domingo, 30 de outubro de 2011

PITANGUI: SUAS HISTÓRIAS, SUAS HEROINAS E SEUS HERÓIS- PROF. ARNALDO DE SOUZA RIBEIRO

CONHEÇA PITANGUI E SUA BELÍSSIMA E RICA HISTÓRIA.


Pitangui: suas histórias, suas heroínas e seus heróis

* Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro

"A história é a biografia do ser humano."
Mariano José Pereira da Fonseca – Marquês de Maricá. Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de maio de 1773, onde faleceu no dia 16 de setembro de 1848. Escritor, filósofo e político brasileiro. Foi ministro da Fazenda, conselheiro de estado e senador do Império do Brasil, de 1826 a 1848.


1. Introdução

Por intermédio de nossa amiga comum, Dra. Ediene de Oliveira Campos, descendente da heroína D. Joaquina de Pompéu, no final de agosto soube que o historiador, pesquisador e escritor Fernando Martins Ferreira publicou um novo livro sob o título Reminiscências do Centro-Oeste Mineiro, onde registra a história de Pitangui e enaltece os heróis e as heroínas que por lá passaram e viveram.
Surpreso e agradecido, no início de setembro, recebi a mencionada obra acompanhada de uma elegante dedicatória enviada pelo autor.
Imediatamente observei a capa, analisei o índice e verifiquei os temas abordados nos vinte nove capítulos e a referência bibliográfica. Não tive dúvidas: estava diante de uma importante, oportuna e necessária obra.
Na apresentação do livro logo nas primeiras páginas, o autor de forma sutil, já deixou transparecer àqueles que ainda não o conhecem a sua sabedoria e a seriedade de seu trabalho quando assevera:
Devo advertir ao leitor que sou apenas um contador de “causos”, um aprendiz de escritor, e não sendo um historiador acadêmico, nem mesmo um grande pesquisador, não tenho compromisso com a exatidão dos fatos narrados. É claro que li, estudei, pesquisei, viajei muito, e contei com a ajuda de amigos, aos quais nunca me cansarei de agradecer, mas admito que é muitíssimo prazeroso ouvir e repetir as histórias contadas pelo povo. Sou fascinado por elas.

Ainda que pese a modéstia do autor e pesquisador, que se intitula contador de “causos”, nas cento e noventa e três páginas que compõem o livro, ele foi muito além de “causos”: fez um importante e detalhado estudo histórico deste singular ícone do centro-oeste mineiro, que é a cidade de Pitangui.
Na elaboração de seu livro registrou e apontou relevantes fatos de sua história e, sobretudo, ressuscitou heróis e heroínas. Advertiu aos leitores e pesquisadores de suas responsabilidades para perpetuar e divulgar estes fatos e o compromisso que se deve ter com esta grande heroína chamada Pitangui, tendo em vista que ela a tudo presenciou e hoje suas ruas e seus casarões são testemunhas oculares daqueles acontecimentos.
Dentre os pontos abordados e que foram marcantes para a região destacam-se: o Motim da Cachaça, a importância histórica de Pitangui, a passagem de Borba Gato, a vida e as influências exercidas pelo Padre Belchior, a vida das heroínas Dona Joaquina de Pompéu e Maria Tangará.

2. O motim da cachaça
A partir de 1700, com a descoberta do ouro em Minas e o declínio dos Engenhos no nordeste, a Coroa Portuguesa implantou a cobrança de um novo imposto a que denominou de Quinto Real, orçado em oito oitavas de ouro por bateia.
No ano de 1713, os cobradores deste imposto chegaram a Pitangui e trouxeram a conta: 6 arrobas de ouro.
Nesta mesma ocasião também autorizaram o aumento do preço da cachaça, gênero considerado de primeira necessidade para os mineradores. Diante destas duas extorsões, Domingos Rodrigues Prado, insufla a população a não efetuar o pagamento, cuja resistência deu inicio ao motim denominado pelo então Capitão Geral Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho de “Motim da Cachaça.”
Neste sentido ensina Fernando Martins Ferreira:
Ninguém paga! Foi a ordem de Domingos Rodrigues do Prado. Os cobradores do reino que ali estavam Jerônimo e Valentim Pedroso foram atacados pelo povo enfurecido e assim feriram o primeiro e mataram o segundo. Era a primeira sedição nativista que se levantara nas Minas do Ouro e na Colônia contra o Capitão General, Governador e El-Rei.

Diante desta primeira e inusitada resistência à Coroa, esta a princípio isenta os revoltosos do pagamento. Por alguns anos corroeram mágoas e prepararam a repreensão. No ano de 1719, outros cobradores são enviados, com o débito corrigido e atualizado o que alcançava um montante de 25 arrobas. Novamente entra em cena Domingos Rodrigo do Prado e seu sogro Bartolomeu Bueno da Silva e chefiam a sedição. No mês de fevereiro do mesmo ano matam a paulada Diogo da Costa da Fonseca, responsável pelo recebimento.
Àquele tempo era Governador Capitão-General Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos – o Conde de Assumar que, insatisfeito e ofendido com a sedição, mobiliza sua infantaria para combater os revoltosos de Pitangui. A infantaria por ele mobilizada alcançava um montante de 500 a 700 homens, enquanto os revoltosos contavam com aproximadamente 400 homens.
Neste encontro, travou-se sangrenta batalha, cujo palco se deu um pouco acima da foz do rio São João. Pela disparidade dos números entre os combatentes e os parcos recursos bélicos dos revoltosos, as tropas reais venceram o embate. Os revoltosos foram sumariamente julgados, executados e suas cabeças fixadas em postes para servir de exemplo.
Deste modo, Pitangui entrou para a história como palco da primeira sedição da Colônia e, por certo, inspirou várias outras até que se chegasse à Independência, em 1822, fortemente influenciada e apoiada por um de seus filhos do coração, o Padre Belchior.
3. A importância histórica de Pitangui
Para registrar a importância histórica de Pitangui bastaria o “Motim da Cachaça” e a divulgação das personalidades que por lá passaram e viveram, dentre eles: Domingos Rodrigues Prado, Borba Gato, Padre Belchior, Dona Joaquina de Pompéu e Maria Tangará. Importante acentuar que estas lendárias senhoras, no final do século XVIII e início do século XIX, anteciparam e mostraram a grande capacidade feminina, valores que vieram a se expressar e consolidar a partir da segunda metade do século XX.
Porém, com muita propriedade e justiça Fernando Martins Ferreira, autor do livro, que motivou a elaboração deste texto, declina também a importância de Pitangui pelas cidades que gerou e que aos poucos foram se emancipando, quais sejam: Abaeté, Araújos, Bambuí, Bom Despacho, Conceição do Pará, Córrego Dantas, Carmo do Cajurú, Divinópolis, Dores do Indaiá, Estrela do Indaiá, Lagoa da Prata, Leandro Ferreira, Luz, Igaratinga, Itaguara, Igarapé, Itapecirica, Itaúna, Juatuba, Maravilha, Martinho Campos, Mateus Leme, Moema, Morada Nova, Nova Serrana, Onça do Pitangui, Pará de Minas, Papagaios, Pedra do Indaiá, Pequi, Perdigão, Pompeu, Quatel Geral, Santo Antônio do Monte, São Gonçalo do Abaeté, São Gonçalo do Pará, São Gotardo, São Joaquim de Bicas, São José da Varginha, São Sebastião do Oeste e Tiro.
Assevera Fernando Martins Ferreira: Dizer que temos carinho por Pitangui é bom, mas é muito pouco, temos que fazer efetivamente algo mais para preservá-la e garantir aos pitanguienses uma boa fonte de renda advinda do turismo histórico, rural e ecológico.

4. Borba Gato e a guerra dos emboabas
Manoel de Borba Gato, filho de João Borba e Sebastiana Rodrigues, casado com Maria Leite, filha do bandeirante Fernão Dias Paes Leme, no ano de 1674 e 1681, acompanhou a Bandeira chefiada por Fernão Dias Paes Leme. Esta Bandeira, por determinação do então governador de São Paulo Afonso Furtado de Castro, veio procurar as jazidas de esmeraldas e prata, na região de Sabará.
No início do século XVIII, a descoberta do ouro em Minas Gerais, motivou a vinda de pessoas de diversas regiões do país e também da metrópole, o que resultou em vários conflitos armados em especial nos anos de 1707 e 1709.
Dentre os conflitos de maior expressão destaca-se a “Guerra dos Emboabas.” Sob a liderança do português Manuel Nunes Vieira, juntaram aventureiros das mais diversificadas partes do país, em especial da Bahia e de Pernambuco. Fortemente armados organizaram diversas expedições com o propósito de enfraquecer os paulistas nas regiões mineradoras.
Manoel de Borba Gato era o líder dos paulistas e dentre os ataques sofridos destaca-se o que ocorreu em Sabará.
Esta guerra teve o seu final com o lamentável acontecimento conhecido como “Capão da Traição”.
Com a derrota dos paulistas na batalha campal de Cachoeira de Campos, estes se renderam e foram anistiados com o compromisso de que deixariam a região aurífera de Minas Gerais. Os paulistas, no entanto, permaneceram albergados em um capão de mato que ficava no meio de uma campina banhada pelo rio das Mortes, próximo às atuais cidades de Tiradentes e São João Del Rei, região onde também se encontravam os portugueses, conhecidos também por emboabas.
De forma estratégica e ousada, os paulistas utilizaram índios cativos para atrair os emboabas em uma emboscada neste capão, plano que parcialmente deu certo. Com a morte de vários emboabas, estes recuaram, sob o comando de Bento do Amaral Coutinho.
Deste modo, novamente os paulistas ficaram sitiados neste capão, e certamente seriam vencidos pela sede e pela fome, o que os levaram a rendição, sob a promessa de que suas vidas seriam poupadas.
A promessa não foi cumprida e com a deposição das armas, o comandante emboaba Bento do Amaral Coutinho, ordenou que os 300 paulistas fossem executados, cuja atitude deu-lhe ingresso na história com o merecido e execrável título de traidor.
Acerca do destino dos paulistas e da presença de Borba Gato em Pitangui, ensina Fernando Martins Ferreira:
Ao fim da guerra, os bandeirantes buscaram outras jazidas nas regiões de Mato Grosso e Goiás. O povo de Pitangui tem como tradição oral contada de pai para filhos há séculos, que Borba Gato após a derrota imposta pelos emboabas teria se fixado por um tempo na cidade antes de embrenhar-se novamente pelos sertões. Não há nenhum documento que comprove a sua estada em Pitangui, mas o povo sabe e sua pretensa moradia se encontra de pé até a presente data. Segundo registros, Borba Gato morreu em 1718, aos 90 anos de idade quando exercia o cargo de juiz ordinário da Vila de Sabará e se encontra enterrado em Paraopeba – MG.

Cultuar a memória de Borba Gato, por extensão, implica no culto ao bandeirante Fernão Dias Paes Leme, que certamente passou pelas terras de Pitangui na busca de ouro e das sonhadas esmeraldas.

5. Padre Belchior Pinheiro de Oliveira

O Padre Belchior Pinheiro de Oliveira nasceu no dia 08 de dezembro de 1775, no Arraial do Tijuco, atual Diamantina.
Com a morte do vigário colado de Pitangui Pe. Dr. Domingos Soares Torres Brandão, Padre Belchior foi nomeado vigário colado de Pitangui através de Carta Régia assinada por Dom João VI, no dia 23 de agosto de 1813. Empossado em Mariana, no dia 04 de maio de 1814, concretizou essa posse em Pitangui, na Igreja Nossa Senhora da Penha no dia 18 de maio de 1814, onde permaneceu por 42 anos à frente do paroquiado.
Padre Belchior teve intensa e edificante vida pública e religiosa. Foi um dos mentores da Independência do Brasil; fez parte da comitiva que acompanhou D. Pedro I em sua visita a Santos, esteve presente e influenciou de forma efetiva o então Príncipe Regente a proclamar a Independência política do Brasil, no dia 07 de setembro de 1822, às margens do Riacho Ipiranga.
Foi deputado à constituição do império no ano de 1823, dissolvida por Dom Pedro I em razão das críticas e das limitações de poderes que os constituintes queriam impor-lhe. Mesmo sendo amigo do imperador, foi por ele exilado na Europa, por um período de sete anos. No ano de 1835 foi reeleito para novo mandato e reconduzido ao cargo no dia 03 de fevereiro de 1840, ocasião em que foi eleito Vice-Presidente da Casa com 22 votos.
Foi também vereador em Pitangui nos anos de 1832 e 1843, cidade onde faleceu no dia 12 de junho de 1856.

6. Joaquina de Pompeu
Joaquina Bernarda da Silva de Abreu e Silva Castelo Branco Souto Maior de Oliveira Campos nasceu em Mariana, no dia 20 de agosto de 1752. Filha do advogado português, Jorge de Abreu Castelo Branco e Jacinta Teresa da Silva. Ficou órfã de mãe aos 10 anos. Com a morte da esposa, Dr. Jorge retomou os estudos eclesiásticos que iniciara em Coimbra e se ordenou padre. Pelos trabalhos prestados como advogado em Mariana angariou afetos e desafetos, sendo certo que estes últimos, se fizeram com maior intensidade. Por esta razão no ano de 1762, transferiu-se com a família para Pitangui, vila já bastante conhecida e movimenta já naquele final do século XVIII. Alguns historiadores chegaram a afirmar que, àquele tempo, as cidades civilizadas de Minas Gerais, eram: Diamantina, Mariana, Ouro Preto, Pitangui, Sabará e São João Del Rei.
A então criança Joaquina, com apenas onze anos, em razão da educação obtida de sua falecida mãe, já se postava de forma determinada, coerente e independente. Relata a história que em plena festa de seu noivado, que ocorreria com o comerciante Manuel de Souza e Oliveira, ela fez sua opção pelo capitão Inácio de Oliveira Campos, de forma um tanto ousada e acintosa para os padrões da época, com as seguintes assertivas:
“Se é para beber a saúde do noivo, bebo a saúde do Capitão Inácio, meu escolhido”.

Mesmo contrário aos desejos de seu pai, em especial pelo constrangimento causado ao noivo então prometido, o casamento realizou-se no dia 20 de agosto de 1764, contava ela com 12 anos e o capitão Inácio com 30.
O primeiro domicilio do casal foi a Fazenda Lavapés e desde os primeiros dias aquela menina aristocrática se mostrou uma esposa trabalhadeira e disposta a enfrentar os trabalhos da fazenda.
Por volta de 1771, Inácio é designado para missões de apresamento de índios e negros fugidos nos sertões do oeste mineiro e recebe por isso, como recompensa, várias sesmarias que aumentam consideravelmente o patrimônio do casal. Com a ausência do marido a administração da Fazenda Lavapés ficou por conta exclusiva de Joaquina, que o fazia com singular competência e inteligência.
No ano de 1795, ocasião em que o casal já residia em Pompéu, Inácio ficou paralítico e Joaquina assume os negócios e o controle do latifúndio. Com a morte do marido nove anos depois, a grande proprietária, aos 52 anos, começa a construir de fato a sua fama e a sua fortuna.
Dentre os atributos mais confiáveis que a história lhe confere encontram-se: era uma viúva séria e nunca pensou em se casar novamente. Acreditava que era sua missão resguardar a memória de seu falecido marido. Comandava com punhos de ferro suas propriedades e os seus negócios, inclusive a educação de seus dez filhos. Dizem ainda que era detentora de grandes e indevassáveis pudores, não se mostrava nua nem para as escravas de confiança durante o banho. Que tratava e alimentava bem seus escravos. Que era católica fervorosa, caridosa com as causas da igreja católica e respeitada por todos, inclusive pelas autoridades, em especial por D. João VI e Dom Pedro I, ambos deviam-lhe impagáveis favores.
Dentre os expressivos favores: proveu a Família Real em 1808, de roupas e alimentos, e a participação indireta na Independência do Brasil, enviando bois para as tropas de Dom Pedro que combatiam contra aqueles que resistiam e contestavam a Independência na Bahia, no ano de 1823.
Joaquina de Pompéu, além do imenso patrimônio econômico deixou também uma numerosa descendência, conforme ensina o pesquisador Fernando Martins Ferreira:
Dessas uniões resultaram 87 netos, 333 bisnetos, 11.108 trinetos e 14.637 tetranetos. Sua descendência hoje é calculada em aproximadamente 40.000 pessoas. Dos seus descendentes, três já se tornaram presidentes do Brasil, quatro se tornaram governadores de Minas Gerais e vários participaram da vida pública nacional como senadores, ministros de Estado, deputados, prefeitos além de diversas autoridades eclesiásticas.


7. Maria Tangará
Maria Felisberta da Silva, filha de Miguel Gonçalves Palmeira e Dona Anna Teresa da Silva, conhecida por Maria Tangará.
O apelido Tangará conforme ensina Monsenhor Vicente Soares, em seu livro: A história de Pitangui: “sua mãe era uma índia por nome Tangará e daí o seu apelido herdado da mãe. Tangará também era o nome de uma dança indígena, além de ser o nome de um pássaro brasileiro cantor, de cores brilhantes.”
Maria Tangará também foi uma mulher rica e poderosa, porém a história procura imputar a ela somente as maldades eventualmente praticadas e, sobretudo crenças ligadas à magia.
Ensina Fernando Martins Ferreira:
São muitas as maldades atribuídas a ela e aqui vamos relatar algumas contadas pelo povo. Não desejo tomar para mim, as defesas de Maria Tangará, mas sabemos que ninguém nasce ruim ou mau. A maldade aprende-se no decorrer da vida. Não me acho competente para analisar o comportamento de um personagem tão complexo, mas me pergunto se não teria sido a jovem Joaquina Bernarda, a Dona Joaquina de Pompéu, a mola propulsora, o gatilho que fez despertar tanta maldade em Maria Tangará, explico melhor: o que se conta, é que o capitão-mor da Vila de Pitangui, Inácio de Oliveira Campos, filho de Inácio de Oliveira e Ana de Campos Martins, o homem que se casou com D. Joaquina era o namorado e prometido de Maria Tangará (à época com 16 anos) até o dia que Joaquina Bernarda se insinua para ele em plena comemoração de seu (dela) noivado.

Com a prudência e a saberia que lhes eram próprias, certa vez em conversa com o Dr. José Campos , saudoso amigo e companheiro de estudos, descendente de D. Joaquina de Pompéu, assim manifestou:
Desde criança ouço historias em diferentes direções envolvendo estas duas extraordinárias senhoras, também li livros e textos que as reverenciavam e que também apontavam seus defeitos. Em certa ocasião conversei demoradamente a este respeito com o meu colega, médico e historiador, Agripa Vasconcelos, autor de vários livros de histórias e dele obtive várias informações.
E o que verifiquei das histórias que ouvi e dos livros li, pode existir exagero daqueles que atribuem a Maria Tangará tanta maldade. É certo que a história é sempre contada de acordo com a visão dos historiadores e estes, nem sempre são isentos; na condição de médico e nos estudos de psicologia que fiz aprendi que o ser humano tem dificuldades para lidar com a isenção, a emoção é muito forte e exerce grandes influências.
Considere ainda que, no tempo em que elas viveram, para manter o poder e a disciplina o uso da força era essencial: naquele tempo respeitava-se mais pelo temor.
Por outro lado eram mulheres que trabalhavam, cuidavam de numerosa descendência e do marido. A locomoção entre Pompéu e Pitangui era difícil e demorada, principalmente no tempo das chuvas. Estou certo de que elas tinham poucas oportunidades para se encontrarem e menos ainda, para fofocas e provocações. E não se pode olvidar ambas viveram muito à frente de seu tempo, o que por certo despertou inveja e ciúme e, para o bem da verdade, se elas vivessem hoje, certamente teriam amigas e inimigas, pessoas que as elogiariam e que as criticariam.

Maria Tangará era casada com o Sargento-mor Ignácio Joaquim da Cunha e desta união teve nove filhos: Delfina, Ildefonso, Pulquéria, Gomes, Lino, Bazilio, Matildes, Porcina e Balbina. Faleceu em Pitangui no dia 20 de janeiro de 1837, no sobrado das Cavalhadas e foi enterrada dentro de Igreja Matriz com o hábito de São Francisco costume da época.
Heroínas ou não, o fato é que 200 anos depois seus nomes ainda motivam a discussão daqueles que as defendem e daqueles que as acusam, o que comprova a importância que representaram enquanto vivas.

11. Conclusão
A magnífica e oportuna obra do historiador, pesquisador e escritor Fernando Martins Ferreira que serviu de inspiração e pesquisa para elaborar este texto conduz o leitor através de suas 193 páginas por 316 anos de história, ou seja, da descoberta de Pitanqui até os dias atuais.
Com sabedoria e fidelidade ele conduz o leitor a diversificados e relevantes momentos históricos, apresenta os personagens marcantes de cada época e, sobretudo, conclama para que se tenha solidariedade e retribua a Pitangui um pouco do muito que ela fez por toda região do centro-oeste mineiro.
Humberto de Campos, grande escritor brasileiro, que viveu de 1886 a 1934, advertia que o Brasil é um País com poucos heróis e os poucos que tem, muitas vezes, a preocupação dos brasileiros ao contrário de enaltecê-los preferem detratá-los, negar-lhes os méritos e, pior, ignorar sua existência.
Ao contrário das tendências detratoras denunciada por Humberto de Campos, Fernando Martins Ferreira, de forma elegante e didática, ressuscita em sua obra fatos, heroínas e heróis, motiva que os conheçam e conclama para que sejam preservados e repassados para as gerações futuras.
Em razão da parcialidade daqueles que registraram os momentos históricos os eventuais conflitos sobre a existência ou não de um fato ou de um personagem são comuns e compreensíveis. Porém, na obra ora comentada uma personagem é real e ainda existe: Pitangui. Foi ela o palco dos acontecimentos relatados por Fernando Martins Ferreira, portanto, se dúvidas pairarem sobre a conduta ou a existência das heroínas ou heróis declinados, se eles por lá passaram ou lá viveram, é aceitável e até compreensível, faz parte da história. Porém, uma verdade é insofismável: a existência de Pitangui, que eventualmente os acolheram e ainda, gerou dezenas de cidades que hoje vigorosamente gravitam em seu entorno. Por esta razão, esta personagem merece a atenção e o respeito de todos na exata medida em que preleciona Fernando Martins Ferreira. E para reverenciar e manifestar o reconhecimento e a gratidão sugerida pelo autor recomenda-se colaborar na divulgação e manutenção de sua história e, sobretudo, na conservação e restauração de seu patrimônio histórico ainda existente, para que ele possa continuar testemunhando e apresentando às gerações presentes e futuras o endereço daqueles que fizeram a história do centro-oeste mineiro.
Para finalizar, quero agradecer ao escritor Fernando Martins Ferreira, por escrever esta magnífica obra e pela oportunidade de pronunciar estas breves palavras, às autoridades e ao povo pitaguiense e a todos os senhores aqui presentes.
Muito obrigado.
Um fraternal abraço, que Deus nos ilumine e nos proteja.
Itaúna, 28 de outubro de 2011.

Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro

12. Bibliografia
CAMPOS, Humberto de. Carvalho e Roseiras: figuras políticas e literárias. São Paulo: W. M. Jackson INC Editores, 1951. v. 20

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática Ltda.

FERREIRA, Fernando Martins. Reminiscências do Centro-Oeste Mineiro. Pará de Minas: Virtualbooks Editora e Livraria Ltda., 2010.

* Arnaldo de Souza Ribeiro É Doutorando pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática de Ensino pela CEUCLAR – São José de Batatais – SP. Advogado e conferencista. Coordenador e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna UIT – Itaúna – MG. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise - ESFLUP- Nova Iguaçu - RJ. E-mail: souzaribeiro@nwnet.com.br

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

POMBOS- FLAVIO MARCUS DA SILVA (FOTO)


15 - Pombos



Numa ensolarada tarde de sábado, quando voltavam de um passeio pelas mal cuidadas praças do bairro, o jovem professor e sua esposa viram dois pombos cinzentos se esfregando no telhado de sua nova residência, bem em cima da garagem. Naquele dia, o jovem casal não percebeu a dimensão hitchcockiana do problema que, nas semanas seguintes, eles teriam que enfrentar.
Dois pombinhos de namorico no telhado de uma casa. Que problema há nisso?
Concordo que pode até ser agradável receber de vez em quando a visita de uma dessas aves em casa, ou talvez até tê-la como hóspede definitivo em algum canto do telhado, onde ela pode fazer seu ninho e viver em paz com seus filhotes [algumas são até muito bonitas, com suas plumagens em tons variados de cinza, preto e verde]. Se fosse só isso [e para corrigir o exagero que eu cometi acima ao empregar a palavra “agradável”], eu diria que seria até SUPORTÁVEL. Mas quando o assunto é pombo, não há na sintaxe do discurso que lhe serve nenhum espaço para a palavra “poucos”. Não existe UM pombo em nenhum telhado do mundo. Se há pombos no seu ou em qualquer outro telhado, eles são muitos, dezenas, centenas, e se reproduzem como ratos, e comem e cagam e fedem como ratos.
Parece que isso nem sequer passou pela cabeça dos dois novos moradores do bairro, pois ao entrarem pelo portão e notarem os dois pombinhos num dos cantos do telhado, eles apenas sorriram um para o outro e entraram na casa, como se flutuassem no ar. Porém, quem tivesse testemunhado de perto aqueles sorrisos e soubesse ler o que se escondia por trás deles, certamente entenderia o motivo da pouca importância que os recém-chegados deram à presença ameaçadora de um casal de pombos em seu telhado – uma imagem que, para ambos, naquele momento, significou apenas o prenúncio do que eles próprios planejavam fazer na cama logo em seguida: dois pombinhos recém-casados, sem filhos e com menos de trinta anos, quando chegam em casa e têm como recepção dois outros pombinhos em plena Lua de Mel só podem pensar mesmo em se empoleirarem na cama e mandarem ver.
Por isso, não posso afirmar que o motivo deles não terem estranhado aquela presença alada no telhado [nem tampouco olhado um para o outro com aquele olhar característico de “problema à vista”] fosse a ignorância pura e simples. O mais provável é que, naquele momento, ambos tenham sido desviados da razão pelos hormônios do desejo, que, no início de qualquer casamento convencional, permitem até associações de imagens românticas [óbvias demais, temos que concordar], como aquelas: um casal de pombos namorando no telhado // um ninho de amor à espera de dois jovens apaixonados, encantados com o início do casamento.
Na tarde seguinte, porém, a associação de imagens foi outra [se é que podemos chamá-la de “associação de imagens”; talvez melhor seria “a percepção de uma semelhança macabra”, que significava, naquele momento, um aviso].
Mas, como eu ia dizendo, na tarde seguinte, o olhar do jovem professor foi outro – talvez por não estar numa veia romântica em pleno domingo, com três pacotes de provas para corrigir –, quando viu, ao entrar, sete pombos se acariciando ao redor da caixa d’água.
[Aqui cabe um parêntese para explicar que a caixa d’água em questão foi projetada por uma renomada arquiteta para ser um elemento de harmonia no conjunto da fachada da casa: uma combinação de curvas e retas que, no entanto, logo perdeu a simetria planejada para se tornar um mostruário de outras peças decorativas (estas inoportunas e invasoras), cujas características principais, como sabemos, são três: voarem, defecarem e federem].
Como eu dizia, naquele momento, ao ver sete ratos alados se esfregando ao redor da caixa d’água, o professor resgatou da sua memória cinematográfica a velha cena do filme “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock, em que Tippi Hedren observa, aterrorizada, um bando de corvos empoleirados no parquinho de uma velha escola americana.
Nenhuma outra cena seria mais apropriada. O prognóstico foi perfeito: a caixa d’água do professor se tornou, com o passar dos dias, o ponto de encontro de uma infinidade de pombos, de várias cores e tamanhos, que ali ficavam horas e horas, emporcalhando tudo ao redor. Saíam apenas para seus vôos regulares sobre o bairro ou para alguns passeios
estratégicos pelo telhado da casa, onde verificavam os melhores lugares para os seus ninhos.
E como é espantosa a capacidade reprodutiva desses bichinhos! Não preciso nem dizer que as laterais e cantos do telhado do professor se transformaram num verdadeiro pombal [ou melhor: numa verdadeira fábrica caseira de merda].
Nesta altura do texto é importante explicar que o jovem professor não sabia fazer nada que, fora dos planos afetivo e sexual, um marido de verdade deveria saber [pelo menos na opinião do senso comum]: consertar pia, desentupir privada, fazer o carro pegar no tranco, trocar lâmpadas fluorescentes [daquelas compridas] e, é claro, subir no telhado para exterminar pombos – com toda a crueldade de macho que o ato exigia, já que não bastava acabar com os pais, era preciso também aniquilar os filhos.
E é mais do que sabido que quando esses pseudo-maridos precisam pagar outro homem para fazer o serviço, eles adiam a decisão o máximo possível, talvez por vergonha ou por avareza [ou as duas coisas juntas], e o problema cresce [no caso dos pombos, de forma assustadoramente rápida].
Mas sejamos justos: o professor tentou pelo menos acabar com as orgias na caixa d’água, jogando traques e naftalina no telhado, o que no final das contas não adiantou grande coisa.
Espingarda de chumbinho? Proibido. Veneno? Proibido. O que resta, então, ao pobre professor? Conviver com os pombos? Enlouquecer? Se ele conseguisse ao menos não ter que se lembrar do filme do Hitchcock toda vez que entrasse pelo portão da garagem, já estaria satisfeito.
Mas eles estão sempre lá, principalmente à tarde, arrulhando, cagando, copulando, fedendo, enfim, vivendo suas vidas, mais ou menos como qualquer outro ser vivo...
Como qualquer um de nós... Ou quase.
www.nwm.com.br/fms

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

OS DOIS AMIGOS- FERNANDO MARTINS FERREIRA

OS DOIS AMIGOS


Chico Valente e João Carreiro eram amigos inseparáveis. Levavam a vida levando e trazendo gado de um lado a outro por esse mundão de meu Deus. A comitiva era grande e de muita responsabilidade.
Eles se faziam acompanhar sempre de seus ajudantes, co¬zinheiros e peões. Chegaram certa manhã às margens de um grande rio barrento e impetuoso, em cujo seio a morte esprei¬tava os mais afoitos e temerários.
Era preciso transpor a corrente ameaçadora. João carreiro atirou-se ao rio com o seu cavalo, mas esse falseando a pata atirou-o ao rio. Teria ali perecido, arrastado para o abismo se não fosse o Chico Valente. Este, sem um instante de hesitação, atirou-se à correnteza e, lutando furiosamente, conseguiu tra¬zer a salvo o companheiro de tantas jornadas. Todos ficaram felizes e impressionados com o destemor e audácia de Chico Valente.
João Carreiro, agradecido, chamou no mesmo instante o mais hábil peão da comitiva e ordenou-lhe que gravasse na face mais lisa de uma enorme pedra, que perto se erguia esta le¬genda: “Companheiro! Nesse lugar, durante uma jornada, Chico Valente salvou heroicamente seu amigo João Carreiro”.
Isso feito, prosseguiram viagem.
Alguns meses depois, de regresso, novamente se viram forçados a atravessar o mesmo rio, naquele mesmo lugar perigoso.
E, como se sentiram fadigados resolveram repousar algumas horas à sombra acolhedora de uma árvore.
Sentados, pois, na areia branca, puseram-se a conversar. Eis que por motivo fútil, surge de repente, grave desavença entre os dois companheiros.
Discutiram, discordaram.
Chico Valente, exaltado num ímpeto de raiva, esmurrou violentamente o amigo.
João Carreiro não revidou a ofensa. Ergueu-se e tomando tranquilamente um graveto, escreveu na areia branca: “Compa¬nheiro! Neste lugar, durante uma jornada Chico Valente, por motivo fútil, injuriou gravemente o seu amigo João Carreiro”.
Surpreendido com o estranho proceder de João Carreiro, um dos ajudantes, observou:
“Da primeira vez para exaltar a coragem de Chico Valente você mandou gravar para sempre na pedra o ato heróico e agora, que ele acaba de te ofender tão gravemente, você es¬creve na areia incerta, o ato de covardia! Não entendo”!
“A primeira legenda ficará para sempre, todos os que passarem por aqui terão notícia dela. Esta outra, porém, riscada na areia, antes do cair da tarde, terá desaparecido”.
É que o benefício que recebi de meu amigo permanecerá para sempre em meu coração, mas a injúria... Essa negra injúria... Escrevo-a na areia, com um voto para que, depressa, daqui se apague de minha lembrança! - respondeu João Carreiro.
Fica para nós a lição: Aprendamos a gravar na pedra os favores que recebemos os benefícios que nos fizeram as palavras de carinho, simpatia e estímulo que ouvimos.
Aprendamos, porém, a escrever na areia, as injúrias, as ingratidões, as perfídias e as ironias que nos ferirem pela estrada da vida.
Aprendamos a gravar assim na pedra; aprendamos assim a escrever na areia e seremos felizes.

(Adaptaçao livre do Conto mesmo nome-Livro: Seleções. De Malba Tahan)


Edição esgotada-

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

BACALHAU À MINHOTA- CHEF. ERNANE (FOTO)


Bacalhau à Minhota

 4 postas altas de bacalhau (já demolhado)
 colorau e pimenta
 óleo
 6 batatas
 4 cebolas
 8 dentes de alho
 1,5 dl de azeite
 azeitonas

Com um pano, enxugue muito bem as postas de bacalhau. Polvilhe-as com colorau e frite-as em óleo, previamente aquecido, sobre lume moderado. Volte-as com uma escumadeira e deixe alourar, de ambos os lados. Escorra sobre papel absorvente.

No mesmo óleo frite as batatas, descascados e cortadas em rodelas grossas. Escorra também sobre papel absorvente. Descasque as cebolas e os dentes de alho, corte-as em rodelas finas e leve ao lume com o azeite. Deixe cozer a cebola, até estar macia.

Coloque as postas de bacalhau e as batatas numa travessa de serviço e cubra com a cebolada. Enfeite com azeitonas e acompanhe com o esparregado, ou grelos salteados
http://confessionariododito.blogspot.com

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

VALORIZE O BRASIL.

Valorize o Brasil!




Escrito por uma brasileira que mora na Holanda.

"Os brasileiros acham que o mundo todo presta, menos o Brasil. E realmente parece que é um vicio falar mal do Brasil. Todo lugar tem seus pontos positivos e negativos, mas no exterior eles maximizam os positivos enquanto no Brasil se maximizam os negativos.

* Aqui na Holanda os resultados das eleicoes demoramhorrores porque nao ha nada automatizado. So existe uma companhia telefonica e (pasmem !) se vc ligar reclamando do servico, corre o risco de ter seu telefone temporariamente desconectado.

* Nos Estados Unidos e na Europa ninguem tem o habito de enrolar o sanduiche em um guardanapo - ou de lavar as maos -antes de comer.
Nas padarias, feiras e acougues europeus os atendentes recebem o dinheiro e com a mesma mao suja te entregam o pao ou a carne.

* Em Londres existe um lugar famosissimo que vende batatas fritas enroladas em folhas de jornal - e tem fila na porta.

* Na Europa nao-fumante é minoria. Se pedir mesa de nao-fumante o garcon ri na sua cara, porque nao existe. Fumam ate em elevador.

* Em Paris os garcons sao conhecidos por seu mau humor e grosseria e qualquer garcon de botequim no Brasil podia ir pra la dar aulas de "Como conquistar o cliente".

Vamos nos engajar neste movimento!
Você sabe como as grandes potências fazem para destruir
um povo?

Impõem suas crenças e cultura.
Se você parar para observar, em todo filme dos EUA a bandeira nacional aparece, e geralmente na hora em que estamos emotivos.
Temos uma língua que apesar de não se parecer quase nada com a língua portuguesa é chamada de língua portuguesa, enquanto que as empresas de software a chamam de português brasileiro, porque não conseguem se comunicar com os seus usuários brasileiros através da
língua portuguesa.
Somos vitimas de vários crimes contra nossa pátria, crenças, cultura, língua etc... Os brasileiros mais esclarecidos sabem que temos muitas razões para resgatar nossas raízes culturais.

Os dados são da Anthropos Consulting (do Prof. Marins):

1. O Brasil é o país que tem tido maior sucesso nocombate à AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis, e vem sendo exemplo mundial.

2. O Brasil é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto Genoma.

3. Numa pesquisa envolvendo 50 cidades de diversos países, a cidade do Rio de Janeiro foi considerada a mais solidária.

4. Nas eleições de 2000, o sistema do Tribunal RegionalEleitoral (TRE) estava informatizado e m todas as regiões do Brasil, com resultados em menos de 24 horas depois do início das apurações. O modelo chamou a atenção de uma das maiores potências mundiais: os Estados Unidos, onde a apuração dos votos teve que ser refeita várias vezes, atrasando o resultado e colocando em xeque a credibilidade do processo.

5. Mesmo sendo um país em desenvolvimento, os internautas brasileiros representam uma fatia de 40% do mercado na América Latina.

6. No Brasil temos 14 fábricas de veículos instaladas e outras 4 se instalando, enquanto alguns países vizinhos não possuem nenhuma.

7. Das crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos, 97,3% estão estudando.

8. O mercado de telefones celulares do Brasil é o segundo do mundo, com 650 mil novas habilitações a cada mês.

9. Na telefonia fixa, nosso país ocupa a quinta posição em número de linhas instaladas.

10. Das empresas brasileiras, 6.890 possuem certificado
de qualidade ISO 9000, maior número entre os países em desenvolvimento. No México são apenas 300 empresas e 265 na Argentina.

11. O Brasil é o segundo maior mercado de jatos e helicópteros executivos.


Por que temos esse vício de só falar mal do nosso Brasil?

1. Por que não nos orgulhamos em dizer que nosso mercado
editorial de livros é maior do que o da Itália, com mais de 50 mil títulos novos a cada ano?

2. Que temos o mais moderno sistema bancário do planeta?

3. Que nossas agências de publicidade ganham os melhores e maiores prêmios mundiais?

4. Por que não falamos que somos o país mais empreendedor do mundo e que mais de 70% dos brasileiros, pobres e ricos, dedicam
considerável parte de seu tempo em trabalhos voluntários?

5. Por que não dizemos que somos hoje a terceira maior democracia do mundo?

6. Que apesar de todas as mazelas, o Congresso está punindo seus próprios membros, o que raramente ocorre em outros países ditos civilizados?

7. Por que não nos lembramos que o povo brasileiro é um povo hospitaleiro, que se esforça para falar a língua dos turistas, gesticula e não mede esforços para atendê-los bem?

A seguir comentários de um doutorando da UFMG:
(Isso é pura verdade. Há duas semans tivemos aula com um professor francês, tentando falar espanhol, com sotaque francês. Ontem tivemos aula com uma professora inglesa falando inglês, e dane-se quem não entende. No ano passado tivemos 4 seminários internacionais com professores ingleses falando em inglês.
Embora fossem eles do primeiro mundo, não sabem sequer uma palavra em português, mas nós debatemos com eles EM INGLÊS(!) apesar de sermos do terceiro mundo)

8. Por que não nos orgulhamos de ser um povo que faz piada da própria desgraça e que enfrenta os desgostos sambando?

É! O Brasil é um país abençoado de fato.
Bendito este povo, que possui a magia de unir todas as raças, de todos os credos.
Bendito este povo, que sabe entender todos os sotaques, talvez porque sua verdadeira língua pátria não seja bem
entendida.
Bendito este povo, que oferece todos os tipos de
climas para contentar toda gente.
Bendita seja, querida pátria chamada Brasil !"

CEDAF: UMA ESCOLA DE VIDA. -FLÁVIO MARCUS DA SILVA(FOTO)









14 - CEDAF: uma escola de vida



CEDAF-UFV, Florestal-MG, fevereiro de 1990 [Semana de trotes]:
Em frente ao alojamento, um grupo de veteranos cortava os cabelos de alguns calouros recém-chegados que, tremendo de medo, aceitavam pacificamente a inexorável ação das tesouras. No chão, os tufos de pêlos formavam pequenos montes negros e dourados que o vento, com seu sopro preguiçoso e úmido, ia espalhando aos poucos pela areia branca do pátio central.
Esses calouros logo seriam batizados. Eram adolescentes ainda, com 14, 15 ou 16 anos. No batizado, receberiam um apelido, dado por seu padrinho, um veterano do 2º ou 3º ano que, embora não passasse de um fedelho trazendo ainda vivas na pele as marcas da puberdade, tratava o seu afilhado como se fosse propriedade sua, castigando-o por qualquer motivo [como, por exemplo, não conseguir pegar o sabonete com a bunda na hora do banho], mas também, sejamos justos, protegendo-o de outros veteranos, quando julgasse necessário.
Os apelidos dados pelos padrinhos tinham como objetivo ridicularizar e humilhar o calouro, que durante a semana de trotes era obrigado a trazer no pescoço uma placa de papelão com a sua identificação: apelido e padrinho. Na verdade, no batizado, o calouro recebia um NOME. Com uma arrogância digna dos mais altos escalões, os veteranos determinavam que, a partir daquele dia, o apelido do calouro passaria a ser “o nome feio que o seu pai e a sua mãe te deram”, diziam. O nome “verdadeiro”, nos três anos que ele moraria no alojamento e frequentaria as aulas no prédio principal, seria aquele dado pelo padrinho na ocasião do batizado.
[A seguir, compartilho com o leitor alguns nomes de calouros cedafianos que me chegaram agora, direto do túnel do tempo: Cóia, Garrote, Jiló, Kabaço, Kaganeira, Kuqueluche, Mulambo, Ku d’água, Nematóide, Roitoba, Paracú, Naftalina, Tribufú, Kuaresma, Dopado, Jegão, Mirraxa, Nucú, Piranhoso, Rolinha, Sgoto, Supositório, Xitara, Xupão, Biskate, Furreka, Buneka, Kunotoko, Kuteko, Menorréia, Xupeta, Korrimão, etc.].
No interior do alojamento, alguns calouros esfregavam os corredores com escovas de dente, repetindo em voz alta, sem parar, enquanto labutavam, sob a fiscalização severa dos veteranos: “Um ladrilhozinho bonitinho mais um ladrilhozinho bonitinho são dois ladrilhozinhos bonitinhos; dois ladrilhozinhos bonitinhos mais um ladrilhozinho bonitinho são três ladrilhozinhos bonitinhos...”. Outros calouros mediam a extensão de um corredor com palitos de fósforo; outros, no banheiro, eram obrigados a tomar banho frio e a gastar um sabonete inteiro, sem desligar o chuveiro [Só podiam sair quando o sabonete acabasse, determinação que, hoje, seria considerada um crime ambiental grave, mas que, na época, não passava de um enorme desperdício de dinheiro público]; enquanto isso, no mesmo banheiro, vários calouros, completamente nus, eram enfiados num único boxe, onde tinham que se banhar juntos [e coitado de quem deixasse o sabonete cair no chão: tinha que pegar, sem que ninguém arredasse o pé dali].
Nos quartos, as brincadeiras rolavam dia e noite. Uma das mais tradicionais era amarrar os testículos do calouro com um barbante apertado que, na outra ponta, era atado a um ferro de passar roupas, daqueles antigos, pesados. O calouro era colocado em cima de uma mesa, tinha os olhos vendados e era obrigado a segurar o ferro, enquanto os veteranos gritavam: “Solta o ferro, calouro, solta o ferro...”, até que, para desespero do calouro, alguém batia em suas mãos e o ferro caía [porém, sem arrancar-lhe as bolas, pois em meio à confusão, conforme o combinado, alguém, com muito cuidado, havia cortado o barbante].
Outra brincadeira [que talvez tenha sido inventada em 1991] era a “Máscara de Gás” [Na verdade, “máscara de gás” era como os veteranos chamavam o tênis com o chulé mais fedido e ardido do alojamento]. Estávamos em plena Guerra do Golfo e os bombardeios aconteciam todos os dias [lá longe, no Oriente Médio]. Quando um “avião inimigo” se aproximava, os veteranos gritavam para o calouro: “Alerta Vermelho, calouro, Alerta Vermelho... Coloque a máscara de gás”: e ele era obrigado a encaixar o tênis no nariz e na boca, de forma que o ar não entrasse, e respirar fundo, várias vezes, até o Alerta Vermelho passar [Alguns chegavam a passar mal, vomitavam, e eram levados à Enfermaria].
No refeitório, durante toda a semana, os calouros só comiam arroz e feijão, pois carne, doce de leite e outras iguarias fresquinhas, produzidas na própria escola, iam direto dos bandejões deles para os dos veteranos; simples assim: “Calouro, passa pra cá esse doce”; “Calouro, esse frango aí é meu; põe aqui”. E eles punham, é claro. Ai de quem não pusesse... E ai também de quem não fosse buscar suco para os veteranos ou de quem se recusasse a servir-lhes mais polenta ou salada e, às vezes, até a dar-lhes comida na boca, picar sua carne, palitar seus dentes e sentir seus arrotos.
Voltando do refeitório, a caminho do alojamento, os calouros eram frequentemente bombardeados com sacos de água gelada, que estouravam em seus pés ou, como era muito comum, em suas cabeças desavisadas. Estas, mesmo aturdidas, assim que recebiam o primeiro golpe, ordenavam às pernas bambas de medo que corressem o mais rápido que pudessem, o que, no entanto, não impedia o registro na memória daqueles jovens, para o resto da vida, das palavras que ecoavam como trovões das janelas do alojamento, enquanto as bombas caíam: “Calouro burro, volta aqui, desgraçado”.
Nesta semana de trotes, calouro não “batia o barro”, como se dizia. As fezes se acumulavam e endureciam nos intestinos, pois eram poucos aqueles que se arriscavam nos pequenos boxes sanitários semi-abertos, em frente aos chuveiros. O calouro que não aguentava, quase sempre era surpreendido por um veterano que, ao entrar no banheiro, gritava: “Quem tá aí?”, ‘Eu’, “Eu quem? É calouro?[Nesse ponto do diálogo, a musculatura anal do calouro já tinha trancado tudo lá embaixo. Não saía mais nada] “Quem é o seu padrinho?” ‘Jegão’, “Mas cê tá podre, heim calouro! Puta que o pariu... Sai daí agora, calouro... Se você não sair daí A-GO-RA, eu vou arrebentar essa porta e fazer você comer essa merda que cê tá fazendo aí dentro”. [A conversa era mais ou menos assim].
À noite, os veteranos [organizados numa espécie de grêmio] verificavam se faltava algum calouro nos quartos. Isso se justificava porque, em decorrência dos trotes, muitos calouros fugiam para os matos circunvizinhos, para poderem dormir em paz, escondidos, já que as “brincadeiras” dos veteranos não paravam nem de madrugada.
Para as buscas nos matos, os veteranos organizavam verdadeiras matilhas de calouros que, amarrados com cordas e coleiras, e de quatro, tinham que farejar, como cães, os fugitivos da sua espécie, até encontrá-los.
No dia seguinte, por volta de 5:30 da manhã, grupos de veteranos invadiam os quartos dos calouros, convocando-os para a ginástica matinal: uma enorme sequência de flexões, polichinelos e abdominais, que só os calouros faziam.
Depois do café, quando todos se dirigiam ao prédio principal para as aulas, os calouros normalmente acompanhavam seus padrinhos, como escravos, abanando-os com as mãos, ou impedindo, com um pedaço de papelão ou de madeira, que o sol queimasse seus rostos.
Às vezes um veterano se munia de dois calouros, que o carregavam e o depositavam, como um rei, na sua carteira. [Era muito comum ouvirmos os veteranos negociarem uns com os outros: “Me empresta esse calouro aí”; “Vamos trocar de calouro hoje? Tô precisando de um mais forte, para limpar o meu quarto e carregar os armários”.].
Eu poderia ficar aqui horas e horas escrevendo sobre as experiências que eu vivi na CEDAF em fevereiro de 1990, e acredito que um livro poderia ser escrito sobre o que aconteceu nos anos seguintes. Ali, eu e mais três colegas de Pará de Minas moramos três anos; e, em dezembro de 1992, recebemos das mãos de Patrus Ananias, nosso paraninfo, o diploma de Técnicos em Agropecuária – com muito trabalho, pois o curso não era nada fácil: tínhamos aulas de manhã e à tarde, e provas teóricas e práticas de arrancar os cabelos.
Foram anos incríveis que, mesmo com todas as humilhações sofridas na semana de trotes, ajudaram a fortalecer em mim valores que, hoje, eu quero transmitir aos meus filhos: humildade, generosidade, amizade e respeito ao próximo.
Dedico este texto aos meus amigos e companheiros de quarto na CEDAF-UFV, entre 1990 e 1992, Júlio César Vieira Leitão Gomes, Bráulio Abreu Campos e Ricardo Resende Barbosa.
Dedico-o também a todos os meus professores na CEDAF, em especial ao João Andrade Gonçalves, que me fez gostar de Matemática e que, com sua competência e humildade, mostrou-nos que não é preciso ser laureado com o título de Doutor para ser um grande mestre; e à querida Maria Luiza Leão, a famosa Tia Lu, brilhante professora de Português, que nos enfeitiçava com o seu carisma e nos enlaçava com a sua generosa amizade.
Faço também uma dedicatória especial ao saudoso professor Antônio Almada Lopes (1931-2006) – que lecionou na CEDAF por 29 anos –, meu conterrâneo e membro da Academia de Letras de Pará de Minas [da qual hoje eu também faço parte, com muito orgulho], que embora não tenha sido meu professor, era tido pelos seus ex-alunos como um ser humano excepcional e um excelente profissional.
Na foto acima, o Centro de Extensão da CEDAF – Central de Ensino e Desenvolvimento
Agrário de Florestal - UFV, hoje Universidade Federal de Viçosa – Campus Florestal.

WWW.NWM.COM.BR/FMS

domingo, 16 de outubro de 2011

BENÇÃO CELTA- AUTOR DESCONHECIDO

BENÇÃO CELTA


“Que o caminho venha ao teu encontro.
Que o vento sopre sempre às tuas costas,
e a chuva caia suave sobre o teu campo.
e até que voltemos a nos encontrar,
que Deus te sustente suavemente
na palma de Sua mão.
Que vivas todo o tempo que quiseres,
e que sempre vivas plenamente.
Lembra sempre de esquecer
as coisas que te entristeceram,
e não esqueça de se lembrar
das coisas que te alegraram.
Lembra sempre de esquecer os amigos
que se revelaram falsos,
mas nunca deixes de lembrar
daqueles que permaneceram fiéis.
Lembra sempre de esquecer
os problemas que já passaram,
mas não deixes de lembrar
das bençãos de cada dia.
Que o dia mais triste do teu futuro,
não seja pior que o mais feliz do teu passado.
Que o teto nunca caia sobre ti,
e que os amigos debaixo dele nunca partam.
Que sempre tenhas palavras cálidas
em um anoitecer frio,
uma lua cheia em uma noite escura,
e que um caminho se abra sempre à sua porta.
Que vivas cem anos,
com um ano extra para arrepender-te.
Que o Senhor te guarde em Suas mãos,
e não aperte muito Seus dedos.
Que teus vizinhos te respeitem,
que os problemas te abandonem,
os anjos te protejam,
e o céu te acolha.
E que a sorte das colinas celtas te abrace.
Que as bençãos de São Patrício te contemplem.
Que teus bolsos estejam pesados,
e o teu coração leve.
Que a boa sorte te persiga,
e a cada dia e cada noite
tenhas um muro contra o vento,
um teto para a chuva,
bebida junto ao fogo,
risadas que consolem aqueles a quem amas,
e que teu coração se preencha
com tudo o que desejas.
Que Deus esteja contigo e te abençoe,
que vejas os filhos dos teus filhos,
que o infortúnio te seja breve
e que te deixe cheio de bençãos.
Que não conheças nada além da felicidade
deste dia em diante.
Que Deus te conceda muitos anos de vida.
Com certeza Ele sabe
que a Terra não tem anjos suficientes.
E assim seja a cada ano, para sempre! “

Desconheço o autor, mas ele com certeza não se negaria em nos abençoar

sábado, 15 de outubro de 2011

LENDAS E MISTÉRIOS MUNDIALMENTE CONHECIDOS - FERNANDO MARTINS FERREIRA

LENDAS E MISTÉRIOS MUNDIALMENTE CONHECIDOS




Desenho de Fernanda Ferreira (2004)



Por milhares de anos, homens de diversas nacionalidades se aventuraram nos mares e oceanos e estes têm sido fontes de incontáveis lendas e mistérios.
Os gregos temiam a feiticeira Circe que atraia para a morte os marinheiros.
O Herói Ulisses, personagem épico da "Odisséia", de Homero topou com ela na Ilha de Eana e teve vinte e três de seus homens transformados em tigres, leões e lobos, não fero¬zes, e domados por ela.
Os vikings, povos que ocuparam a Península da Escandinávia desde a idade da pedra, eram exímios navegado¬res. Contribuíram enormemente na tecnologia marítima e na construção de cidades. Seus barcos eram famosos e conhecidos como Drakkaas (dragão) por apresentarem na proa a cabeça semelhante a de um dragão. Embora sejam mais conhecidos como um povo de terror e destruição, eles também fundaram povoados e fizeram o comércio pacificamente. Pois bem, esses valorosos homens que povoaram a Suécia, Noruega, Islândia e que alcançaram as terras da América do Norte através da Groenlândia, contavam histórias dos “kraken” que seriam monstros marinhos de 60 metros de comprimento com esca¬mas e olhos flamejantes.
Já na época dos grandes descobrimentos, os marinheiros temiam encontrar as sereias, metade humano, metade peixe, que com o seu doce canto, atraia os homens para o fundo do mar. A tripulação de Cristóvão Colombo quando avistou pela primeira vez o mar de sargaços no meio do Atlântico, temiam ser aprisionados pelas espessas algas de cores verde, amarela e marrom. Nos tempos atuais, o Triângulo das Bermudas ou Triângulo do Diabo como é comumente chamado, nos induz a pensar que algo misterioso e mortal ocorre ali. O Triângulo das Bermudas é a denominação de 3.900.000 quilômetros quadra¬dos no Oceano Atlântico, circundada pelo litoral sul da Virgínia, as Ilhas Bermudas, no Caribe e Ilhas Flórida.
Ao triângulo é creditado o desaparecimento misterioso de barcos e aviões. Autoridades militares e pesquisado¬res procuram explicações, pois pilotos de aviões sempre comu¬nicam alterações em giroscópios, avarias em rádio, tempesta¬des repentinas e estranhas que se formam e se dissipam com espantosa velocidade, desafiando os serviços de meteorologia da região. Estudiosos e místicos do mundo inteiro estudam tais fenômenos e uma centena de teorias tentam explicá-los.
Alguns dos fenômenos encontram-se sem explicações plausíveis e continuam a desafiar os estudiosos.


I – O BERGANTIM MARY CELESTE


No mês de novembro de 1872, o Veleiro “Dei Gratia” e o Bergantim Mary Celeste zarparam de Nova York.
O Mary Celeste com destino a Gênova na Itália levava a bordo um carregamento de mil e setecentos barris de álcool bruto. No Dei Gratia navegava o seu capitão Morehouse e sua tripulação e no Mary Celeste, seu capitão Benjamim Spooner Briggs, seu imediato Albert Richardson e mais uma tripulação de sete homens.
Acompanhava o capitão, sua mulher Sarah e sua filhinha de dois anos, Sophia.
No dia 04 de dezembro de 1872, a tripulação do Dei Gratia avistou o Mary Celeste à leste dos Açores, no Oceano Atlântico.
O navio oscilava para a direita e para a esquerda como se o timoneiro estivesse bêbado.
Perceberam que somente duas velas estavam içadas. As outras estavam furadas ou pendiam em farrapos.
Ao se aproximarem perceberam que não havia ninguém ao leme da embarcação e ao subirem a bordo constataram que o barco estava vazio.
A caixa da bússola encontrava-se totalmente destruída e a bússola propriamente dita quebrada.
Perceberam que um barco salva-vidas não estava a bordo e que a proa do Mary Celeste apresentava perfurações de 15 metros acima da linha d’água, o que não impedia a sua navega¬ção.
As provisões e a carga encontravam-se intactas.
Sobre a cama do capitão havia várias bonecas, como se uma criança que brincava ali foi levada às pressas, sem ter tempo de recolher os brinquedos. A máquina de costura da Sra. Briggs estava sobre a mesa. Nos beliches da tripulação tudo se encontrava arrumado, inclusive roupa lavada pendurada no varal.
Encontraram também na cozinha um vidro de xarope aberto, não entornado ao lado de pratos e ornamentos intac¬tos. Havia também comida preparada e não havia nenhum sinal de luta. O diário de bordo do capitão datava de nove dias antes e nada ajudava a desvendar o mistério.
O capitão do Dei Gratia ordenou então, que o Mary Celeste fosse levado a Gibraltar onde as autoridades britânicas abriram um inquérito público para investigar o caso.
O capitão e a tripulação do Dei Gratia foram exaustiva¬mente interrogados pelas severas autoridades britânicas, mas o fato é que o capitão do Mary Celeste, sua família e a tripulação jamais foram encontrados.
Várias hipóteses foram levantadas e estudadas.
- Motim? – Onde estaria a tripulação?
- Furacão? – Porque as velas estariam colocadas daquela maneira?
- Seqüestro / Pirataria? – O Bergantim é um barco esguio e veloz, portanto dificilmente seria alcançado, além do que a carga estava intacta.
- Insanidade? – Insanidade coletiva seria difícil.
Entretanto a questão que mais intrigou as autoridades foi a de como o Mary Celeste manteve o rumo sem a tripulação e durante 10 dias, percorrendo 500 milhas?
Quando o Dei Gratia alcançou o navio misterioso, Morehouse tinha as velas para bombordo mas o outro tinha-as a estibordo. Era inconcebível.
Que força misteriosa teria atuado ali?
Mais de 135 anos se passaram e o mistério permanece.
Acredita-se que o Mary Celeste foi atacado pela mesma força misteriosa que age no Triângulo das Bermudas.


II – SALTO NO TEMPO E ESPAÇO


No dia 04 de dezembro de 1970, Bruce Gernon Jr. tendo o pai como co-piloto decolou da Ilha de Andros, na paradisíaca Bahamas, em seu avião Beechaft Bonanza com destino a Palm Beach, na Flórida. Tempo de vôo previsto, 75 minutos. Céu de brigadeiro, mas repentinamente viu surgir à sua frente uma estranha nuvem em forma de charuto. Acelerou o avião na ten¬tativa de desviar, mas ela parecia ter vida e vinha rapidamente ao seu encontro parecendo querer envolvê-lo.
Já no meio da nuvem, observou que as paredes eram de um branco intenso e brilhante e pequenas nuvens brancas gira¬vam em sentido horário. Em meio a nuvem, vislumbrou um tú¬nel e o céu azul e claro do outro lado. Não titubeou, a saída teria que ser por ali. Mergulhou rápido pensando sair do outro lado. O avião pareceu-lhe mais veloz e extremamente leve.
Ao sair do túnel, entrou numa névoa verde esbranquiçada e não no céu azul que ele tinha visto anteriormente. Checou os equipamentos e se assustou pois a bússola girava no sentido anti-horário. O equipamento de navegação não funcionava e ele não conseguia estabelecer contato com as estações de radar da terra.
O rádio ficou mudo. Todo o controle do avião simples¬mente desapareceu.
Em meio à névoa esverdeada, Gernon respirou aliviado ao avistar uma ilha que supôs ser Bimini devido pouco tempo de vôo. Não, não era!
Era Miami Beach. Uma viagem de 75 minutos foi feita em 45 minutos e com gasto de dois galões de combustível a menos.
Gernon e seu pai sobreviveram ao Triângulo das Bermudas e puderam contar e registrar a história.



III – MISSÃO FATAL


No dia 05 de dezembro de 1945, cinco torpedeiros Avenger da Força Aérea Americana, decolaram da Base Aérea de Fort Lauderdele, na Flórida. O tempo estava claro e ensola¬rado e a rota de vôo seria Ilha das Bermudas – Porto Rico e re¬torno à Flórida.
As Ilhas Bermudas se localizam a apenas 1000 km da costa americana, mas lá está localizado o terrível Triângulo das Bermudas.
O instrutor e tenente Charles G. Taylor comandava os treze tripulantes do vôo 19 em exercício de treinamento. Às 15h40min horas o tenente Robert Cox que sobrevoava a região também em exercício, recebeu uma mensagem de Taylor que dizia que as duas bússolas de seu avião não funcionavam e ele não conseguia encontrar Fort Lauderdele.
Por 45 minutos Cox tentou determinar a posição de Taylor e guiá-lo para Fort Lauderdele.
Tentou orientá-lo até mesmo pelo sol, uma vez que o tempo estava claro, mas Taylor não conseguia encontrá-lo. Sua transmissão foi ficando cada vez mais fraca até sumir comple¬tamente e ele não retornou a base.
A Rádio de Port Everglad também estabeleceu contato com o vôo 19: “Vamos voar para oeste até alcançarmos a praia ou ficarmos sem combustível”, foi a última mensagem enviada por Taylor. A Força Aérea Americana, imediatamente colocou no ar um hidroavião Mariner com 13 tripulantes em busca do vôo 19 e o hidroavião após percorrer o mesmo trajeto, também sumiu misteriosamente.
Em menos de uma semana, a Força Aérea Americana rea¬lizou 930 vôos de busca sobre a área em busca do Avenger e do Mariner e absolutamente nada foi encontrado. Nenhum vestígio. Os estudiosos do ocultismo creditam às forças maléficas, o desaparecimento dos dois aviões.


IV – A LENDA DO HOLANDÊS VOADOR


Essa lenda atemorizou marinheiros do mundo inteiro por centenas de anos. A lenda sofreu variações, mas a base é a seguinte:
Mesmo contra a vontade de sua tripulação, o capitão Henrique Vonder Decken do Brig Holandês Vliende Hollander do início do século XIX, resolveu durante uma terrível tempes¬tade atravessar o Cabo da Boa Esperança.
O capitão num acesso de raiva lançou um desafio aos ven¬tos que lhe dificultava a travessia, dizendo que preferia enfren¬tar a tempestade até o juízo final, a desistir de fazer aquela tra¬vessia e levar o seu barco ao porto.
Reza a lenda que o diabo lhe fez a vontade, condenando-o e sua tripulação a percorrer os mares para sempre sem ancorar em porto algum.
Os marinheiros do mundo inteiro temiam encontrar o satânico navio, pois se dizia que traria má sorte e era prenúncio de desastre uma vez que fora amaldiçoado pelo diabo. E assim em cada porto do mundo contava-se uma história do Holandês Voador, como passou a ser chamado.
Em 11 de junho de 1881, o Hms Inconstant da marinha real inglesa, navegava em mar calmo entre Melbourne e Sidney na Austrália, pouco antes do amanhecer. A bordo encontrava-se o príncipe George posteriormente Rei George V da Inglaterra e seu irmão, o príncipe Albert Victor.
De repente, o vigia do castelo de proa anunciou a chegada de um barco a bombordo.
Todos os oficiais e tripulantes num total de treze aproxi¬maram-se da amurada para ver o navio que se aproximava. De bordo emanava uma estranha luminosidade avermelhada. Seus mastros e velas sobressaiam nitidamente. Não havia ninguém a bordo. Pouco tempo depois o barco desapareceu sem deixar vestígio, ali, bem na frente deles.
O fato foi registrado nos diários de bordo dos dois membros da família real, bem como no do almirante do navio.
Registraram também que naquela mesma manhã o vigia caiu da trave do mastro principal e se “despedaçou” no convés. Os dois membros da família real registraram também que ao chegarem ao porto, o almirante foi acometido de uma doença fatal.
A tão propagada maldição do Holandês Voador se fez presente.





V – CUZCO


Os Incas eram uma poderosa civilização da América do Sul.
As tribos Quíchuas, Aimara e Junca formavam um grande império tendo Cuzco (Peru) como capital. Chegaram os espanhóis tendo a sua frente os sanguinários Francisco Pizarro e Diogo de Almagro.
Em 16 de novembro de 1532, Pizarro solicitou uma entre¬vista com Atahualpa que era o senhor absoluto de Cuzco.
Atahualpa compareceu ao encontro na praça principal de Cajamarca acompanhado de 4000 pessoas totalmente desar¬madas. Após recusar-se a adotar a religião católica e reconhecer a soberania de Carlos V, os Inca foram traiçoeiramente atacados pela artilharia espanhola e Atahualpa preso e condenado à morte. O império Inca foi dizimado, os tesouros pilhados e as¬sim uma grande cultura foi aniquilada.
A maioria dos edifícios foi arrasada pelos Clérigos Católicos com o duplo objetivo de destruir a civilização Inca e construir com pedras e tijolos igrejas cristãs e demais edifícios administrativos, dessa forma impondo sua pretensa superiori¬dade européia. O local da carnificina é tido até hoje como lugar sombrio de grande fonte de energia “pesada”. Dizem os estudi¬osos, místicos e sensitivos que até hoje no local é possível sentir as fortes vibrações macabras da carnificina e que espectros são avistados.

Quanto a você, caro leitor, não sei o que pensará sobre estes casos, quanto a mim, reconheço minha pequenez frente aos diversos mistérios do universo. Sou daqueles que acreditam na citação de William Sheakspeare, em Hamlet: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que crê nossa vã filosofia”!







EDIÇAO ESGOTADA-

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PREFEITURA DE PITANGUI CONVIDANDO PARA LANÇAMENTO DO REMINISCENCIAS-

Prefeitura convida para lançamento de livro
Escrito por Giovanni M Pereira
Qui, 13 de Outubro de 2011 16:24


A prefeitura de Pitangui convida para o lançamento do livro Reminiscências do Centro-Oeste Mineiro, do escritor paraminense Fernando Martins Ferreira.




O livro

O livro aborda o período do Brasil colônia, especificamente do Centro-Oeste de Minas Gerais, com informações sobre a descoberta e exploração do ouro, as revoltas sangrentas do povo de Pitangui contra os reinóis, entre outros temas.


O autor


Fernando Martins Ferreira é natural de Pará de Minas. Aposentado e com formação em exatas, dedica-se a ler e escrever e, como bom mineiro, adora ouvir e contar “causos”.


Convite
Lançamento do livro Reminiscências do Centro-oeste Mineiro


Autor: Fernando Martins Ferreira


Data: 29/10/2011


Local: Centro Vocacional Tecnológico (CVT) Irene Lopes Cançado Rocha - Rua Lacerdino Rocha s/n (ao lado da rodoviária)


Horário: 9 às 11h


O evento tem o apoio da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Patrimônio Histórico.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

MENDIGOS DA ALMA - FLAVIO MARCUS DA SILVA(FOTO)







13 - Mendigos da alma


Ultimamente tenho refletido muito sobre Espiritualidade, essa dimensão da vida que nos liga ao transcendente, àquilo que está além da ordem material, levando-nos, muitas vezes, a questionar nossos próprios comportamentos e convicções. Minha reflexão, no entanto, encontra-se ainda em fase inicial, carecendo do auxílio de pessoas mais versadas do que eu nessa matéria e de novas leituras, o que, acredito, poderá amadurecer em mim essa vontade que eu sinto de buscar o que realmente importa na vida: o aperfeiçoamento espiritual através do amor, da caridade, da humildade, da generosidade e do trabalho honesto e solidário.
No mundo de hoje, somos constantemente bombardeados com imagens e propagandas que apelam para aquilo que há de mais egoísta em nós, sobretudo a necessidade de estarmos sempre em destaque, seja pelo dinheiro, pelo poder ou pelo sucesso profissional.
No entanto, em minhas leituras, tenho aprendido que, para Jesus Cristo, no Reino de Deus não existe espaço para o orgulho, para os que exaltam a si próprios; e que, segundo seus ensinamentos, devemos amar o próximo sem distinção de raça, credo, nacionalidade ou qualquer outra, pois todos somos irmãos e filhos do mesmo Pai.
É triste perceber o quão distantes estão esses ensinamentos da vida que levamos nos dias de hoje. Já me irritei várias vezes com pessoas que se julgam importantes demais e que ficam o tempo todo se vangloriando disto e daquilo, apontando os erros e defeitos dos outros, para diminuí-los, enquanto se colocam como donos da razão. Mas depois, ao refletir sobre mim mesmo, percebi que a irritação que eu sentia diante do egocentrismo alheio era uma reação do meu próprio ego, que queria que EU me destacasse e tivesse razão, não o outro.
Reconhecer isso, a meu ver, já foi um grande avanço, mas eu sentia que era preciso mais: era preciso superar de vez essas “paixões violentas por coisa nenhuma”, como dizia Fernando Pessoa.
Superar de vez essa vontade de me destacar e ter razão eu ainda não consegui, mas um avanço muito significativo a caminho dessa superação eu dei quando olhei nos olhos de uma pessoa [que se julgava muito importante] e vi neles o brilho opaco que um espírito ainda muito apegado a títulos, reconhecimento público e dinheiro deixa escapar.
Isso aconteceu quando me vi enredado numa trama tecida ardilosamente por essa pessoa, que queria, de todo jeito, colocar-se numa posição de superioridade incontestável frente aos outros. Ao cair na sua rede, percebi que argumentar não adiantaria nada. Lutar contra sua vasta experiência na arte da enganação seria uma batalha perdida: como se um único soldado [maltrapilho e desarmado] se lançasse contra o exército inimigo em campo aberto, vislumbrando a morte de frente, sem medo, mas consciente da derrota. No entanto, foi justamente a aceitação da minha derrota que me deu a vitória... Não sobre a pessoa em questão, que manteve a sua posição de superioridade, mas sobre mim mesmo. Ao olhar nos olhos daquele general vitorioso e perceber neles o prazer que aquele momento lhe proporcionava, senti, ao invés de medo ou nojo, uma sensação de paz espiritual muito grande [embora depois eu tivesse que desabafar em lágrimas os resíduos de indignação que me haviam restado daquele ridículo episódio]. Lembro-me que, espiritualmente, senti-me alçado a um patamar mais elevado que o do general, que, no entanto, para si próprio, estava muito acima de mim.
Hoje, depois de algumas leituras muito enriquecedoras, entendo que a minha sensação de elevação naquele momento pode ser facilmente explicada pelos sábios ensinamentos de Cristo [abraçados também pelo Espiritismo], que nos revelam o seguinte: o trabalho, a vitória e o sucesso no plano material e corpóreo não têm os mesmos significados no plano espiritual. Aquela paz que eu senti naquele momento talvez tenha sido o prenúncio do que em breve eu descobriria com as minhas leituras. Foi o início da minha vitória sobre a angústia da necessidade de aprovação e de reconhecimento por parte dos outros. Foi como se do meu inconsciente viesse a mensagem: “Não ligue para isso. Não é importante.
Trabalhe com amor. Faça o bem. Não se preocupe com o que as pessoas pensam ou falam de você. Não busque recompensas efêmeras nestes círculos de vibrações inferiores, onde, na maioria das vezes, os vícios da ambição e da dissimulação são exaltados em detrimento do que realmente tem valor para Deus, que te ama e estará sempre contigo”.
Senti como se aos poucos eu estivesse deixando para trás um outro eu. Vi-me mais ou menos na pele daquele personagem do livro “O emblema vermelho da coragem”, o soldado praça gritalhão. Ele costumava ser visto pelos colegas como “um meninote espalhafatoso, dono de uma audácia advinda da inexperiência, impulsivo, teimoso, ciumento e cheio de uma coragem de latão”. No entanto, seu comportamento mudou notavelmente após uma grande batalha, à qual sobreviveu: “Envolto numa perfeita segurança, demonstrava agora uma fé serena em seus propósitos e habilidades. Essa firmeza interior lhe permitia, naturalmente, ficar indiferente às pequenas alfinetadas que os outros lhe dirigiam”.
Como eu disse, a verdadeira vitória, a superação plena do orgulho, do egoísmo e do egotismo próprios dos círculos carnais, ainda está muito distante de mim; mas considero essa transformação que eu vivi [e continuo vivendo] um passo muito importante na minha trajetória terrena.
Hoje eu consigo perceber mais claramente que os valores da espiritualidade não são os mesmos que costumamos exaltar no mundo material. Perdemos muito tempo na crosta terrestre em vaidades inúteis, gastando preciosa energia na adoração ridícula de nós mesmos, de nossos filhos e amigos. O que importa, para o aperfeiçoamento espiritual, é a humildade, a caridade, o amor, a doação [sem receber nada em troca, nem favores, nem dinheiro], o trabalho honesto e justo...
Com outras palavras, André Luiz, no livro “Nosso Lar”, ensina-nos que as mercadorias propriamente terrenas não têm o mesmo valor nos planos do Espírito. Triste é perceber, no entanto, que milhares de homens e mulheres cegos de ambição e egoísmo desencarnam todos os dias sem compreender isso. “Foram negociantes imprevidentes”, conta-nos André Luiz: “Esqueceram de cambiar as posses materiais em créditos espirituais. Não aprenderam
as mais simples operações de câmbio no mundo. Quando iam a Londres, trocavam contos de réis por libras esterlinas; entretanto, nem com a certeza matemática da morte carnal se animaram a adquirir os valores da espiritualidade. Agora... que fazer? Temos os milionários das sensações físicas transformados em mendigos da alma”.
Mas não é fácil perceber essa verdade. Como generais em campos de batalha, encarcerados em suas opiniões próprias, os homens traçam estratégias de vitória, manipulam e humilham os outros, e chegam muitas vezes a afirmar: “Estou com a consciência tranquila”. Ora, mas o que é essa consciência senão um reflexo de sentimentos mundanos, na maioria das vezes muito mais sensíveis às vibrações inferiores do que às superiores?
No seu impressionante livro “O homem duplicado”, José Saramago elucida muito bem essa questão da consciência. Ali, numa passagem, o narrador explica que “uma mente dominada por sentimentos inferiores é capaz de obrigar a própria consciência a pactuar com eles, forçando-a, ardilosamente, a pôr as piores ações em harmonia com as melhores razões e a justificá-las umas pelas outras, numa espécie de jogo cruzado”.
A meu ver, é assim que nos transformamos em mendigos da alma nos planos do Espírito.
Bibliografia:
CRANE, Stephen. O emblema vermelho da coragem (1895). São Paulo: Penguin
Classics/Companhia das Letras, 2010.
SARAMAGO, José. O homem duplicado. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
TOLSTOY, Leo. The Gospel in Brief. University of Nebraska Press, 1997.
XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito André Luiz). Nosso Lar: a vida no Mundo
Espiritual. 61ª edição. Federação Espírita Brasileira, 2010.
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www.nwm.com.br/fms

domingo, 9 de outubro de 2011

O CAMINHO DO BEZERRO- FERNANDO MARTINS FERREIRA

O CAMINHO DO BEZERRO


Um dia, através da floresta virgem, passou um bezerro desembestado e desgarrado da boiada. Fez uma picada sinuosa, corcoveada, a exemplo de todos os animais desembestados. Trezentos anos se passaram desde então.
Aquele bezerro deixou atrás de si um rastro.
Seu rastro foi seguido no dia seguinte por um vaqueiro que percorreu a mesma trilha. Depois por um carneiro-guia que após si, conduziu todo o rebanho, como fazem os bons guias.
E desde esse dia foi-se abrindo um caminho através daquela floresta.
Passaram por ali homens, que proferiram palavras de justa indignação por causa do sinuoso caminho...
Mas, ainda assim, continuavam passando por ali, repetindo a primeira passagem.
Mais tarde o caminho da floresta tornou-se um atalho conhecido.
O atalho transformou-se numa estradinha, onde muitos pobres cavalos, arqueados sob penosas cargas, suavam dois quilômetros para fazer um.
E assim, sem saber, todos seguiram as pegadas do bezerro.
Os anos passaram, e a estrada converteu-se numa viela de aldeia.
E sem que os homens percebessem, a viela metamorfoseou-se numa movimentada via pública da cidade.
E durante séculos, os seres humanos se submeteram às pegadas do bezerro. Dia a dia, milhares de pessoas passam por ele.
Só palmilham trilha já batida, seguem sempre um trajeto iniciado por outros. Fazem do caminho uma rota sagrada, pela qual se movimentam durante toda a vida.
E como deles riem os antigos deuses da floresta que testemunharam a primeira passagem feita pelo bezerro.
Esse conto adaptado de Sam Walter Fox nos mostra o que ocorre com a grande parte das pessoas que conhecemos que seguem o seu caminho sem pensar, sem questionar, discutir ou avaliar o que é bom e o que é ruim.
Recolhem-se ao silêncio como carneiros sem direito à esperança e futuro. Em nome da comodidade, abdicam-se de viver, levam uma vida medíocre, não tendo consciência de que as perdas, os fracassos não foram colocados em nosso caminho para nos fazer desistir e sim para continuarmos a luta de outra maneira. E assim vão levando a vida, amando pouco, viajando pouco, sem levantar a cabeça, sem ousadias.
Seguem a trilha deixada pelos outros e ficam aprisionados freqüentemente ao passado. Esquecem-se de que a vida é um eterno abrir e fechar de ciclos e se demoramos a fechar um que já se foi com certeza perderemos a alegria de viver. Encerrar ciclos é deixar no passado os momentos que se foram. O que passou não voltará. As coisas passam e o melhor que fazemos é deixar que elas se vão.
Ficar lembrando e lamentando determinadas perdas não nos abrirão novos ciclos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Soufllê de bacalhau à Mariangela -Chef Ernane(foto)







Souffle de Bacalhau à Mariângela

 2 postas de bacalhau previamente demolhado
 l colher (sopa) de manteiga
 1 colher (sopa) de farinha
 l dl de água da cozedura do bacalhau
 l dl de leite
 4 ovos
 sal e pimenta preta moída na altura
 algumas gotas de sumo de limão
 noz-moscada ralada na hora
 queijo parmesão ralado.

Coza o bacalhau. Escorra-o, retire-lhe peles e espinhas e desfie-o muito bem. Coe a água da cozedura e reserve um decilitro.

Numa caçarola, derreta a manteiga e polvilhe de farinha. Deixe dourar por um minuto. Retire do lume e junte, em fio, a água da cozedura do bacalhau, mexendo com uma colher de pau. Junte o leite. Leve a caçarola, de novo, ao lume e, sem parar de mexer, deixe espessar.

Fora do lume, junte a este, molho o bacalhau desfiado. Mexa e tempere de sal (pouco), pimenta, sumo de limão e noz-moscada ralada. Acrescente as gemas, uma a uma, mexendo entre cada adição.

Bata as claras em castelo firme e incorpore-as, cuidadosamente, no creme anterior. Distribua este preparado por recipientes individuais de louça refractária, devidamente untados e enfarinhados. Polvilhe de queijo ralado.

Leve ao forno, a 200º C (5/6 no termóstato) por uns vinte minutos. Sirva logo.

http://confessionariododito.blogspot.com

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CAFÉ COM INGLESES. FLAVIO MARCUS DA SILVA (FOTO)



CAFÉ COM INGLESES.

Meu nome é Lucas, tenho 28 anos e sou escritor. Vivo de criar e solucionar enigmas, que são publicados em revistas e sites especializados no mundo inteiro. Trabalho em casa ou em qualquer outro lugar, desde que haja por perto uma boa máquina de café expresso – como a que eu tenho na minha cozinha: uma obra-prima italiana que, se honrada com os grãos que ela merece, faz um café maravilhoso, com espuma espessa e aroma intenso [que entra pelo nariz e atinge a alma em menos de dois segundos; e a alma, em júbilo, agradece, pressentindo, através de suas conexões mágicas com os sentidos do corpo, o equilíbrio perfeito entre o ácido e o amargo, entre a vontade de alçar vôo até as portas do Céu e a de ficar naquele corpo que, embora em putrefação, desfruta todos os dias aquele líquido misterioso e demoníaco].
Não tenho emprego com carteira assinada e, como eu disse, não preciso bater ponto em lugar nenhum, louvado seja!
Trabalhei uma vez numa empresa que me prendia num cubículo de dois metros quadrados por mais de oito horas por dia, e me fazia digitar milhares de cartas e ofícios desanimadores [que os chefes só assinavam e mandavam despachar, sem nem olhar para mim]. E eu pensava: “Será que o meu futuro é um dia me sentar numa destas cadeiras de couro, dar ordens, fiscalizar, assinar papéis e ganhar dinheiro pra pagar o apartamento de luxo, o carro importado, as plásticas da esposa, as férias no resort e os colégios e faculdades caríssimos dos filhos?”.
Um dia eu tive a certeza: não era aquilo que eu queria para mim. Por isso, depois de dois anos sendo explorado e humilhado por aqueles magnatas do carreirismo [que só pensavam em competitividade e estratégias disto e daquilo], resolvi pedir demissão e viajar pelo interior, para pensar um pouco sobre o que fazer da vida.
Eu era fascinado por histórias de detetive. Quando entrei no ônibus para Diamantina, numa fria manhã de julho, na mochila eu levava oito livros dos grandes mestres do romance de enigma, todos em inglês, língua que eu dominava desde pequeno, porque meus pais, embora pobres, sempre se preocuparam com a minha educação. E assim que eu arrumei o meu primeiro emprego, matriculei-me também em um bom curso de francês, o que me deu acesso a um outro universo cultural, sobretudo no campo da literatura e do cinema. E sozinho em casa, com a ajuda de apostilas e dicionários, aprendi também o espanhol, porque eu queria ler Marsé, Rulfo e Vázquez Montalbán no original [E como é bom ler os grandes mestres no original!].
No dia seguinte, sentado na mesa de um restaurante, com vista para o belo centro histórico de Diamantina, escrevi, em inglês, o meu primeiro conto que seria publicado e me renderia algum dinheiro [nada espetacular: somente alguns dólares, que me permitiram comprar os últimos lançamentos internacionais e me inscrever num clube inglês para escritores iniciantes].
Quando eu trabalhava na firma de advogados, trancafiado lá dentro como numa jaula, minha criatividade recebia poucos estímulos. O que eu escrevia todos os dias, nas intermináveis horas de expediente, era uma simples reprodução de modelos padronizados, restando pouco tempo para o que eu realmente gostava: ler, criar e escrever histórias de mistério. À noite, quando eu chegava em casa, ia direto para o computador, onde quase sempre encontrava um conto pela metade, e escrevia até de madrugada. Outras noites eu me dedicava à leitura ou ao estudo do inglês, francês ou espanhol, sem saber aonde aquilo me levaria. Uma vez cheguei até a pensar que escrever contos de mistério e estudar línguas estrangeiras era uma grande bobagem. Acabei me matriculando numa faculdade de Direito, onde estudei por quase um ano, à noite, ficando esse tempo todo sem fazer o que realmente me elevava o espírito. Perdi a capacidade de inventar, de criar, tornando-me um robô, um técnico das leis, pois nessa faculdade o ensino era péssimo, exigindo dos alunos tão somente a simples reprodução mecânica de informações: um desperdício da inteligência humana.
Desisti da faculdade no dia em que fui punido por interpretar um dispositivo legal de forma contrária à interpretação do professor. Aquilo para mim foi demais. Na noite seguinte eu já estava de novo às voltas com meus livros, lendo e escrevendo.
Mas voltemos a Diamantina. Ali estava eu, sem trabalho, só com o dinheiro do meu acerto e das poucas economias que eu havia feito durante três ou quatro anos de sofrimento.
Naquela mesa afastada do restaurante, de frente para uma janela de vidro que se abria para um belo conjunto de sobrados do século XVIII, escrevi um conto assustador, sobre um livro misterioso que levava à morte a maioria dos seus leitores [fora isso, nada a ver com “O Nome da Rosa”].
No dia seguinte, enviei o conto a um famoso site inglês, o mystery.com, que o aceitou sem nenhuma ressalva. Recebi a notícia em casa, por e-mail, algumas semanas depois, no sábado à noite. Minha alegria foi tanta que resolvi abrir um vinho tinto francês [que me havia custado uma pequena fortuna], guardado a sete chaves para o dia da minha aposentadoria. Não resisti. Liguei a tv no programa Bouillon de Culture, tirei a roupa e passei duas horas no sofá, feliz da vida, assistindo a uma entrevista com a escritora Amelie Nothomb, enquanto baixava o vinho e comia queijo e amendoim.
Naquela mesma semana recebi um e-mail de um agente recrutador do mystery.com, um inglês que morava no Brasil, me convidando para visitá-lo no seu apartamento. Fui sem pensar duas vezes. Cheguei e encontrei a porta aberta, com um bilhete me autorizando aentrar. Entrei e chamei. Nenhuma resposta.
O apartamento parecia ser enorme. Era mobiliado e decorado como se fosse uma mansão inglesa do século XIX, no melhor estilo vitoriano: móveis pesados, de jacarandá ou mogno, com detalhes de madrepérola; paredes cobertas de quadros retratando belas paisagens do campo inglês; numerosos candelabros, luminárias e enfeites que lembravam o Oriente na época do Império; e num canto da sala, sobre um móvel que devia ter mais de trezentos anos, várias peças do que me pareceu ser a legítima cerâmica chinesa da Dinastia Song.
Porém, não tive tempo de testar meus conhecimentos de História da Arte. Ouvi um grito assustador vindo do interior do apartamento e corri para ver o que tinha acontecido. Ao empurrar a porta do primeiro quarto, de onde eu supus ter vindo o grito, deparei-me com uma cena horripilante: um jovem loiro deitado na cama, tremendo, com as mãos no pescoço, na altura da garganta, de onde saía, num jorro contínuo, uma quantidade absurda de sangue. Ele me olhava e gorgolejava, como se dissesse “Cuidado”. Foi quando me virei e vi uma velha de camisola, segurando uma faca de açougueiro, vindo em minha direção.
Gritei, desesperado, e corri em direção à janela, esquecendo-me de que estávamos no décimo andar. Foi aí que ouvi as gargalhadas. O rapaz loiro estava de pé na cama, e a velha tinha se transformado num outro rapaz, talvez um pouco mais velho que o primeiro, e ambos riam, sem parar.
Não gostei da brincadeira, mas relevei. O rapaz loiro se chamava Nicolas, e o outro, seu namorado, era Alec, dois ingleses endinheirados que trabalhavam para o site mystery.com no Brasil.
Recebi deles um convite para integrar a equipe brasileira de escritores de mistério do mystery.com [que, além de site, era também editora e promovia uma série de festivais e eventos relacionados à literatura de enigma no mundo todo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, onde as pessoas lêem muito mais do que na América Latina]. “Seu conto ‘Labaredas na Escuridão’ foi muito bem recebido pelos fãs”, disse-me Nicolas, “e por isso o site quer fazer um teste com você”.
Estávamos sentados num dos enormes sofás da sala de estar, cercados por obras de arte que deviam valer uma fortuna. Alec tinha ido preparar um café e se demorava na cozinha.
Nicolas me perguntava sobre a minha vida. Quis saber se eu fazia outra coisa além de escrever, e eu disse que não, que eu havia pedido demissão de um emprego que me mantinha em baixíssimo nível de idéias – como numa linha de montagem –, e que agora eu queria me dedicar em tempo integral à literatura. Nicolas gostou muito do que ouviu e me disse que, se eu passasse no teste, eles me pagariam três mil dólares por mês, para eu escrever um conto por semana.
“E qual é o teste?”, perguntei animado.
Quando Nicolas ia começar a me responder, Alec entrou na sala trazendo uma bandeja com três xícaras de café. Ao beber o primeiro gole, perguntei: “O que é isso?”. Os dois amigos sorriram um para o outro e Alec respondeu: “Um café expresso. O que mais poderia ser?”.
E eu olhava para o café, para aquela espuma dourada que se prendia na borda interna da xícara, consciente da pergunta idiota que eu acabara de fazer [pois eu sabia que se tratava de um café expresso], mas ao mesmo tempo enfeitiçado pela novidade daquele sabor e daquele aroma, que me evocavam recordações de vidas passadas [que eu não me lembrava ter vivido], além de me aguçarem a lucidez e a criatividade de uma forma inteiramente nova e inesperada. Nicolas interrompeu meus pensamentos dizendo que talvez o que eu queria saber era que tipo de café expresso era aquele. Eu balancei a cabeça em sinal de afirmação e sorvi, lentamente, mais um pouco da bebida, maravilhado com as sensações que ela me provocava. A resposta não podia ser mais clara: “Esse café é feito com os melhores grãos que existem no mundo, numa máquina que, na minha opinião, também é a melhor do mundo”, disse Nicolas.
Mas voltemos ao teste.
Terminado o café, Nicolas me explicou que, para ingressar na equipe de escritores do mystery.com, eu teria que transformar aquele meu conto “Labaredas na Escuridão” em um romance de 200 páginas [escrito em inglês], em um prazo de quatro meses. Eu poderia ficar no apartamento da frente, que também era deles, “e”, acrescentou Nicolas sorrindo, “você terá direito a quantos cafés quiser, pois o apartamento destinado a você está equipado com a mesma máquina que acaba de fazer esta maravilha aqui”.
Fiquei sem palavras.
Os dois jovens me encaravam com olhos cheios de mistério e ironia.
“O que me diz?”, perguntou Nicolas.
www.nwm.com.br/fms