branco, salsichas e pedaços de ganso ou pato]. Ao distribuir os exercícios aos alunos, ela fez questão de referir-se a esse jantar requintado, que prosseguia sem a sua presença encantadora no restaurante mais caro da cidade, e, logicamente, à sua dedicação aos “queridos alunos”, que tinham o privilégio de contar com seus ensinamentos numa sexta-feira tão especial.
Enquanto ela desfilava pelos corredores da sala, fazendo soar no velho piso de madeira o leve toc toc dos seus belos saltos importados [e fingindo interesse pelas dúvidas dos alunos], uma enorme quantidade de bactérias atacava os carboidratos da mistura de iguarias francesas que se movimentava no interior de suas tripas. Desse processo de fermentação é perfeitamente natural que surjam gases, como o metano, o sulfeto de hidrogênio ou o dióxido de carbono. Se os componentes da mistura vêm da França, da Alemanha ou do quintal de um pequeno roceiro do interior de Minas Gerais não interessa às bactérias que produzem tais gases. E quanto mais enxofre tiver na mistura, mais fedidas serão as ventosidades produzidas, não fazendo qualquer diferença neste processo a nacionalidade das iguarias presentes nos intestinos.
Enquanto a professora dizia algumas frases decoradas em francês para impressionar os alunos, tentando imitar os sons ouvidos no filme Piaf ou em Coco avant Chanel, uma pequena bolha de gás, contendo uma quantidade considerável de sulfeto de hidrogênio [rico em enxofre], aumentava de tamanho entre as paredes do seu intestino grosso. Ela circulava em torno de um bolo fecal de aspecto uniforme e cor marrom parda [devido ao ganso presente no Cassoulet] que se movimentava lentamente em direção ao ânus da mulher.
A bolha aumentava de tamanho a cada minuto, e às vezes a professora sentia o seu movimento, que se não fosse o constante toc toc de seus saltos sobre o piso da sala, poderia ser ouvido até pelo aluno que estivesse mais próximo. E aos poucos, outras bolhas vinham se aproximando da bolha maior, pois no tempo em que esteve no restaurante, antes de servirem a refeição, a professora conversou muito enquanto bebia [a maior parte do tempo criticando colegas de trabalho que ela considerava inferiores], e enquanto ria e falava, uma enorme quantidade de ar entrava pela sua boca. O ar não absorvido pelo organismo ou eliminado pelos arrotos discretíssimos dados pela professora se misturou ao Cassoulet e ao vinho tinto e acompanhou a mistura em direção aos intestinos.
Enquanto isso, alguns ácaros iniciavam uma pequena reação alérgica nas mucosas nasais da mulher. Um leve corrimento teve início, o que fez com que ela tirasse do bolso um lenço bordado a mão por artesãos indianos, comprado na última viagem que ela havia feito com o marido à Ásia. Levou o lenço ao nariz e, discretamente, limpou um excesso de mucosidade nasal que se acumulava na narina esquerda e que estava prestes a pingar. Uma leve irritação nos olhos e uma coceira em ambas as narinas começavam a incomodá-la.
Mesmo assim, a professora continuava o seu desfile pelos corredores da sala, respondendo às questões feitas pelos alunos como se ela fosse a maior autoridade em Direito Tributário do Brasil.
De repente, uma bolha de ar que se movimentava no seu intestino grosso se juntou a uma pequena bolha de dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio, produzida por um grupo de bactérias famintas, o que fez surgir uma bolha muito maior. Essa bolha forçou a parede do intestino, que pressionava de um lado, enquanto o bolo fecal pressionava do outro, o que fez com que ela se deslocasse rapidamente em direção à outra bolha [a mais fedida de todas, que já se aproximava do ânus da professora]. Ao se encontrarem, as duas bolhas formaram uma bolha só, de proporções devastadoras.
Um espirro.
Em pânico, a professora respirou fundo o ar ao seu redor, com medo de que alguma coisa tivesse escapado. Nada. Nenhum cheiro desagradável. Ela tinha que sair dali o mais rápido possível.
Outro espirro, e mais um, e mais outro. A bolha estava quase lá, a mulher podia sentir, e enquanto caminhava lentamente em direção à porta, percebeu uma pressão nas paredes do seu ânus [como um inchaço interno] que só podia significar uma coisa: uma enorme quantidade de gases já tinha chegado ali e estava pronta para explodir.
Imediatamente a mulher parou. Qualquer movimento podia ser fatal. Um novo espirro seria a tragédia completa. E ali ela ficou, entre duas fileiras de alunos, quase no meio da sala, à espera de um milagre, de uma intervenção divina que fizesse desaparecer todo aquele gás acumulado bem na saída, que ela trancava com todas as forças que sua bem trabalhada musculatura glútea e anal permitia.
Enquanto isso, os ácaros não davam trégua e provocavam mais coceira no nariz da desesperada professora, que já não falava mais, apenas aguardava, em pânico, o que o destino lhe reservava.
Foi quando veio o espirro, o mais forte de todos, que vibrou a abertura anal com a rapidez de um raio: um único segundo, o tempo de uma pequena piscadela do esfíncter, mas que foi suficiente para que uma parte dos gases acumulados sob pressão escapasse com um enorme estrondo, tão alto, que a tentativa da professora de abafá-lo com o som do espirro foi em vão.
Tragédia.
Todos os alunos escutaram o som e perceberam de imediato de onde ele tinha vindo e do que se tratava. E os que estavam mais próximos da professora sentiram um cheiro tão fedido, que alguns fizeram vômito, e outros chegaram a vomitar no chão, próximo aos pés da desesperada mulher, que não sabia onde enfiar a cara. E antes que ela raciocinasse sobre o que fazer numa situação dessas, um novo espirro, e um novo estrondo, ainda mais alto e fedido que o primeiro.
O cheiro estava por toda a sala. Alguns alunos pediram licença e se retiraram. Outros foram para a janela. E a professora ficou lá, parada que nem uma estátua, com o pensamento em branco, sentindo o cheiro dos gases produzidos pelas bactérias dos seus intestinos: um cheiro de corpo, de carne, de vida e morte; um cheiro de existir, de ser e estar no mundo,vivendo, comendo e morrendo, como eu, como você, como qualquer um.
QUEM É MARCUS FLÁVIO DA SILVA



Nascido em Pará de Minas- MG em 1975. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e doutorado pela Universidade federal de Minas Gerais (2002) com estágio (Doutorado- sanduíche/CAPES) na Universidade de Lisboa- Portugal (2002). Atualmente é Vice- diretor da Faculdade de Pará de Minas- FAPAM-(MG) onde já exerceu os cargos de Coordenador do Curso de História, coordenador do NUPE- Núcleo de Pesquisa, e foi professor nos cursos de História e Administração. Atualmente leciona nos cursos de Direito e Pedagogia. É autor do livro SUBSISTENCIA E PODER: a política do abastecimento alimentar nas Minas Setecentistas (Editora UFMG -2008) e de artigos publicados em periódicos e livros de História. Um de seus trabalhos foi publicado no livro HISTÓRIA DE MINAS GERAIS- As Minas Setecentistas (Editora Autentica 2007) obra vencedora do PREMIO JABUTI
2008 na categoria Ciências Humanas. Atualmente exerce também a função de Pesquisador Institucional da Faculdade de Pará de Minas junto ao Ministério da Educação, sendo responsável pelo acompanhamento dos processos e renovação de reconhecimento dos cursos de graduação da IES. Em 2009 foi eleito para a Academia de Letras de Pará de Minas.
www.nwm.com.br/fms

domingo, 29 de janeiro de 2012

A RELIGIÃO E A ESPIRITUALIDADE -TEXTO DO PROF.DR.GUIDO NUNES LOPES

Esta mensagem diz, de modo
simples e objetivo, coisas da nossa
existencia. É só observar e concluir.


A RELIGIÃO E A ESPIRITUALIDADE

Professor.Dr.Guido Nunes Lopes


A religião não é apenas uma, são centenas.
A espiritualidade é apenas uma.

A religião é para os que dormem.
A espiritualidade é para os que estão despertos.

A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados.
A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.

A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.
A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.

A religião ameaça e amedronta.
A espiritualidade lhe dá Paz Interior.

A religião fala de pecado e de culpa.
A espiritualidade lhe diz: "aprenda com o erro"..

A religião reprime tudo, te faz falso.
A espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro!

A religião não é Deus.
A espiritualidade é Tudo e, portanto é Deus.

A religião inventa.
A espiritualidade descobre.

A religião não indaga nem questiona.
A espiritualidade questiona tudo.

A religião é humana, é uma organização com regras.
A espiritualidade é Divina, sem regras.

A religião é causa de divisões.
A espiritualidade é causa de União.

A religião lhe busca para que acredite.
A espiritualidade você tem que buscá-la.

A religião segue os preceitos de um livro sagrado.
A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.

A religião se alimenta do medo.
A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé.

A religião faz viver no pensamento.
A espiritualidade faz Viver na Consciência..

A religião se ocupa com fazer.
A espiritualidade se ocupa com Ser.

A religião alimenta o ego.
A espiritualidade nos faz Transcender.

A religião nos faz renunciar ao mundo.
A espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele.

A religião é adoração.
A espiritualidade é Meditação.

A religião sonha com a glória e com o paraíso.
A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.

A religião vive no passado e no futuro.
A espiritualidade vive no presente.

A religião enclausura nossa memória.
A espiritualidade liberta nossa Consciência.

A religião crê na vida eterna.
A espiritualidade nos faz consciente da vida eterna.

A religião promete para depois da morte.
A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.

"Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual... Somos seres espirituais passando por uma experiência humana... "

Texto do Prof. Dr. Guido Nunes Lopes,Graduado em Licenciatura e Bacharelado em Física pela Universidade Federal do Amazonas (FUAM, 1986), Mestrado em Física Básica pelo Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IF São Carlos, 1988) e Doutorado em Ciências em Energia Nuclear na Agricultura pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (CENA, 2001).

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

UM CONCERTO HISTÓRICO EM PITANGUI- TEXTO DO PROF.MS.ARNALDO DE SOUZA RIBEIRO(FOTO)


Um concerto histórico em Pitangui

* Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro

“Ama-se mais o que se conquistou com esforço.”
Aristóteles. Filósofo grego, aluno de Platão, 384 a.C a 322 a.C.

No domingo, dia 07 de março de 2010, a Igreja Nossa Senhora do Pilar de Pitangui recebeu o Coral Bittencourt, de Pará de Minas e a Orquestra Minas Filarmônica de Divinópolis, para encerrar uma série de três concertos denominados Concertos “Patrimônio Musical”, com apresentações nos dias 05 em Pará de Minas e 06 em Onça do Pitangui.
Na primeira parte foram apresentadas obras do Padre José Maurício Nunes Garcia e na segunda parte três peças do Acervo de manuscritos do Século XIX, encontradas em Pará de Minas em 2009.
Para mostrar a importância das peças encontradas e executadas neste histórico Concerto, faremos um breve resumo de quem foi o Padre José Maurício Nunes Garcia: nasceu no Rio de Janeiro, no dia 24 de setembro de 1767, onde falecera no dia 18 de abril de 1830. Filho de pai português e de mãe descendente de africanos. Iniciou a compor com 16 anos e teve como mestre o mineiro Salvador José de Almeida Faria. Viveu a transição do Brasil Colônia para o Brasil Império, bem como a transição do barroco para o neoclassicismo.
No período de 1808 a 1811, compôs aproximadamente 70 músicas e em toda sua vida estima-se que tenha composto um montante de 240.
Com a chegada de D. João VI em 1808, ao conhecê-lo tornou-se seu amigo, admirador e defensor, deste modo, seu prestígio e produção cresceram de forma espetacular.
Em 1816, dirigiu na Igreja da Ordem Terceira do Carmo um Requiem de sua autoria em homenagem à rainha D. Maria I, falecida no Rio de Janeiro naquele ano. Historicamente foi o primeiro compositor de relevo brasileiro, cuja fama fora conhecida na Europa.
Ao lado das peças deste ícone da música erudita brasileira, foram apresentadas três peças dentre as encontradas no acervo do Coral Nossa Senhora da Piedade da cidade de Pará de Minas, que em nada ficam a dever em beleza e qualidade, quais sejam:
I. Motetos de Passos - “Celebração dos Passos” Anônimo “Século XVIII ou XIX” (coro).
II. Motetos de Quarta Feira de Cinzas “Immutemur e Inter Vestibulum” - Américo Pereira Guimarães – Pitangui “Século XIX” (coro e orquestra).
III. Ladainha de Nossa Senhora em Fá maior – Mestre Antônio José de Oliveira – Onça do Pitangui “Século XIX” (coro, solistas e orquestra).
As peças encontradas pelo maestro Samuel Lopes alcançam um montante de 36. Este pesquisou e identificou a origem e a qualidade das partituras e constatou: são todas de apurado conteúdo somando-se ainda à riqueza histórica que elas representam. Possivelmente estas peças foram escritas no século XIX influenciadas pela música colonial setecentista. Apurou que parte dos manuscritos fora escrita na cidade de Pitangui e outra em Onça de Pitangui.
Durante este histórico Concerto, a paz, a beleza e a harmonia se fizeram presentes na bela Igreja Nossa Senhora do Pilar. O esforço e o profissionalismo dos integrantes do Coral Bitencurt e da Orquestra Minas Filarmônica com as participações de: Bernardo Mendes (pianista), Regina Marinho (soprano), Denise Silva (mezzo-soprano), Érica Soares (soprano), Rosinha de Fátima (soprano), Cíntia Alves (contralto), Hilda Terezinha (mezzo-contralto), Cícero Alves (tenor), Marden Ferreira (tenor), Daniel Gonçalves (baixo), José Luíz dos Santos (barítono-baixo), Coral Bittencourt, Adailton Corrêa (maestro) e Samuel Lopes (maestro e tenor), levaram a todos: orgulho e cultura. Orgulho por constatar que as músicas compostas em nossa região, no século XIX, equiparam-se em qualidade e beleza àquelas compostas na Corte; e cultura, ao nos apresentar aquelas vozes e acordes de indizível beleza, resultantes do estudo, do talento e do árduo trabalho dos músicos que executaram aquelas magníficas peças.
Nas palavras do maestro Samuel Lopes:

“Manuscritos que resistiram ao tempo, às traças e que através de sua preservação, de concertos e projetos culturais ressurgirão como uma história cantada. Não é somente mais um Arquivo Musical de Pará de Minas, mas um Patrimônio Musical do Brasil.”

Sem dúvida, o maestro que encontrou e restaurou este importante acervo, traduziu com estas sábias palavras o que ele representa para a cultura de Onça do Pitangui, de Pitangui, de Pará de Minas, Divinópolis, de Minas, do Brasil e do mundo. Espera-se, que estes virtuosíssimos músicos possam apresentar este histórico Concerto para outras platéias, divulgando este tesouro cultural de inestimável valor.

Itaúna, 20 de março de 2010.

* Arnaldo de Souza Ribeiro é Doutorando pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática do Ensino pelo CEUCLAR – São José de Batatais – SP. Advogado e conferencista. Coordenador e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna – Itaúna – UIT - MG. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP – Nova Iguaçu - RJ. Sócio efetivo da Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise – ABRAFP. E-mail: souzaribeiro@nwnet.com.br

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A NATUREZA DIVINA- FERNANDO MARTINS FERREIRA

A NATUREZA DIVINA


Do budismo nos vem a seguinte parábola:
“Certa vez um homem muito rico, em uma viagem de negócios encontrou no caminho um velho amigo a quem não via durante muitos anos. O amigo estava num estado deplorável. Mendigava pelas ruas, estava sujo, maltrapilho e malicento, parecendo não se alimentar havia muitos dias.
- “O que aconteceu com você?” – perguntou o homem rico.
- “Perdi dinheiro nos negócios, fali, minha mulher me abandonou e levou com ela nossos filhos”. – respondeu o amigo.
Compadecido o homem rico lhe disse:
- “Eu estava indo tratar de negócios, mas não vou deixá-lo nesse estado. Vou levá-lo ao meu hotel e oferecer-lhe um almoço”.
Assim, ele levou o amigo pobre para onde estava hospedado e mandou servir uma farta refeição acompanhada de um bom vinho.
O amigo pobre, após comer e beber acabou adormecendo.
O homem rico, vendo que já estava na hora de sair para atender a um compromisso de negócio, sacudiu o amigo para acordá-lo, mas este continuou profundamente adormecido.
Pensando uma maneira de tirar o amigo da miséria, teve uma idéia e imediatamente colocou-a em prática: Descosturou um pouco a gola do casaco do amigo, colocou dentro dela um diamante de grande valor, e refez a costura.
- “Pronto, agora o meu amigo é dono de uma pedra de grande valor. Basta ele apalpar a gola para descobri-la. Vendendo esta pedra, poderá conseguir muito dinheiro e refazer a sua vida”.
Em seguida, saiu tranqüilo e aliviado para tratar de seus negócios, e quando voltou ao anoitecer constatou que o amigo pobre já havia partido.
Passaram-se alguns meses e um dia o homem rico voltou à cidade. E tornou a se encontrar com o velho amigo, o qual continuava sujo e maltrapilho como da vez anterior.
Surpreso perguntou:
- “O que é que você tem feito de sua vida”?
E o outro respondeu:
- “Como vê, continuo na miséria”.
- “Não é possível” – disse o homem rico. “Eu lhe dei uma pedra preciosa de grande valor”.
- “Não sei do que você está falando”.
- “Examine a gola do seu casaco. Isso! Notou que há algo dentro dela? Abre-a e verás que se trata de uma pedra preciosa, um diamante de grande valor”.
E assim o pobre amigo que se julgava sem um tostão, finalmente descobriu a pedra preciosa, oculta que mudaria sua vida. Nessa parábola, a pedra preciosa corresponde à natureza divina de que nós somos dotados.
Se não tomamos consciência dela, ela nos será inútil.




DO LIVRO: CONTANDO HISTÓRIAS...
ED.VIRTUAL BOOKS-2009-

SOMOS CHIQUES MESMO, E DAI? -FLAVIO MARCUS DA SILVA (FOTO)




28 - Somos chiques mesmo, e daí?


- Nossa convidada de hoje é uma das mulheres mais badaladas da sociedade local e,podemos afirmar, sem nenhum exagero, de todo o estado: D. Jaciara de Assunção Menezes Torres e Albuquerque. Boa noite D. Jaciara, é uma alegria imensa tê-la conosco.
- A alegria é toda minha, meu caro Bruno. É sempre um prazer voltar ao seu programa.
- Acho que todos os nossos ouvintes já conhecem D. Jaciara: sabem que ela pertence a uma das famílias mais ricas e tradicionais da cidade, que muito contribui para o desenvolvimento econômico de toda a região. Porém, D. Jaciara tem uma novidade para nos contar...
- Pois é. A novidade é que eu e um grupo de amigas acabamos de fundar um movimento na cidade chamado “Somos chiques mesmo, e daí?”.
- Muito interessante. E o que esse movimento promove?
- Bem, há muito tempo me incomoda o fato de haver em nossa cidade um preconceito muito grande contra ricos e pessoas de classe. Tem um cronista que escreve para um site, por exemplo, que não perde uma oportunidade para humilhar os representantes da Alta Sociedade local: não cita nomes, é claro [pois ele não é louco], mas está sempre tentando mostrar que não existe diferença entre as pessoas.
- E existe?
- Claro que sim! Eu, por exemplo, viajo para a Europa cinco vezes ao ano. Só bebo vinho alemão Mit prädikat ou francês com Appellation d'origine contrôlée. Não preciso trabalhar para viver: sou dona de quase a metade dos imóveis comerciais da cidade, que me rendem alugueis astronômicos, fora os lucros das empresas que eu e meus irmãos herdamos de papai e das fazendas de gado Nelore que possuímos no norte de Minas. Isso sem contar o fato de termos mais deputados e prefeitos na nossa família do que qualquer outra família no estado, o que, sem dúvida, facilita muito as coisas, não é? [risos]. Pois então: Como alguém pode dizer que eu sou igual, por exemplo, à minha camareira número 4, que mora em um barracão de aluguel, num bairro tão distante do centro, que ela precisa pegar seis ônibus por dia para ir e voltar do serviço?
- Entendo perfeitamente o seu ponto de vista, D. Jaciara, mas talvez a perspectiva do cronista em questão não seja esta...
- Eu sei muito bem qual é a perspectiva dele. É a de alguém que precisa trabalhar para viver; anda num carro caindo aos pedaços [porque não consegue comprar um novo]; nos finais de semana só tem dinheiro para levar os filhos na pracinha da igreja e comprar pra
eles aqueles chur-ras-qui-nhos enfumaçados com guaraná [D. Jaciara sente um arrepio percorrer seu corpo e faz uma careta de nojo]. Eu conheço esse tipo de gente. Essas pessoas têm é inveja dos ricos, dos que têm classe: por isso inventam essas histórias de que somos todos iguais, de que “privada de ouro não fede menos”. Claro que fede menos! Lá em casa, por exemplo, tem um aparelho que eu trouxe do Japão que elimina todo o fedor das fezes antes mesmo dele sair da privada! Não dá tempo nem do cheiro chegar aos narizes de quem está defecando. Tudo acontece como num passe de mágica! E enquanto eu defeco, tenho diante de mim uma TV exibindo documentários franceses de altíssimo nível: Thalassa, Envoyé Spécial, etc. Pobre tem isso? O nosso cronista tem isso?
- Imagino que não, D. Jaciara. Mas, o que exatamente promove o movimento “Somos chiques mesmo, e daí?”?
- O nosso movimento promove a conscientização das pessoas para o fato de que ser chique não é para todos, mas para uma minoria rica, e que é preciso aceitar isso sem conflitos [internos ou externos], sem inveja, sem rogar praga e torcer para que todo tipo de desgraça aconteça com representantes da nossa classe. É incrível como pobre cafona adora ver rico chique sofrer, só pra dizer: “Tá vendo! Tem dinheiro, mas não é feliz”. Coitado. Infeliz é ele: mora mal, ganha mal, come mal e dificilmente vai melhorar de vida. Somos chiques mesmo, E DAÍ? Não fomos nós que inventamos o capitalismo! Que culpa temos nós de que, para existir, o capitalismo precise de milhares de trabalhadores pobres dispostos avender o seu trabalho por uma mixaria e, assim, fazer os ricos ficarem cada vez mais ricos?
Não temos culpa disso!
- Muito bem, D. Jaciara...
- E não temos culpa também dos pobres só aparecerem nas páginas policiais, enquanto nós, que temos dinheiro para pagar a publicação de nossas fotos e de matérias sobre nossas vidas chiques, aparecemos nas melhores colunas sociais da região, sempre arrancando suspiros invejosos de todos que gostariam de ser como nós.
- Entendo...
- E eu lá tenho culpa do meu filho ser brilhante, de estar fazendo doutorado numa das melhores universidades federais do país e viajar o mundo todo apresentando seus artigosem conferências internacionais? Por que eu não posso contar isso para todo mundo? É verdade!
- Claro, D. Jaciara, não precisa ficar nervosa.
- Não estou nervosa, meu caro Bruno. Apenas quis enfatizar a importância do nosso movimento, que representa uma minoria em nossa cidade [e no Brasil como um todo]: uma minoria que também tem seus direitos, assim como os gays, os índios, os sem teto, os sem terra, os cotistas universitários, etc.
- D. Jaciara, infelizmente nosso tempo acabou. Foi um prazer conversar com a senhora.
- O prazer foi todo meu. E quem quiser mais informações sobre o nosso movimento, encontre-nos no Orkut, no Facebook e no Twitter. É só digitar: “Somos chiques mesmo, e daí?”. Muito obrigada!
P. S.: Bruno, D. Jaciara e o movimento “Somos chiques mesmo, e daí?” não existem. São pura ficção, frutos
apenas da minha imaginação.
QUEM É MARCUS FLÁVIO DA SILVA



Nascido em Pará de Minas- MG em 1975. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e doutorado pela Universidade federal de Minas Gerais (2002) com estágio (Doutorado- sanduíche/CAPES) na Universidade de Lisboa- Portugal (2002). Atualmente é Vice- diretor da Faculdade de Pará de Minas- FAPAM-(MG) onde já exerceu os cargos de Coordenador do Curso de História, coordenador do NUPE- Núcleo de Pesquisa, e foi professor nos cursos de História e Administração. Atualmente leciona nos cursos de Direito e Pedagogia. É autor do livro SUBSISTENCIA E PODER: a política do abastecimento alimentar nas Minas Setecentistas (Editora UFMG -2008) e de artigos publicados em periódicos e livros de História. Um de seus trabalhos foi publicado no livro HISTÓRIA DE MINAS GERAIS- As Minas Setecentistas (Editora Autentica 2007) obra vencedora do PREMIO JABUTI
2008 na categoria Ciências Humanas. Atualmente exerce também a função de Pesquisador Institucional da Faculdade de Pará de Minas junto ao Ministério da Educação, sendo responsável pelo acompanhamento dos processos e renovação de reconhecimento dos cursos de graduação da IES. Em 2009 foi eleito para a Academia de Letras de Pará de Minas.
www.nwm.com.br/fms

domingo, 22 de janeiro de 2012

LE VIN CHÂTEAU TUILERIES- PROF.MS.ARNALDO DE SOUZA RIBEIRO(FOTO)




Le Vin Château les Tuileries [1]

* Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro

"O vinho pode ser de direito considerado como a mais higiênica das bebidas."
Louis Pasteur. Cientista francês, cujas descobertas tiveram enorme importância na história da química e da medicina. Nasceu em Dole - França, no dia 27 de dezembro de 1822 e faleceu no dia 28 de setembro de 1895, em Marnes-la-Coquette - França.

1. Introdução 2. A Vinícola 3. O vinho 4. Degustação 5. Denominação dos vinhos franceses 5.1 Vin de table 5.2 Vin de pays 5.3 Appellation d’origine contrôlée 6. Elaboração 7. Terroir 8. Harmonização 9. Bibliografia.


1. Introdução
O vinho Château les Tuileries, que será degustado nesta noite foi elaborado na comuna de Arbis, no departamento Gironde, situado na região administrativa da Aquitânia - França. A jurisdição da comuna de Arbis alcança uma área de 8,67 km², com 208 habitantes, conforme apurado pelo censo de 1999, contando com uma densidade de 24 hab/km².
Comuna era o nome dado na Idade Média a uma cidade que se emancipasse, mediante obtenção de carta de autonomia que era fornecida pelo seu suserano [2]. Atualmente, na França, o termo se refere à menor subdivisão administrativa do território.
O departamento de Gironde encontra-se rodeado pelos departamentos de Landes, Lot-et-Garonne, Dordogne e Charente-Maritime e a oeste pelo Oceano Atlântico. Por possuir 10.000 km², é o maior departamento da França metropolitana.
Ressalte-se que, na região administrativa de Aquitânia encontra-se a Região Vinícola de Bordeaux, mundialmente conhecida pela qualidade de seus vinhos.


2. A Vinícola
A Vinícola S.C.E.A. des Vignobles Menguin, foi quem elaborou o vinho Château les Tuileries (Castelo de Telhas).
Esta vinícola destaca-se pela qualidade de seus vinhos e pela sua privilegiada localização na região de Entre-Deux-Mers, sub-região vinícola de Bordeaux.
Neste sentido ensina o enólogo Aguinaldo Záckia Albert:
A região produtora dos vinhos de Bordeaux se localiza no departamento da Gironda, dentro da região da Aquitânia, sudoeste da França, cortada pelo paralelo 45° - portanto, em ótima latitude para o vinho. A produção vinícola se concentra às margens de dois rios principais, o Garonne e o Dordogne, que ao se encontrarem formam o estuário do Gironda, que dá nome ao departamento. [3]

Producteur: S.C.E.A. des Vignobles Menguin
Raison sociale Menguin Vignobles
Dirigeant Xavier Conti
Adresse 194 - Gouas
Code postal 33760
Pays France
Région Aquitaine
Départament Gironde
Ville Arbis
Région vinicole Bordeuax
Sub-région vinicole Entre-Deux-mer
Tel +33(0) 556236170
Fax +33(0) 55 6234979
3. O vinho

Os vinhos elaborados pelo S.C.E.A. des Vignobles Menguin caracterizam-se pela qualidade e seus acertados cortes, sendo: para os tintos predomina a uva merlot (80%), complementada pela uva cabernet sauvignon (20%). Os brancos pela uva sauvignon blanc (60%) complementada pela uva sémillon (40%). Estes vinhos são típicos, elaborados com zelo e técnica apurada para valorizar o frutado e o equilíbrio.
Para corroborar a assertiva supra, registre-se: o vinho Château les Tuileries – Safra 2006, foi premiado com a “Medaile Argent” no “Concours de Bordeaux – Vins d’Aquitaine” em 2007. [4]
O vinho que será degustado nesta noite foi elaborado nas mesmas especificações do vinho premiado em 2007, ou seja, com uvas merlot (80%), e uvas cabernet sauvignon (20%).


4. Degustação
Trata-se de um vinho característico da Região de Bordeaux: equilibrado, frutado, taninos macios, reafirmando as características peculiares da região que o produziu. E pode-se ainda destacar:
Cor: rubi, brilhante e acentuada.
Aromas: intensos de frutas vermelhas.
Gosto: frutado, com taninos macios, bem integrados e médio corpo.
Safra: 2008
Graduação alcoólica: 12,5%


5. Denominação dos vinhos franceses
Os vinhos franceses trazem em seus rótulos as seguintes denominações conforme legislação vigente:

5.1 Vin de Table (vinho de mesa)
Trata-se de vinho comum, elaborado sem muitos cuidados e por consequência, apresenta baixo custo beneficio.

5.2 Vin de pays (vinho de região)
Trata-se de vinho elaborado com maior zelo, se comparado com o Vin de Table, embora mantenha as características de vinho comum, também conhecido como vinho ordinário.
A denominação supra foi modificada e sistematicamente evitada, pela abrangência que o vocábulo representa para outras línguas, em especial para a portuguesa. Sabe-se que é possível encontrar no mercado brasileiro vinhos nacionais com melhor custo benefício.

5.3 Vin délimité de qualité supérieure - VDQS (Vinhos Delimitados de Qualidade Superior)
A partir desta classificação encontram-se vinhos de melhor qualidade. Para esta denominação, as autoridades francesas exigem que os produtores sigam os mesmos critérios de um vinho de Appellation d'origine contrôlée - AOC, e são submetidos a degustações técnicas rigorosas. Trata-se de um vinho de categoria transitória, tendo em vista que, os “Vin délimité de qualité supérieure – VDQS” buscam e aguardam a regulamentação para emergirem à denominação Appellation d'origine contrôlée - AOC.
Os vinhos Vin délimité de qualité supérieure – VDOS representam uma pequena parte da produção francesa.
Appellation d'origine contrôlée - AOC (Vinhos de designação de origem controlada): nesta categoria encontram-se os vinhos de qualidade superior. São, portanto, destinatários de frequentes e rigorosos controles. Ademais, o vinho obrigatoriamente terá de ser elaborado na zona informada no rótulo e obedecer a todas as especificações que estão nas legislações de cada região, dentre elas: limite de produção por hectare, as uvas que podem ser cultivadas e os métodos de vinificação.

Convergente é pensamento do enólogo Aguinaldo Záckia Albert:
Um vinho que recebe a Appellation Bordeaux Contrôlée (ou Bordeaux AC) pode ser produzido em qualquer parte da região, desde que use as uvas permitidas e tenha rendimento de, no máximo, 55 hl por hectare. Além disso, o produto final deve ter um teor alcoólico entre 10° e 12,5°. Caso o rendimento seja inferior a 50 hl/ha e o teor alcoólico superior a 10°, o vinho já pode ser enquadrado na classificação Bordeaux Supérieur. Os espumantes também se enquadram na categoria genérica, com o nome Crémant de Bordeaux. Os vinhos de appellation genérica correspondem a aproximadamente 45% do total produzido na região. [5]

Deste modo, pelo rótulo, pela região e pela tradição, o consumidor, mesmo antes de degustar, tem indicações da qualidade do vinho que tem às mãos.


6. Elaboração
Para elaborar de um vinho, passa-se necessariamente pelos processos: maceração, fermentação, descanso e engarrafamento.
Destarte, o vinho que será degustado passou por todos estes processos e seguiu os critérios:
Maceração: foi aplicado o processo a frio, com vista a obter-se um frutado mais rico.
Registre-se que a maceração é o processo que ocorre durante a fermentação e resulta do contato das cascas e sólidos com o vinho, onde o álcool age como um solvente para extrair a cor, os taninos e o aroma das cascas.
Fermentação: a fermentação ocorreu em cubas de inox com temperatura controlada. Todo o processo, incluindo a maceração durou cerca de 30 dias.
Consiste a fermentação em processo bioquímico no qual as leveduras convertem o açúcar (glicose, frutose) em álcool e gás carbônico, ação que transforma suco de uva em vinho.
As leveduras são microorganismos vivos visíveis somente com o auxílio de microscópio; na presença de oxigênio, respiram e se multiplicam. Na ausência de oxigênio e na presença de açúcar, elas fermentam, e assim produzem gás carbônico e etanol.
Descanso: o vinho descansou em barricas de carvalho e em tanques inertes, sem movimento, antes do corte.
Engarrafamento: antes do engarrafamento, o vinho foi clarificado e filtrado cuidadosamente.
Ensinam-nos neste sentido os enólogos: Cristian Sasso, João Paulo Bassin, Júlio César Spillere Ronchi:

[...] Uma prática muito antiga, hoje é feita com requintes científicos. Envolve processos como filtração, centrifugação, refrigeração, troca iônica e aquecimento. Nesta etapa, o vinho é clarificado, grande parte dos produtos precipitáveis é extraída, e muitos íons metálicos, que tornam o vinho turvo, são retirados.

O vinho que tomamos é, geralmente, transparente à luz. Mas não é desta forma que ele sai dos barris de fermentação. Muitas proteínas e complexos metálicos o deixam turvo, opaco. Finalmente, o vinho passa por uma pasteurização, onde é aquecido subitamente até cerca de 80oC e então resfriado. Alem de acabar com as bactérias restantes, o método auxilia na precipitação das proteínas que por ventura estiverem no vinho.

A filtração é uma técnica de clarificação do vinho que consiste em passar o vinho turvo através de uma camada ou meio filtrante, com porosidade reduzida. Existem vários tipos de filtros para vinhos, todos eles baseados em adsorção ou tamisação. Nos vinhos turvos, com impurezas de grande dimensão, utilizam-se filtros pelo princípio de tamisação, como os filtros com camada de terra diatomácea ou kielseguhr depositada sobre um suporte poroso.

Para vinho quase limpo, que se pretende tornar límpido e brilhante, utiliza-se filtro com princípio de adsorção. Como exemplo desse tipo, o filtro de placa de celulose-amianto ou de celulose somente. Nesse tipo de filtro, existem placas esterilizantes que permitem reter os microrganismos (leveduras e bactérias).

A grande vantagem da filtração sobre a colagem é a de clarificar o vinho mais rapidamente e de forma mais segura. A filtração é superior à colagem do ponto de vista de se obter limpidez imediata, ao passo que a colagem é superior quanto à estabilidade da limpidez, pois permite a separação até de suspensões coloidais. A melhor técnica de clarificação de vinho é realizar uma colagem sucedida de uma filtração. [6]


7. Terroir
O termo terroir é de origem francesa, que deriva do latim (terratorium). Significa originalmente uma extensão limitada de terra caracterizada pelas suas aptidões agrícolas, particularmente à produção vitícola.
Usa-se também a expressão “Produtos de terroir”, para designar um produto próprio de uma área limitada, como exemplo o vinho que será degustado, “Um Bordeaux”, sendo assim, por si só ele indica as suas características essenciais.
Pode-se também entender como terroir o conjunto formado pelo: homem, uva, terra e clima, associados na elaboração do vinho.


8. Harmonização

O Château les Tuileries “Bordeaux” acompanha: carnes de porco, de aves e assados, massas leves.

Notas:
1. Texto utilizado pelo Confrade Arnaldo de Souza Ribeiro, como referência para fazer a exposição do vinho Château les Tuileries, que foi degustado durante a 65ª Reunião da Confraria dos Amigos do Vinho de Itaúna – CAVI, no dia 09/10/2010. Foram também apresentados: slides e dois vídeos da Região de Bordeaux.

2. Suserano: deriva do termo suserania, no feudalismo, era o conjunto de faculdades e competências de um suserano, isto é, o senhor feudal que tinha domínio sobre um feudo do qual dependiam outros feudos. O suserano dava pedaços de terras para os vassalos, pois estes o ajudavam.

3. ALBERT, Aguinaldo Záckia. Bordeuax, história e vinhos da mais prestigiosa região produra do mundo. Disponível em : < http://www.degustadoresemfronteiras.com.br/bordeauxparte1.html > Acesso em 09/10/2010.

4. Concours de Bordeaux – Vins d’ Aquitaine – 2007. Disponível em : < http://www.concours-de-bordeaux.com/IMG/pdf_medaille_argent2007.pdf > Acesso em 09/10/2010.

5. ALBERT, Aguinaldo Záckia. Bordeuax, história e vinhos da mais prestigiosa região produtora do mundo. Disponível em : < http://www.degustadoresemfronteiras.com.br/bordeauxparte1.html > Acesso em 09/10/2010.

SASSO, Cristian, BASSIM, João Paulo, RONCHI, Júlio César Spillere. Vinhos. Disponível em :
< http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/trabalhos_grad2004/vinho/pagina_final.htm > Acesso em 09/10/2010



Bibliografia

ALBERT, Aguinaldo Záckia. Bordeuax, história e vinhos da mais prestigiosa região produtora do mundo. Disponível em: < http://www.degustadoresemfronteiras.com.br/bordeauxparte1.html > Acesso em 09/10/2010.

CASTRES, Duc de. Histoire de France: des origines à 1970. Èditions Robert Laffont: Paris, 1971.

CELIO, Alzer; BRAGA, Danio. Tradição, conhecimento e prática dos vinhos. 6ª ed. José Olímpio Editora: Rio de Janeiro, 1989.

COBBOLD, David; DURAND-VIEL, Sébastien. Le vin et ses plaisirs. Ed. Librio: Paris, 2003.

Concours de Bordeaux – Vins d’ Aquitaine – 2007. Disponível em : < http://www.concours-de-bordeaux.com/IMG/pdf_medaille_argent2007.pdf > Acesso em 09/10/2010.

COPELLO, Marcelo. Vinhos e algo mais. Record:Rio de Janeiro, 2004.

CORDER, Roger. A dieta do vinho. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues. Sextante:Rio de Janeiro, 2008.

DARDEAU, Rogério. Vinhos: uma festa dos sentidos. Ed. Mauad:Rio de Janeiro, 2003.

GALVÃO, Saul. Guia de tintos e brancos. Codex: São Paulo, 2004.

OGRIZEK, Doré. Le monde a table. Ode: Paris, 1952.

SASSO, Cristian, BASSIM, João Paulo, RONCHI, Júlio César Spillere. Vinhos. Disponível em :
Acesso em 09/10/2010

SANTANA, José Maria. As AOC (Appelations Controlées) em discussão na França.
Disponível em < http://winexperts.terra.com.br/arquivos/reportagem07.html > Acesso em 23/11/03.

SIMS, Fiona. Guia del vino: una aproximación para principiantes. Traducción del inglés por Ana Maria Lloret. Parragón Books Ltd: New York,
2003.

Un peu d’histoire .
Disponível em < http://www.landiras.fr/src/Histoire.htm > Acesso em 02/09/03. O texto foi traduzido e acrescido notas de roda-pé por: RIBEIRO, Arnaldo de Souza.


Itaúna, (sábado) 09 de outubro de 2010.

* Arnaldo de Souza Ribeiro presidiu a Confraria dos Amigos do Vinho de Itaúna – CAVI, no período de 1º de maio de 2003 a 03 de julho de 2010. É Doutorando pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática de Ensino pela CEUCLAR – São José de Batatais – SP. Advogado e conferencista. Coordenador e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna UIT – Itaúna – MG. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP – Nova Iguaçu - RJ. Sócio efetivo da Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise – ABRAFP. E-mail: souzaribeiro@nwnet.com.br

FRITOS DE BACALHAU COM ARROZ DE FEIJÃO- CHEF ERNANI (FOTO)DO CONFESSIONÁRIO DO DITO


Fritos de Bacalhau com Arroz de Feijão

Para os fritos de bacalhau

 4 postas de bacalhau do lombo demolhado de véspera
 farinha q.b.
 sal e pimenta preta moída na altura
 ovos batidos.

Para o arroz de feijão

 2 chávenas (chá) de arroz
 200 g de feijão demolhado de véspera
 1 dl de azeite
 1 cebola descascada
 2 dentes de alho descascados e picados
 2 tomates sem pele e sem sementes e picados miudamente.

Comece por cozer o feijão em água (numa panela de pressão é mais rápido). Aqueça o azeite e junte-lhe a cebola, os dentes de alho e os tomates picados. Deixe apurar o refogado.

Adicione o feijão cozido e escorrido, e o arroz. Adicione água suficiente para a cozedura do arroz. Pode usar a água onde cozeu o feijão. Se quer o arroz de feijão caldoso, já sabe que deverá triplicar ou mesmo quadruplicar o volume de água em relação ao de arroz. Deixe levantar fervura.

Tempere a seu gosto (junte ainda salsa ou coentros picados). Deixe cozinhar, tapado, até que o arroz fique macio. Limpe o bacalhau de pele e espinhas e corte-o a seguir em pedaços. Seque-os bem. Passe-os por farinha, previamente temperada de sal e de pimenta preta, e, depois, por ovo batido. Frite em azeite quente. Escorra, sobre papel absorvente de cozinha.

Sirva decorados com salsa e rodelas de limão.

QUEM É O CHEF
Chef Ernâni Mafer é Gastrólogo graduado pela Faculdade Estácio de Sá, consultor, crítico de vinhos e Diretor Presidente do Confessionário do Dito. Qualificado em cozinha brasileira, francesa, italiana, asiática, planejamento de cardápios, nutrição, segurança alimentar, enologia, padaria, confeitaria, bares e bebidas. Participou de Roteiros Gastronômicos na França e Itália. Crítico de Vinhos - Participou de Roteiros em Vinícolas Chilenas nas regiões de: Aconcagua, Bio-Bio, Casablanca, Colchagua, Curicó, Elqui, Itata, Maipo, Malleco, Rapel e San Antonio; Participou de Roteiros em Vinícolas Argentinas nas regiões de: Mendonza, Catamarca, La Rioja, San Juan, La e Rio Negro.
http//:confessionáriododito.blogspt.com

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

HORA DERRADEIRA- FLÁVIO MARCUS DA SILVA (FOTO)






27 - Hora derradeira


Em uma crônica inspiradora, publicada em 2003, Padre Geraldo Gabriel de Bessa aborda um tema que a maioria das pessoas prefere evitar: a morte. Porém, suas palavras não nos conduzem a nada que normalmente a gente esperaria ler nos escritos de um pároco: vida eterna, salvação da alma, juízo final ou outras questões caras à doutrina católica. Seu texto aborda a morte a partir de uma perspectiva psicológica muito interessante. Começa mostrando como as pessoas sentem prazer em dar a notícia da morte de alguém em primeira mão: “É gozado ver a alegria nos olhos daqueles que gostam de antecipar a má notícia”. E isso não mudou de lá pra cá. A novidade é que, hoje, a rede social Twitter tem sido um canal interessante para a divulgação desse tipo de notícia, sobretudo das mortes repentinas de pessoas conhecidas na cidade, ou de gente famosa, em escala nacional:
“Acabou de morrer, em trágico acidente...”. Todos arregalam os olhos, surpresos, e clicam no link para ver se tem alguma foto interessante.
Logo depois de anunciada a morte, dependendo da importância do morto, reportagens especiais são elaboradas, homenagens são prestadas, inimigos se tornam amigos, falsos amigos continuam fingindo ser amigos e consolam a família enlutada, etc. Mesmo os pobres anônimos, quando morrem tragicamente, merecem uma foto e uma matéria nos jornais, talvez as únicas de toda a sua vida além-túmulo [na vida fora do túmulo, raramente um vivo pobre e anônimo tem esse privilégio: na maioria das vezes, é preciso morrer tragicamente ou cometer um crime para aparecer no jornal].
Ao que tudo indica, fotos e matérias desse tipo têm como objetivo atrair a atenção de leitores ávidos por desgraças alheias: notícias de acidentes e mortes muitas vezes aliviam suas angústias, reanimando-os para a vida.
Esse é um outro ponto interessante abordado pelo Padre Gabriel em sua crônica. Referindose aos velórios, ele afirma: “Parece que a gente vai lá para certificar que está vivo (...).
Ninguém quer ocupar o lugar do morto, ainda que ele seja famoso”.
Nem pensar!
Num velório ou numa matéria de jornal bem sangrenta está ali, mortinho da silva, alguém que eu não conheço, ou que, se conheço, pelo menos é OUTRA PESSOA, ou seja: NÃO SOU EU. Eu estou vivo. Ele está morto. Ainda não chegou a minha vez.
Numa passagem da novela “A morte de Ivan Ilitch” (1886), do escritor russo Leon Tolstoi, essa perspectiva também é adotada: “Além das elucubrações sobre possíveis transferências e mudanças de departamento, resultantes da morte de Ivan Ilitch, a simples idéia da morte de um companheiro tão próximo fazia surgir naqueles que ouviram a notícia aquele tipo de sentimento de alívio ao pensar que ‘foi ele quem morreu e não eu’”.
Em uma bela crônica de 1960, Rubem Braga incorpora um personagem que observa uma viúva na praia: “Se eu fosse casado, e morresse, talvez ficasse um pouco ressentido ao pensar que, alguns dias depois, um homem – um estranho, que mal conheço de vista, do café – estaria olhando o corpo de minha mulher na praia. Mesmo que olhasse sem impertinência, antes de maneira discreta, como que distraído. Mas eu não morri; e eu sou o outro homem. (...). Eu estou vivo, e isso me dá uma grande superioridade sobre ele [o morto]”.
Aqui, Rubem Braga se aproxima muito das pessoas que vão a velórios (da crônica de Padre Gabriel), e dos companheiros de Ivan Ilitch (da novela de Tolstoi). Ele pensa no morto com um sentimento de superioridade, simplesmente por estar vivo.
Para a maioria das pessoas, morrer não é bom. Tolstoi e Rubem Braga descrevem o morrer como algo extremamente desagradável para os que assistem à morte. E para quem está morrendo, a sensação parece ser de derrota, a maior de todas: não tem mais jeito, é o fim.
Tolstoi escreve, em “A morte de Ivan Ilitch”: “O horrível, terrível ato de sua morte, ele via, estava sendo reduzido por aqueles que o rodeavam ao nível de um acidente fortuito, desagradável e um pouco indecente (mais ou menos como se comportam com alguém que entra em uma sala de visitas cheirando mal)”. Rubem Braga, por sua vez, observando a viúva na praia com o filho, escreve: “Não, a viúva não está de luto, a viúva está brilhando de sol, está vestida de água e de luz. Respira fundo o vento do mar, tão diferente daquele ar triste do quarto fechado do doente, em que viveu meses. Vendo seu homem se finar; vendo o decair de sua glória de homem fortão de cara vermelha e de seu império de homem da mulher e pai do filho, vendo-o fraco e lamentável, impertinente e lamurioso como um menino, às vezes até ridículo, às vezes até nojento...”.
É. Realmente, morrer não deve ser bom. Mas há quem morra de repente, sem sofrer, sem nem se dar conta do fato. O morrer, nesses casos, acontece numa fração de segundo – “morreu na hora”, como dizem os jornalistas –; e para quem morre assim, o que deve importar é o além-túmulo [se e é que isso importa].
Para concluir esta crônica funesta, eu pergunto a quem conseguiu chegar até aqui: Será que para quem morreu faz alguma diferença se morreu jovem ou velho, se deixou viúva, filhos, pais, amigos e patrimônio? E para quem ficou? Eu não queria estar no lugar do morto. Mas onde está o morto? Por um acaso eu sei onde ele está para eu não querer estar no lugardele? Aquilo ali é só um corpo! Se eu estivesse lá, ONDE eu realmente estaria? Será que existe de fato essa superioridade dos vivos sobre os mortos? Não seria o contrário?
Referências:
BESSA, Geraldo Gabriel de. Padre. Morte de pessoa famosa. In: Sinfonia de Vozes. Itaúna: São
Lucas, 2003, pp. 74-5.
BRAGA, Rubem. Viúva na praia. In: Ai de ti, Copacabana. Editora do Autor – Rio de Janeiro,
1960, p. 129.
TOLSTOI, Leon. A morte de Ivan Ilitch. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 7.

QUEM É MARCUS FLÁVIO DA SILVA



Nascido em Pará de Minas- MG em 1975. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e doutorado pela Universidade federal de Minas Gerais (2002) com estágio (Doutorado- sanduíche/CAPES) na Universidade de Lisboa- Portugal (2002). Atualmente é Vice- diretor da Faculdade de Pará de Minas- FAPAM-(MG) onde já exerceu os cargos de Coordenador do Curso de História, coordenador do NUPE- Núcleo de Pesquisa, e foi professor nos cursos de História e Administração. Atualmente leciona nos cursos de Direito e Pedagogia. É autor do livro SUBSISTENCIA E PODER: a política do abastecimento alimentar nas Minas Setecentistas (Editora UFMG -2008) e de artigos publicados em periódicos e livros de História. Um de seus trabalhos foi publicado no livro HISTÓRIA DE MINAS GERAIS- As Minas Setecentistas (Editora Autentica 2007) obra vencedora do PREMIO JABUTI
2008 na categoria Ciências Humanas. Atualmente exerce também a função de Pesquisador Institucional da Faculdade de Pará de Minas junto ao Ministério da Educação, sendo responsável pelo acompanhamento dos processos e renovação de reconhecimento dos cursos de graduação da IES. Em 2009 foi eleito para a Academia de Letras de Pará de Minas.
www.nwm.com.br/fms

domingo, 15 de janeiro de 2012

VOCÊ SABE O QUE É PSICOPATOLOGIA?- LEIA: O TEXTO DO PROF.MS.ARNALDO DE SOUZA RIBEIRO






Congressos de Psicopatologia Fundamental em Curitiba [1]
* Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro
“Ce que j’entends, j’oublie; ce que je regarde, je me souviens et ce que je fais, j’apprends.”
Jean Willian Fritz Piaget. Epistemólogo, Educador e Psicólogo. Nasceu em Neuchâtel, Suíça, no dia 09/08/1896 e faleceu em Genebra, Suíça, no dia 16/09/1980.

1. Introdução 2. Participação internacional com destaque para os pesquisadores mexicanos 3. Pierre Fédida: o criador do termo Psicopatologia Fundamental 4. Psicopatologia Fundamental e Psicopatologia Geral 5. Jean Piaget e o conceito de transdiciplinaridade Conclusão Biografia

1. Introdução
Realizou-se nos dias quatro a sete de setembro de 2010, na cidade de Curitiba – Paraná - Brasil, o IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e o X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, promovidos e organizados pela Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental, com a participação de doze Universidades.
Participaram dos Congressos: escritores, pensadores, filósofos, historiadores, advogados, médicos, psicólogos e psicanalistas. Também participaram estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação - lato sensu e stricto sensu – que levaram suas monografias, dissertações e teses para apresentá-las e discuti-las com os participantes durante as mesas-redondas.
Durante os quatro dias de Congressos foram apresentadas 408 atividades, dentre elas: Conferências, Cursos, Simpósios, Mesas-redondas, Seminários Clínicos e exposição de vários Pôsteres. Em razão do grande número de participantes os Congressos foram simultaneamente realizados nos seguintes locais: Hotel Bourbon, Hotel Curitiba Palace, Hotel Trevi e Teatro Fernanda Montegro.

2. Participação internacional com destaque para os pesquisadores mexicanos
Participaram ativamente dos Congressos estudantes, profissionais e pesquisadores da América do Sul, da América do Norte e da Europa. Dentre eles destacaram os mexicanos, pela quantidade e qualidade dos trabalhos que apresentaram e debateram, destacando-se: Hugo Pedrosa Falcón, Mário Orozco Guzmán, da Universidad Autónoma de Querétano. Flor de Maria Gamboa Solis, David Pavón Cuellar, Alfredo Emilio Huerta Arellano, Alejandra Cantoral Pozo, da Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo. Antonia Reyes A-Dautrey, Maria Del Carmen Rojas Hernandéz, Antonia Reyes Arellano, Silvia Larisa Mèndez Martinez, Jeannet Quiroz Bautista, da Universidad Autonoma de San Luis de Potossi e a doutoranda Xochiquetzaly Yeruti De Avila Ramirez.

3. Pierre Fédida: o criador do termo Psicopatologia Fundamental
Pierre Fédida nasceu na cidade de Lyon - França, no dia 30 de outubro de 1934 e faleceu em Paris no dia 1º de novembro de 2002, com 68 anos. Seu pai era judeu sefardim [2], oriundo da Argélia e sua mãe francesa, nascida em Lyon. Pierre Fédida nasceu e cresceu em um lar modesto, porém estruturado e honrado.
Fez seus estudos em Lyon e exerceu com invulgar sabedoria o exercício do magistério, da filosofia, da psicologia e, sobretudo, da psicanálise. Seus livros, artigos e palestras exerceram acentuada influência no exercício da psicanálise na França e no mundo.
Registre-se que o exercício e o ensino da psicanálise no Brasil também sofreram influência direta do Doutor Pierre Fédida. Ademais, ele declarava de forma ostensiva sua simpatia pelo povo brasileiro e pela forma que os psicanalistas brasileiros exerciam a psicanálise. Em razão desta simpatia que era recíproca ele fez várias viagens ao Brasil e aqui participou de forma efetiva de: cursos, seminários, simpósios e palestras.
Outra influência do Doutor Pierre Fédida, no Brasil, deu-se através dos trabalhos e obras dos psicanalistas que fizeram sob sua orientação seus cursos de doutorado, na Universidade Paris VII - Denis Diderot.
Dentre as nobres virtudes do Doutor Pierre Fedida, destacava-se o elevado senso humanista, era um homem de espírito evoluído. Relatam seus amigos que ele sempre estivera atento e preocupado com o sofrimento humano.
No dia 1º de novembro de 2002, com 68 anos, o homem que colocou o seu talento e o seu trabalho a serviço da ciência, na busca da compreensão entre as correntes de pensamento e de lenitivos para minorar as dores daqueles que sofrem, despediu-se. Em outubro, dias antes de seu falecimento, fez sua última conferência na associação Espace Analytique, sob o título "As figuras da Pietá. O corpo da Virgem e o corpo de Cristo". Para o homem que estudou e respeitou as dores das pessoas, o título e o conteúdo de sua última conferência não poderiam ser mais oportunos e elucidativos.
Acredita-se que indiferente à sua crença, o homem que durante uma vida, abraçou, respeitou e acolheu os sofrimentos humanos e enveredou na busca de formas de minorá-los, por certo, no plano superior fora acolhido pelos braços da Pietá, sob os olhos e com as bênçãos do Supremo Criador, para externar-lhe gratidão e reconhecimento pelo que fizera em benefício da humanidade.

4. Psicopatologia Fundamental e Psicopatologia Geral
O termo Psicopatologia Fundamental, objeto dos Congressos realizados em Curitiba é de uso recente e pouco divulgado; ainda não alcançou a grande massa. Foi utilizado pela primeira vez em meados da década de oitenta, pelo Professor Doutor Pierre Fédida, com o propósito de distinguir o novo campo de pesquisa da Psicopatologia Geral de Karl Jaspers, no início do século XX.
Psicopatologia Fundamental, na acepção de Manoel Morgato Rezende:
O termo “Psicopatologia Fundamental” foi criado por Pierre Fédida, para distinguir o novo campo de pesquisa da Psicopatologia Geral, nomeada por Karl Jaspers, no início do século XX. A Psicopatologia Fundamental, segundo Berlinck (2004), dedica-se às manifestações existenciais e sua significação eminentemente consciente, ainda que nem toda a psicopatologia fenomenológica tenha se restringido a esse preceito. A Psicopatologia Fundamental, pretende ser um campo de investigação do sofrimento (pathos) psíquico, através de diferentes posições teórico-metodológicas. A complexidade do pathos não é compatível com tentativas reducionistas de qualquer abordagem. [3]
A Psicopatologia Geral nos ensinamentos de Mario Eduardo Costa Pereira:
No início do século XX, Karl Jaspers publicou Psicopatologia Geral visando descrever, de forma sistemática, as doenças mentais. Esse importante trabalho deu nome àquilo que muitos médicos faziam, principalmente na França, na Alemanha e na Inglaterra durante todo o século XIX e inaugurou uma rica tradição médica que se manifesta, até hoje, em Tratados de Psiquiatria e em Tratados de Psicopatologia Médica. Essa tradição, que muito contribui para a Psicopatologia Fundamental, está, entretanto, interessada na descrição a mais cuidadosa possível e na classificação das doenças mentais. [4]

5. Jean Piaget e o conceito de transdiciplinaridade
Jean William Fritz Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, no dia 9 de agosto de 1896 e faleceu em Genebra, Suíça, no dia 16 de setembro de 1980. Epistemólogo, foi considerado o maior expoente do estudo do desenvolvimento cognitivo. Estudou biologia, e posteriormente se dedicou à área de Psicologia, Epistemologia e Educação, escreveu mais de cinqüenta livros e diversas centenas de artigos, que influenciaram várias gerações e várias correntes de pensamento.
Jean Piaget utilizou o termo transdiciplinaridade pela primeira vez no I seminário Internacional sobre pluri e interdisciplinaridade, realizado na Universidade de Nice - França, também conhecido como “Seminário de Nice”, em 1970. A proposta de Piaget era estimular a reflexão acerca da interação otimizada entre as diversas disciplinas, sem que estas perdessem suas especificidades, quando asseverou: “...esta etapa deverá posteriormente ser sucedida por uma etapa superior: transdiciplinar”.
Ciente e de acordo com a premissa de Jean Piaget, no ano de 1993 o Doutor Pierre Fédida fundou o Centre d´Études du Vivant, que junto ao Forum Diderot, fundado por Dominique Lecourt, organizou grandes debates em que se reuniram notáveis pesquisadores para debaterem temas comuns à biologia, medicina, psiquiatria, filosofia e psicanálise.
Neste sentido ensina Mario Eduardo Costa Pereira:
A Psicopatologia Fundamental, não dispensando os saberes adquiridos nem pela Psicopatologia Geral, nem por outros saberes que contribuem para a compreensão do sofrimento psíquico - a filosofia, a psicologia, a psicanálise, a literatura, as artes, o jornalismo etc - não está tão interessada na descrição e classificação da doença mental como no que é vivido e expressado pelo paciente, pois baseia-se no pressuposto de que o pathos manifesta uma subjetividade que é capaz, através da narrativa, do relato, do discurso, da expressão em palavras, de transformar a paixão e o assujeitamento numa experiência servindo para a existência do próprio sujeito e, quem sabe, à medida que for compartilhada, para outros sujeitos. [5]
Psicopatologia Fundamental, segundo Paulo Roberto Cecarelli:
A preocupação central da Psicopatologia Fundamental é de contribuir para a redefinição do campo do psicopatológico, propondo uma reflexão crítica dos modelos existentes e uma discussão dos paradigmas que afetam nossos objetos de pesquisa, nossas teorias e práticas. Isso significa que a Psicopatologia Fundamental reconhece e dialoga com as outras leituras presentes na polis psicopatológica. [6]
Para aproximar o discurso entre a Psicopatologia Fundamental e as demais ciências, os organizadores dos Congressos convidaram o Professor e filósofo brasileiro Plínio W. Prado Junior, que leciona na Universidade Paris VIII, Vincennes à Saint-Denis – França, para palestrar sob o título “A arte de viver...à beira do abismo” a qual foi proferida de forma elucidativa e com brilhantismo. Durante sua fala o Professor Plínio citou e explicou o pensamento filosófico de várias gerações e suas escolas para que os congressistas pudessem ampliar suas reflexões e buscar novos caminhos.

Conclusão
O IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e o X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental foram fontes de pesquisa e aprendizado. A estrutura adotada pelos organizadores permitiu que os participantes revezassem nas condições de ouvintes e expositores e, deste modo, viram, ouviram e fizeram...
Na lição de Jean Piaget: “O que escuto, esqueço; o que vejo, lembro e o que faço, aprendo.”
Pela intensidade dos trabalhos e a forma em que os mesmos foram apresentados, os participantes muito escutaram, muito viram e muito fizeram, portanto, muito aprenderam.
Espera-se que o profícuo aprendizado, que fora adquirido nestes Congressos seja aprimorado, multiplicado e repassado, a exemplo do que fizera o Doutor Pierre Fédida, Sabendo-se que, os seus trabalhos e ensinamentos, ainda hoje, promovem inúmeros benefícios para a coletividade e servem de motivação para Congressos e novas pesquisas, cujos resultados transformam-se em lenitivos para amainar o sofrimento humano.

Notas
1. Disponível em: < http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/2531169 > Acesso em 01/10/2010.
2. Segundo o Dicionário Aurélio: Diz-se de, ou judeu descendente dos primeiros israelitas de Portugal e da Espanha, expulsos, respectivamente, em 1496 e 1492; sefaradita, sefardita.
3. REZENDE, Manuel Morgato. “Traumas” foi o tema de dois congressos de psicopatologia fundamental.
Disponível em: < http://www.metodista.br/ppc/mudancas/mudancas-12-2/201ctraumas201d-foi-o-tema-de-dois-congressos-de-psicopatologia-fundamental > Acesso em 07/09/2010
4. PEREIRA, Mário Eduardo Costa. O que psicopatologia fundamental? Disponível em : Acesso em 08/09/2010.
5. PEREIRA, Mário Eduardo Costa. O que é psicopatologia fundamental? Disponível em : Acesso em 08/09/2010.
6. CECARELLI, Paulo Roberto. A contribuição da psicopatologia fundamental para a saúde mental. Disponivel em : < Disponível em : < http://ceccarelli.psc.br/artigos/portugues/html/saudemental.htm > Acesso em 08/09/2010.

Bibliografia
CECARELLI, Paulo Roberto. A contribuição da psicopatologia fundamental para a saúde mental. Disponível em:
< http://ceccarelli.psc.br/artigos/portugues/html/saudemental.htm > Acesso em 08/09/2010.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática.
PEREIRA, Mário Eduardo Costa. O que é psicopatologia fundamental? Disponível em : Acesso em 08/09/2010.
PIERRE, Fedida. Dictionnaire de la psychanalyse. Paris: Librairie Larousse, 1974.

REZENDE, Manuel Morgato. “Traumas” foi o tema de dois congressos de psicopatologia fundamental.
Disponível em: < http://www.metodista.br/ppc/mudancas/mudancas-12-2/201ctraumas201d-foi-o-tema-de-dois-congressos-de-psicopatologia-fundamental > Acesso em 09/09/2010.
RIBEIRO, Arnaldo de Souza. Educação: compromisso de todos. In < http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1812077> Acesso em 12/09/10.
_______. Psicanálise e educação. Monografia. Nova Iguaçu - RJ: Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP, 2006. 60 F.
_______. Direito e psicanálise. Monografia. Nova Iguaçu - RJ: Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP, 2005. 151 F.
ROUDINESCO, Elisabeth. Mort de Pierre Fédida, grande figure de l’Université et de la psychanalyse. Disponível em: < http://www.siueerpp.org/spip.php?article13 > acesso em 15/09/2010.
Itaúna, (MG), 15 de setembro de 2010.
* Arnaldo de Souza Ribeiro é Doutorando pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática do Ensino pelo CEUCLAR – São José de Batatais – SP. Advogado e conferencista. Coordenador e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP – Nova Iguaçu - RJ. Sócio efetivo da Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise – ABRAFP. E-mail: arnaldodesouzaribeiro@hotmail.com

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O CONSTRUTOR DE PONTES- FERNANDO MARTINS FERREIRA

O CONSTRUTOR DE PONTES


Contou-me certa vez, o Vicente, um velho amigo da família, morador do Distrito de Torneiros, que por aqueles lados, na década de 40, viveram dois irmãos, que além do parentesco, eram grandes amigos. Cresceram e trabalharam sempre juntos, e quando foram se casar (com duas irmãs) dividiram a fazenda paterna em duas e cada um tocou o seu negócio. As fazendas eram divididas por um riacho que não os impedia de se encontrar todo o final de tarde, ou até mesmo durante o dia, pois estavam sempre auxiliando um ao outro nas tarefas diárias. Tornaram-se compadres duas vezes, pois um batizou o filho do outro.
Júlio e José (me permitam omitir os sobrenomes) eram mesmo inseparáveis. Mas eis, que os cães de José, na calada da noite, invadiram a propriedade de Júlio e mataram dois bezerros.
O que antes teria sido resolvido de maneira pacífica tomou enormes proporções.
Agrediram-se verbalmente e ficaram sem se falar para desgosto das famílias.
Às vésperas de uma viagem ao sul de Minas, para adquirir algumas novilhas, Júlio recebeu a visita de um homem alto, fala mansa, sorriso franco e de olhar límpido e penetrante.
Diz-se tratar de um carpinteiro e que andava em busca de trabalho.
Júlio agradeceu e ia dispensá-lo, quando num arroubo de raiva disse:
- “Tenho um serviço para você. Está vendo aquela casa do outro lado do riacho? É do meu irmão. Não quero nem, ao menos ver aquela casa! Ele é meu desafeto. No depósito tenho muita madeira. Faça uma cerca alta, pois quando voltar de viagem não quero ver nada do outro lado”.
Dito isso, na manhã bem cedo, Júlio partiu em busca das novilhas de boa cria. Após uma semana retornou à fazenda e qual não foi a sua surpresa. Ao invés de cerca, o carpinteiro maluco havia construído uma linda ponte ligando as duas propriedades.
Júlio exasperado correu para a ponte e foi pedir satisfação ao carpinteiro. Teria que derrubar aquela monstruosidade.
Enquanto corria para a ponte, viu do outro lado o irmão José, correndo de braços abertos, bradando:
- “Me desculpe irmão”! Chorava copiosamente.
Os dois se abraçaram no meio da ponte e refizeram a amizade. Júlio emocionado procurou o carpinteiro para pagar o trabalho executado e ofereceu-lhe que ficasse na fazenda. Teria outros trabalhos para ele. Porém o carpinteiro agradeceu e disse-lhe:
- “Não posso ficar, meu caro. Tenho ainda muitas pontes a construir” e nunca mais foi visto na região.
Antigamente subsistir bastava. Um pouco depois o homem além da subsistência passou também a aspirar a algum conforto e ao bem querer e afeto dos que lhe eram caros. Além naturalmente da preocupação com a sobrevivência própria e da família.
Hoje a vida virou um jogo desorganizado em que a busca desesperada transformou a todos em rivais e potenciais inimigos. Os valores cultivados por nossa civilização ocidental geraram uma sociedade altamente competitiva na qual o objetivo maior passou a ser a necessidade de ser melhor que o outro, de mostrar que se chegou lá aonde a maioria não chegou e nem chegará, no topo da pirâmide. Com isso vivemos angustiados com a necessidade doentia de mostrar aos outros que somos “bons” que vencemos na vida.
Vivemos às vezes em função do conceito e da opinião dos outros e não para nós mesmos. Na verdade todos nós corremos em busca da gloria ou poder, o modelo do sonho pode variar, mas a essência de todos os sonhos é a grandeza e o destaque em relação a media das pessoas.
Com isso nos esquecemos de construir pontes.
Esquecemos-nos também que o verdadeiro êxito não é realizar um grande empreendimento nem acumular riquezas.
Ser bem sucedido é viver plenamente de modo a ser senhor de si próprio. A base do verdadeiro êxito está na formação do caráter.



Livro editado em 2009-(esgotado)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A INDIGNAÇÃO DE DONA JACIARA- FLÁVIO MARCUS DA SILVA(FOTO)




26 - A indignação de Dona Jaciara


- No programa de hoje vamos conversar novamente com a líder do movimento “Somos chiques mesmo, e daí?”, D. Jaciara de Assunção Menezes Torres e Albuquerque.
Convidei-a para esta entrevista atendendo a um pedido do seu primo, o senador Aníbal Menezes Torres, que me ligou hoje pela manhã. A entrevistada desta noite seria D. Ana “do Zé Preto”, responsável pelo restaurante da criança do Bairro da Consolação, mas diante do pedido do nosso querido senador, eu tive que cancelar.
[Bruno sorri para a sua convidada]: - Boa noite, D. Jaciara. É uma honra tê-la novamente conosco para mais um bate-papo.
- Boa noite, Bruno. Eu sabia que você não ia negar um pedido do seu padrinho, que sempre te acolheu muito bem em Brasília, não é mesmo? [risos]. Mas antes de tratar do assunto que me trouxe aqui hoje, eu gostaria de agradecer publicamente ao meu grande amigo, Dr. Américo Torres [que é também meu primo em segundo grau e membro do movimento “Somos chiques...”], pelo atendimento dado a mamãe no hospital ontem à noite.
Normalmente, quando o problema parece grave, utilizamos um dos helicópteros da família e levamos mamãe até a capital. Mas ontem, como tudo indicava se tratar apenas de uma simples micose na virilha, eu liguei imediatamente para o Américo, que estava em seu horário de plantão no SUS. Na mesma hora ele se levantou da mesa [onde jogava baralho com outros médicos, na fazenda do seu irmão] e veio correndo para o hospital.
E me permita um desabafo, meu caro Bruno: quando chegou lá, o Dr. Américo tornou-se vítima de dez pacientes pobres, que aguardavam na fila do SUS, e que o acusaram de um monte de coisas absurdas, só porque ele não estava no hospital para atendê-los quando eles queriam e porque atendeu a mamãe primeiro. Veja bem: o SUS paga uma miséria para os médicos, que são obrigados a atender a qualquer um que chegar [um absurdo]. Mamãe, riquíssima, membro do movimento “Somos chiques...” e de clubes de altíssimo nível na cidade, irmã de deputados e senadores, não vai ser atendida primeiro?
Foi um horror! Queriam matar o coitado do Américo: as crianças pobres começaram a chorar e a gritar, as mães arrancaram seus chinelos e tamancos sujos de terra vermelha, enquanto os homens tiveram que ser contidos pelos enfermeiros para não cometerem uma loucura. A sorte foi que eu consegui falar com o capitão Nascimento [irmão da esposa de um sobrinho de papai], que interrompeu uma partida de truco com traficantes na periferia só para colocar fim ao motim do hospital. Tudo acabou bem: os amotinados foram recolhidos ao camburão e levados à delegacia. Que noite!
- Impressionante! Que absurdo... Mas, D. Jaciara, qual é o assunto que a senhora gostaria de discutir conosco esta noite?
- Pois bem. Estou aqui com uma crônica intitulada “Coluna Social Suburbana”, de autoria de um rapaz chamado Paulo Giardullo, que teve a OU-SA-DIA de sugerir, numa narrativa grotesca, a possibilidade de se publicar, em jornais, colunas sociais de pobres.
O exemplo que ele usa para ilustrar a sua coluna fictícia é de arrepiar os cabelos: uma festa na casa do “Seu João do Forno”, para comemorar a sua aposentadoria, depois de décadas trabalhando em uma siderúrgica.
Vou comentar algumas passagens do texto. Ouçam isto: “Os Pratos: foi servida uma deliciosa feijoada, com miúdos de porco e feijão preto legítimo, sendo contratada, com exclusividade, a Dona Janaíra, cozinheira do famoso ‘Bar do Sô Quim’ e sua equipe”.
Ora, desde quando uma feijoada de pobre possui a sofisticação e o requinte necessários para ser servida como prato em uma festa digna de coluna social? Só para citar alguns exemplos do que significa requinte e sofisticação, meus caros ouvintes, apresento-lhes algumas iguarias servidas durante uma festa que eu dei semana passada, no meu palacete, em comemoração à medalha “Abolição da República”, recebida das mãos do próprio presidente pelo meu irmão, Otávio, que é Promotor de Justiça aqui na cidade. Ouçam com atenção: Plateau de fruits de mer [para quem não sabe francês, eu traduzo: peixes,crustáceos e frutos do mar, de frescor absoluto, servidos em uma tábua de madeira nobre dourada com fios de ouro comestíveis], pizza contendo no recheio quatro tipos de caviar e lagosta, frozen yogurt de melão, chocolate feito com leite de camelo de Dubai, sorvete de caviar e de fígado de ganso, vodca polonesa envelhecida 25 anos... [Só para vocês terem uma ideia, as bebidas chegaram em carro-forte blindado].
Agora ouçam mais este trecho da crônica do tal Giardullo: [Quando eu li esta passagem na reunião de sábado do “Somos chiques mesmo, e daí?”, minha amiga Lúcia passou mal e teve que ser conduzida de helicóptero à capital]: “A Decoração e o Figurino: A casa foi lindamente decorada pelo cabeleireiro do bairro, o Jesuíno, com motivos lembrando o aço e no centro da sala, uma maquete da Siderúrgica onde Seu João trabalhou, feita pelo neto dele, o Zezinho, o qual foi o tempo todo acompanhado pela sua Baby Sister, na verdade sua priminha, a Aninha, que ganha alguns trocados para tomar conta dele, enquanto a sua mãe trabalha de doméstica”.
Tem cabimento uma coisa dessas? Dá para acreditar nisso? Uma mulher do meu nível, que tem na sua suíte uma banheira esculpida numa peça maciça de quartzo amazônico, avaliada em 2 milhões de reais; na sala de estar um piano-bar com paredes revestidas em couro de iguana de Galápagos [não preciso nem dizer como é que eu obtive a autorização para isso, não é mesmo?]; e nas unhas um esmalte feito de lascas de ouro, mantido em um recipiente de cristal com tampa cravejada de brilhantes, não pode se calar diante de uma sucessão de absurdos como essa!
E tem mais! Ouçam isto: “A filha mais nova do Seu João, a Adelaide, estava simplesmente magnífica em um modelito saia e blusa jeans, adquirido na Boutique da Silvinha, que fica ali na esquina. A mulher dele, Dona Efigênia, apareceu subitamente no Salão, digo, quintal, com um vestido legítimo do ateliê da Dona Tereza, a ‘Te Costureira’. Era um ‘tomara-quecaia’lilás, com babados dourados, realmente um luxo!” [D. Jaciara se abana com seu leque japonês]: - Estou simplesmente HOR-RO-RI-SA-DA com isso! E gostaria de deixar registrada aqui, meu caro Bruno e queridos ouvintes, a minha INDIGNAÇÃO diante da ousadia desse Paulo Giardullo, que não tem a mínima noção do que é ser chique neste nosso país.
Pará de Minas, 27 de novembro de 2010
P. S.: Com exceção do meu amigo Paulo Giardullo, todos os outros personagens desta crônica não existem.
São frutos apenas da minha imaginação.
Texto citado: GIARDULLO, Paulo. Coluna Social Suburbana. Pará de Minas: Jornal Diário, 23 de outubro
de 2002.


QUEM É MARCUS FLÁVIO DA SILVA



Nascido em Pará de Minas- MG em 1975. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e doutorado pela Universidade federal de Minas Gerais (2002) com estágio (Doutorado- sanduíche/CAPES) na Universidade de Lisboa- Portugal (2002). Atualmente é Vice- diretor da Faculdade de Pará de Minas- FAPAM-(MG) onde já exerceu os cargos de Coordenador do Curso de História, coordenador do NUPE- Núcleo de Pesquisa, e foi professor nos cursos de História e Administração. Atualmente leciona nos cursos de Direito e Pedagogia. É autor do livro SUBSISTENCIA E PODER: a política do abastecimento alimentar nas Minas Setecentistas (Editora UFMG -2008) e de artigos publicados em periódicos e livros de História. Um de seus trabalhos foi publicado no livro HISTÓRIA DE MINAS GERAIS- As Minas Setecentistas (Editora Autentica 2007) obra vencedora do PREMIO JABUTI
2008 na categoria Ciências Humanas. Atualmente exerce também a função de Pesquisador Institucional da Faculdade de Pará de Minas junto ao Ministério da Educação, sendo responsável pelo acompanhamento dos processos e renovação de reconhecimento dos cursos de graduação da IES. Em 2009 foi eleito para a Academia de Letras de Pará de Minas.
www.nwm.com.br/fms

domingo, 8 de janeiro de 2012

O MENOS É MAIS- ROSA HELAINE MOTA

O menos é mais

Com todo respeito e admiração que tenho pelas grandes conquistas da humanidade que vão das asas de Ícaro a Apolo 11, curvo-me diante da de Da Vinci.
Com toda sua licença Gioconda, mas a vez agora é das duas rodas. Primeiramente feita de material pesado chega ao século XXI com toda leveza e polivalência do carbono. Em uma pequena passagem pelo século passado inebriamos por caminhos irreverentes e vanguardistas nas rodas de Duchamp, o casamento perfeito: diversão e arte.
Dos caminhos inebriantes a distâncias abreviadas. A paradoxal China que quase uniu Xangai a Pequim em tempo record é a maior produtora de bicicletas no mundo e também uma das que mais acinzentam nosso planeta. E esquece da palavra que define o século XXI: sustentabilidade.
Oi, Fernando, a alma está ficando pequena porque aumentam as velocidades e abreviam os relacionamentos, os sentimentos são cibernéticos e não nos deixam raízes. Mares nunca dantes navegados, agora só os da banda larga e com isto estão nos robotizando.
Por mais que decantem toda essa velocidade prefiro as sincopadas pedaladas em uma bela manhã de domingo. Cabelo ao vento, sentir o abraço do sol e o melhor de tudo: encontros inusitados.
A única aceleração é a do coração quando invadido por uma enorme sensação de liberdade. E aí vai mais um pedido de licença poética a você, grande Cecília, que nos presenteou com esta metáfora maravilhosa sobre um dos sentimentos mais nobre que o homem tanto procura: a liberdade. “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.

Rosa Helaine Mota
*Rosa é Professora-Ciclista apaixonada- amiga e revisora de meus livros

sábado, 7 de janeiro de 2012

REFLEXOS DA CONFERENCIA DE ESTOCOLMO - PROF.MS.ARNALDO DE SOZA RIBEIRO(FOTO)






Reflexos da Conferência de Estocolmo

* Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro

Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca.
Provérbio popular

As pessoas que passarem pela Avenida Juscelino Kubitscheck, próximo ao Bairro Tropical, perceberão os trabalhos ali realizados e uma placa que os registram, com os seguintes dizeres:
“Nascente protegida pelo projeto Rio São João, com parceria da Empresa Usiminas” Usiminas, São João, SAAE e PMI.

Trata-se de uma importante e meritória obra, tendo em vista o objeto por ela tutelado: a água e ainda, pela participação conjunta da iniciativa privada, do poder público municipal e de uma das suas autarquias, com vistas à defesa deste bem escasso e imprescindível à sobrevivência digna da humanidade.
Foi a Conferência Mundial das Organizações das Nações Unidas, realizada entre os dias 5 a 16 de junho de 1972, em Estocolmo – Suíça, que abordou pela primeira vez a temática: “Homem e Meio Ambiente”.
Sabe-se que antes daquela Conferência, as questões relativas ao tema eram vistas com descrédito e, sobretudo, imputadas pelos críticos como preciosismo daqueles que as defendiam.
A partir daquela Conferência, um novo conceito se estabeleceu e propiciou a difusão da idéia que é dever do Estado conservar e melhorar o meio ambiente. Estabeleceu-se também o princípio: “todos têm direito a condições adequadas de vida e a um meio ambiente sadio, que deve ser preservado em benefício das gerações presentes e futuras.”
Diante deste novo dever do Estado e, sobretudo, da consciência de que os recursos naturais são limitados e nem todos são renováveis, envidou-se uma ostensiva campanha de conscientização da necessidade de preservá-los.
Escudados nestes princípios e na conscientização, os dirigentes e legisladores dos países mais avançados fizeram inserir em suas Legislações constitucionais e infraconstitucionais, artigos que tutelassem o meio ambiente.
Nos países da América do Sul e Central, 50% e 75%, respectivamente, tiveram suas constituições revistas a partir daquela Conferência e fizeram incorporar princípios de tutela ao meio ambiente.
No Brasil, a Constituição de 05 de outubro de 1988 pontificou no título VIII “Da Ordem Social” no capítulo “Do Meio Ambiente”, no caput do artigo 225:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Deste modo, os trabalhos realizados, a placa fixada e a parceria das instituições que os fizeram comprovam que acolheram os princípios da Conferência de Estocolmo e das Legislações vigentes, ou seja, a participação do poder público, da iniciativa privada e o envolvimento da comunidade na proteção e recuperação do meio ambiente. E o fizeram de forma pedagógica, quando cercaram a nascente, incentivaram o plantio de árvores próximo a ela, com a participação popular. Portanto, a consequência deste ato vai além da sobrevivência de uma nascente, para alcançar a consciência da coletividade.
Admite-se que este ato possa ser visto como uma “gota de água”, e que aos olhos dos derrotistas: nada alterará. Porém, aos olhos das pessoas conscientes e comprometidas será visto como mais uma “gota de água” que irá juntar-se às muitas outras que dão vida ao Rio São João, que um dia, não muito distante, foi caudaloso e piscoso. Este rio abastece 11 municípios mineiros, sendo eles: Itaguara, onde se encontra a sua nascente, Itatiaiuçu, Carmo do Cajuru, Itaúna, Mateus Leme, São Gonçalo do Pará, Igaratinga, Conceição do Pará, Pará de Minas, Onça do Pitangui e Pitangui.
Segundo informações veiculadas em sites e jornais a sua vazão média diminuiu em 60% em oito anos, de 12,5m3/s para 5,0 m3/s, sendo assim, qualquer “gota de água” que vier para somar, será bem vinda.
Espera-se ainda, que este trabalho, materializado na placa que o divulga, na cerca e nas árvores que tutelam a nascente, sirvam de motivação a outras instituições públicas e privadas a somarem suas forças na defesa do meio ambiente e na conscientização da coletividade, tendo em vista que: meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito e também, compromisso e dever de todos.

* Arnaldo de Souza Ribeiro é Doutorando pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática do Ensino pelo CEUCLAR – São José de Batatais – SP. Advogado e conferencista. Coordenador e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP. Sócio efetivo da Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise – ABRAFP. E-mail: souzaribeiro@nwnet.com.br

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O INIMIGO - FERNANDO MARTINS FERREIRA

O INIMIGO


O velho ratão, que vivia no bosque mandou o filhote em busca de comida, recomendou-lhe, porém que tomasse cuidado com o inimigo.
O ratinho, na primeira curva do caminho esbarrou de repente, com um galo; voltou correndo ao pé do pai, assustadíssimo, descreveu o inimigo como um bicho soberbo, de crista arrogante, vermelha e grandes esporas nos pés.
- Não é esse o nosso inimigo sentenciou o ratão.
E ordenou o filho que saísse outra vez.
O segundo encontro do ratinho foi com o peru, que o deixou meio tonto de pavor.
- Vi um demônio horrível, enorme e emproado. Tinha um olhar terrível pronto para matar.
Também não é esse o nosso inimigo. Tranqüilizou o pai, com docilidade.
O nosso inimigo caminha silencioso, de cabeça baixa, como uma criatura humilde, é macio, discreto, de aparência amável e deixa a expressão de ser inofensivo e muito bondoso.
Se encontrar com ele, toma cuidado! Fuja!
Fujamos, pois, desse perigoso inimigo de aparência amável, que se finge de solicito e prestativo e que, no entanto, só deseja a nossa ruína e perdição.

(Adaptação livre de um conto-mesmo nome-de Malba Tahan).
O LIVRO CONTANDO HISTÓRIAS...FOI EDITADO EM 2009 E SE ENCONTRA ESGOTADO

BACALHAU RECHEADO A MODA DE MONÇÃO- CHEF ERNANE(FOTO)








Bacalhau Recheado a Moda de Monção

 4 postas de bacalhau
 4 fatias de presunto
 2 tomates maduros mas firmes
 l pimento verde
 farinha q.b.
 azeite q.b.
 4 cebolas descascadas e cortadas em rodelas finas
 2,5 dl maionese

Demolhe o bacalhau (lombo) durante dois dias em água, substituindo a água por várias vezes, e um dia em leite. Escorra o bacalhau e seque-o. Abra ao meio cada uma das postas de bacalhau. Recheie com fatias de presunto de boa qualidade. Poderá, ainda, rechear cada posta de bacalhau com tomate fatiado, sem pele, nem sementes, e pimento, sem sementes, cortado em tiras.

Passe as postas de bacalhau recheado por farinha, sacudindo o excesso. Frite-as em azeite, virando-as a meio da fritura. Escorra-as sobre papel absorvente de cozinha. Coloque-as depois numa assadeira. Entretanto, refogue as rodelas de cebola num pouquinho de azeite. Deixe as cebolas ganharem boa cor. Deite a cebolada sobre as postas de bacalhau. Cubra-as com a maionese.

Leve a assadeira ao forno por uns quinze minutos ou até que a superfície fique dourada. Decore com pimentões vermelhos.


QUEM É O CHEF
Chef Ernâni Mafer é Gastrólogo graduado pela Faculdade Estácio de Sá, consultor, crítico de vinhos e Diretor Presidente do Confessionário do Dito. Qualificado em cozinha brasileira, francesa, italiana, asiática, planejamento de cardápios, nutrição, segurança alimentar, enologia, padaria, confeitaria, bares e bebidas. Participou de Roteiros Gastronômicos na França e Itália. Crítico de Vinhos - Participou de Roteiros em Vinícolas Chilenas nas regiões de: Aconcagua, Bio-Bio, Casablanca, Colchagua, Curicó, Elqui, Itata, Maipo, Malleco, Rapel e San Antonio; Participou de Roteiros em Vinícolas Argentinas nas regiões de: Mendonza, Catamarca, La Rioja, San Juan, La e Rio Negro.
http//:confessionáriododito.blogspt.com

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

COMADRE SECA- FLAVIO MARCUS DA SILVA(FOTO)





25 - Comadre seca


De três em três meses, os três irmãos gêmeos se reuniam na casa de um sobrinho, filho de um irmão mais velho deles, já falecido. Apolinário, Aparício e Aprígio tinham 85 anos. O sobrinho, Leandro, era um analista de sistemas de 33 anos, que morava sozinho e passava o dia inteiro no computador atualizando blogs e inventando games.
No dia marcado para receber os tios, o rapaz preparava o enorme tabuleiro na mesa de jantar, colocando as peças exatamente nos mesmos lugares que tinham ficado três meses antes, após a última partida. O jogo, inventado pelo sobrinho, chamava-se “Comadre seca”, e era, para os três velhos jogadores, o maior prazer de suas vidas.
Numa ponta do tabuleiro ficavam três peças representando cada um dos três jogadores. De cada peça partia um caminho quadriculado e retilíneo, com dezenas de casas, que ia até a outra ponta do tabuleiro. Ali, três outras peças eram posicionadas, cada uma em um caminho, na mesma linha da peça que ficava do outro lado. Elas representavam três “comadres secas”: três velhas enrugadas, vestidas de preto e segurando na mão direita uma enorme foice, pontuda e afiada.
Na verdade, as peças que andavam eram as comadres, e naquele dia, a comadre que estava à frente era a do Apolinário, seguida pela do Aprígio e, por último, pela do Aparício. A comadre que chegasse primeiro à peça representando o seu jogador dava a vitória a ele.
Mas como as comadres se movimentavam?
De três em três meses, na hora marcada para a partida, cada jogador levava à casa do sobrinho uma pasta contendo vários exames. Para não cansar o leitor, vou citar apenas alguns: Hemograma, Uréia, Creatinina, TSH, Glicemia, Colesterol, Triglicérides, Densitometria óssea, Teste Ergométrico, Ecocardiodoppler [Ultrassom do coração], Exame de Próstata, Ultrassom de abdômen, Medição Ambulatorial da Pressão Arterial, Urina, Fezes e muitos outros. De posse de todos os resultados, o sobrinho ia para o computador e cadastrava as centenas de números e dados qualitativos em um sistema desenvolvido por ele, onde cada jogador tinha a sua tela, com vários campos de preenchimento. Depois de processar os dados de cada irmão, o sistema estabelecia um número para cada um, que indicava quantas casas as comadres secas deveriam andar.
Na última partida, devido a um resultado bastante satisfatório na glicemia do Apolinário [sua glicose foi de 150 para 250], e também ao fato de terem sido detectados traços de sangue em suas fezes, sua comadre avançou três casas, enquanto a do Aprígio avançou duas e a do Aparício só uma. Aparício ficou muito chateado, pois ele tinha abandonado de vez a caminhada havia quatro meses, na esperança de que o seu colesterol atingisse níveis mais
altos, o que não aconteceu. Já o Aprígio havia contado com o aumento do prolapso em uma das valvulas do seu coração, anomalia que tinha um peso muito grande na contagem dos pontos, o que também não aconteceu – embora a sua urina estivesse numa situação bem favorável, com uma coloração turva e cheiro muito forte, o que acabou colocando a sua comadre em segundo lugar.
Nos três meses que Apolinário ficou na dianteira, os outros irmãos tiveram que satisfazer uma série de caprichos seus, conforme determinavam as regras do jogo: levar café na cama para ele todas as manhãs, ler para ele os contos de Edgar Allan Poe à noite, antes dele dormir [a sua visão não estava muito boa], esfregá-lo na banheira todas as tardes, preparar
sua comida seguindo um rigoroso cardápio, e muitos outros. Aprígio, que havia ficado em segundo lugar, pôde escolher quais caprichos atender, ficando o resto para o Aparício.
Para o que estava na dianteira, era uma maravilha. Mas mesmo para os outros dois irmãos, esse período de desvantagem temporária era divertido, pois eles sempre tinham novas estratégias para colocar em prática visando a melhorar seus resultados na próxima partida: fumar mais, exercitar menos, aumentar a dose diária de cachaça [ou trocar a cachaça de melhor qualidade por uma mais vagabunda], aumentar o consumo de doces e gorduras, escolhendo sempre os produtos mais calóricos, etc.
Naquele dia, os dados foram preenchidos num clima de muito suspense, poisum irmão não mostrava nem comentava seus exames com os outros, e a palidez, os olhos fundos e o leve tremor observado nas mãos do Aprígio pareciam indicar que o primeiro lugar seria dele.
Mas não foi o que aconteceu. A comadre seca de Apolinário avançou mais três casas e as dos outros dois somente uma. A glicose continuou pesando no destino do velho Apolinário, embora já não houvesse nenhum traço de sangue nas suas fezes. Mas surgiu uma novidade: o aumento da sua creatinina indicava algum problema grave nos rins. Apolinário sabia que este seria o seu trunfo, por isso entrou na casa do sobrinho com aquele ar superior e arrogante, como se cantasse vitória antes da hora. E não deu outra: mais uma vez seus caprichos teriam que ser atendidos pelos irmãos.
Naquela mesma noite, porém, Aparício teve um enfarte fulminante e morreu no banheiro, enquanto preparava um banho especial com sais aromáticos para o Apolinário. Dois dias depois, Aprígio perdeu o equilíbrio no quintal, enquanto estendia as cuecas de Apolinário no varal, e bateu a cabeça numa pedra, vindo a falecer alguns minutos depois.
Apolinário foi morar com o sobrinho, que cuidou muito bem dele por três anos.
Por que três anos? O velho morreu? Não. É que dois meses depois de Apolinário completar 88 anos, o sobrinho, que tinha 37, morreu atropelado na calçada por um motorista bêbado, deixando todos os seus bens para o tio, que viveu até os 98 anos, lúcido e feliz.
Na hora da partida, a comadre entrou, silenciosa e sorrateira, no quarto de Apolinário.
Quando o velho sentiu sua presença, lembrou-se de um belo poema de Mário Quintana e disse, sorrindo: “Ê comadre... a senhora sempre chega pontualmente na hora mais incerta...
Mas que importa, afinal? Entre... Estou pronto”.
E partiu.



QUEM É MARCUS FLÁVIO DA SILVA



Nascido em Pará de Minas- MG em 1975. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e doutorado pela Universidade federal de Minas Gerais (2002) com estágio (Doutorado- sanduíche/CAPES) na Universidade de Lisboa- Portugal (2002). Atualmente é Vice- diretor da Faculdade de Pará de Minas- FAPAM-(MG) onde já exerceu os cargos de Coordenador do Curso de História, coordenador do NUPE- Núcleo de Pesquisa, e foi professor nos cursos de História e Administração. Atualmente leciona nos cursos de Direito e Pedagogia. É autor do livro SUBSISTENCIA E PODER: a política do abastecimento alimentar nas Minas Setecentistas (Editora UFMG -2008) e de artigos publicados em periódicos e livros de História. Um de seus trabalhos foi publicado no livro HISTÓRIA DE MINAS GERAIS- As Minas Setecentistas (Editora Autentica 2007) obra vencedora do PREMIO JABUTI
2008 na categoria Ciências Humanas. Atualmente exerce também a função de Pesquisador Institucional da Faculdade de Pará de Minas junto ao Ministério da Educação, sendo responsável pelo acompanhamento dos processos e renovação de reconhecimento dos cursos de graduação da IES. Em 2009 foi eleito para a Academia de Letras de Pará de Minas.
www.nwm.com.br/fms