quarta-feira, 25 de julho de 2012

A SOBERBA- DO LIVRO: OS SETE PECADOS CAPITAIS-FERNANDO MARTINS FERREIRA

A Soberba “Um homem orgulhoso está sempre olhando para baixo sobre casos e pessoas, e naturalmente enquanto você estiver olhando para baixo, você não pode ver algo que está acima de você”. C. S. Lewis A soberba é caracterizada pela falta de humildade de uma pessoa, alguém que se acha auto-suficiente, altivo, presunçoso, sobranceiro. A soberba leva o homem a desprezar os superiores e desobedecer às leis porque se acha acima delas. É considerado o pecado maior porque dele se origina os demais. Mostra-se normalmente de três formas: a) O soberbo mostra-se ufano das qualidades que tem. b) Atribui-se dotes que não possui. c) Rebaixa as vantagens dos outros. A soberba tem também três filhos diletos: A ambição, a presunção e a vanglória.  A ambição é o desejo descomedido de glórias, honras, fortunas, poder, etc. O ambicioso anda sempre atrás de posição de destaque e de dignidades. São aqueles que apreciam o primeiro lugar em quaisquer lugares que frequentam, seja no teatro, na igreja, nos restaurantes, etc.  A Presunção é a demasiada confiança em si próprio. Presunção e ambição normalmente fazem par. O presunçoso exagera seus talentos, julga-se preparado para assumir qualquer cargo. Se mete em negócios e empregos altos, quase sempre lhes faltam habilidade e competência. Desconhece a palavra auto-crítica.  A Vanglória é a mania de se envaidecer por predicados mais brilhantes e espalhafatosos do que reais. É o famoso “bom-da-boca”. Gaba-se da estirpe nobre, da linguagem ilustre, do local onde mora, da roupa de grife, ou pelo automóvel importado. Baba-se todo por um elogio, suplica-o, e quando não consegue trata de se auto-elogiar. Não aprecia os companheiros nem se importa com eles e por isso conta o que fez e o que não faz. Também é chamado popularmente de faroleiro. Hipocrisia é um filhotinho da vanglória, pois as felicitações que os gabolas se outorgam com suas palavras, o hipócrita quer granjeá-los por seus atos fictícios e suas virtudes falsas. O soberbo adora a ostentação, o supérfluo e o prazer, gosta de ser melhor que os outros, de aparecer sempre, detesta competições. Sua máxima é: se não pode vencê-lo, diminui-o, ridiculariza-o, de preferência na surdina, sente-se o centro do mundo e acha que fora do seu umbigo, “centro gravitacional”, não existe louvação. Ele vive apaixonado por si mesmo, gosta de platéia, de se mostrar, normalmente fala alto, quer despertar inveja e admiração. Engana-se quem pensa que só os ricos e abastados são soberbos. Existe também a figura do pobre soberbo, aquele que não aceita ajuda, que quer ostentar sua miséria com ufanismo para ser admirado pelos outros e citado como exemplo. São os falsos humildes. Já vimos que o demônio da soberba é Lúcifer, o anjo decaído. Não foi ele que tentou Cristo no deserto? “Tudo isto te darei, se me adorares”! Não é isso o que o soberbo deseja? Adoração! A soberba tem também três parceiras inseparáveis e elas são: a vaidade, a arrogância e o orgulho. Veremos através de conhecidas parábolas como elas se comportam. Vaidade Um corvo empoleirou-se sobre uma árvore e, segurava no bico um pedaço de queijo. Uma raposa, atraída pelo cheiro, dirigiu-lhe as seguintes palavras: - Olá, doutor corvo. Como o senhor é lindo, como o senhor me parece belo! Que bela plumagem negra que tanto reluz ao sol! Sem mentira, se a sua voz se assemelha à sua imagem, então o senhor será o fênix dos habitantes destes bosques. Meu Deus, como você é lindo! Diante dessas palavras o corvo não se cabendo de tão contente para mostrar sua bela voz abriu o grande bico e deixou cair o queijo. A raposa mais do que depressa apoderou-se dele e disse: - Meu caro senhor, aprenda que todo bajulador vive à custa de quem lhe dá ouvidos. Vive à custa do vaidoso. Esta lição sem dúvida, vale um pedaço de queijo. O corvo envergonhado e confuso jurou que ele não mais cairia nessa. A fábula adaptada de La Fontaine nos mostra que umas das coisas que mais colocam o ser humano em situação ridícula é a vaidade. Como ela é traiçoeira e se veste de glamour, de brilho e inebria aquele que não teve a capacidade de fazer a sua autocrítica ao perceber o elogio de sua beleza, inteligência, empreendedorismo. Quando o ser humano sente o desejo imoderado de atrair para si a admiração e homenagem foi com certeza dominado pela vaidade. Dispamo-nos dela então para não incorrermos no ridículo. Aquele que se deixa encantar pelos elogios que recebe é com certeza uma pessoa extremamente frágil. A pessoa inteligente não se deixa levar por elogios baratos, prefere sempre uma crítica honesta, que venha com a intenção de trazer a perfeição. O tolo vaidoso sempre se deixa levar pela lisonja a sua inteligência, beleza, sabedoria ou riqueza. Não vê que os mesmos que o elogiam gratuitamente são os que zombam pelas costas de sua mediocridade e tolice. Lembremo-nos de que a matéria, toda ela é perecível, até mesmo o nosso corpo, invólucro de nossa alma imortal, nessa vida tão curta. Um dia ele acabará como tudo mais, só a alma permanecerá. Portanto, não exagere no falar, no agir, no vestir, enfim, no se expor para não cair em algum extremo, pois qualquer que seja ele é perigoso. Não se diz que a virtude está no meio e não nos extremos? Existe porém uma vaidade que pode ser considerada pior que as demais, a vaidade espiritual. Sim, pior, pois quem a detém é possuidor do conhecimento das coisas do espírito e tem plena consciência de que comete erro grave, erra portanto duas vezes. O resultado pode ser nefasto, temos vários exemplos mas por ética não devem ser mencionados. Deus que conhece seus filhos sabe quando a oração, a caridade ou outros atos praticados em “seu nome” são realizados com o coração. Se desejarmos alçar vôos maiores na busca da evolução espiritual, razão única de estarmos aqui no planeta terra devemos nos despir de toda a vaidade e lembrarmo-nos sempre de que não nascemos em vão. Arrogância Conta-se que o diálogo é verídico e foi travado em outubro de 1995 entre um navio da marinha norte-americana e as autoridades costeiras do Canadá próximo ao litoral de New Foudland. Os americanos começaram na maciota: - Favor alterar o seu curso 15 graus para o norte para evitar colisão com nossa embarcação. Os canadenses responderam de pronto: - Recomendo mudar o seu curso 15 graus para o sul. O americano ficou mordido de raiva. - Aqui é o capitão de um navio da marinha americana. Repito, mude o seu curso. Mas o canadense insistiu secamente: - Não. Mude o seu curso atual. A coisa começou a ficar feia. O capitão americano berrou ao microfone. - Este é o porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior navio da frota americana no Atlântico. Estamos acompanhados de três destróieres, três fragatas e numerosos navios de suporte. Eu exijo que vocês mudem o curso 15 graus para o norte, ou então tomaremos medidas para garantir a segurança do navio! E o canadense respondeu: - Faça o que quiser. Aqui é um farol! Moral da história! Às vezes a arrogância nos faz cegos. Quantas vezes criticamos a ação dos outros, quantas vezes exigimos mudanças de comportamento nas pessoas que vivem perto de nós, enquanto que na verdade nós é que deveríamos mudar o rumo de nossa vida. Orgulho Conta-se que havia um rei na Espanha que orgulhava muito de sua linguagem, e que era conhecido por sua extrema crueldade com os mais fracos e pobres. Certa vez caminhava com sua comitiva por um campo de seu reino, onde anos atrás havia perdido seu pai em uma batalha. Ali encontrou um homem santo remexendo uma pilha de ossos. - O que fazes aí, oh infeliz? – Disse o rei. - Honrando vossa majestade. – Disse o homem. – Quando soube que o grande rei da Espanha vinha aqui, resolvi recolher os ossos de vosso falecido pai para entregar-lhos. Entretanto, por mais que os procure não consigo achá-los, eles são iguais aos ossos de camponeses pobres, mendigos e escravos. Moral da história! Quando Deus criou o homem não fez distinção entre negros e brancos, ricos e pobres, sábios e ignorantes, feios e bonitos. Criou um só homem, à sua imagem e semelhança. Se Deus que é Pai, nosso criador, não distinguiu a sua criatura, quem teria autoridade para discriminar alguém? Ainda mais que sabemos que o ser humano se defronta com duas limitações intransponíveis: defeito de fabricação e prazo de validade. Haveremos de morrer, só não sabemos como e quando. Tenho pensado muito nela, a morte, não que a deseje por perto, mas como uma aceitação natural. Ela, a morte, não pode ser encarada como o fim de tudo. Se assim fosse, ela se tornaria um absurdo e a vida presente seria o nosso único bem. Pior ainda, nossa vida se tornaria sem sentido e sem valor algum. Seria então o caso de perguntarmos: - Viver então para que? Devemos ver a morte como uma transformação, uma oportunidade de evolução. Acho que a vida terrestre deve ser triste e sem gosto para quem não tem a perspectiva de vida após a morte. Meus questionamentos nesse sentido talvez possam ser creditados à idade, pois à medida que envelhecemos, eles aumentam e se aprofundam naturalmente. E ao refletir sobre a soberba e a morte pergunto: - Daqui a cem anos que diferença fará se usarmos durante a vida roupas de marca ou compradas em liquidações? Se moramos num triplex de cobertura ou numa pequena casa alugada? Se passamos as férias nas Ilhas Gregas, no Caribe ou no quintal de nossas casas? Se comemos caviar iraniano, trutas ou feijão com arroz? Se dormimos em colchão especial, travesseiros com penas de ganso, lençóis de seda chinesa, de linho egípcio ou num pequeno catre? - Daqui a cem anos que diferença fará se possuirmos carro importado ou se andávamos de bicicleta? Se ocupávamos um cargo de destaque em uma grande empresa ou se éramos apenas um operário? Se andamos em tapetes persas ou em um chão poeirento? Se tivemos vários empregados ou recebíamos ordens de um patrão? Se tivemos muito dinheiro ou se vendíamos o almoço para comprar a janta? Que diferença fará? Entretanto creio que fará toda a diferença, não só daqui a cem anos, mas por toda a eternidade se formos pessoas íntegras, humildes, generosas e éticas, e se tivermos expandido nossa mente em busca da iluminação e deixarmos de lado a soberba. Devemos nos lembrar de que somos à imagem e semelhança de nosso criador. Se isso constitui um privilégio, há que ser, necessariamente e por via de consequência, uma tremenda responsabilidade. Portanto, devemos conservar e mostrar essa imagem na qual Deus quer se refletir dentro de nós. E não é com certeza na soberba que “Ele” fará isso. “Quem se exalta será humilhado, mas quem se humilha será exaltado”. É do evangelho esta máxima que nos ensina a humildade como a mais bela virtude. Não devemos nos julgar melhor nem mais importante do que ninguém. Não somos indispensáveis ou insubstituíveis, em nosso trabalho ou em nada na vida, aliás, ninguém o é, somente Deus, o grande criador é indispensável. Quanto menor nós nos fizermos, mais admirado e estimado seremos por todos que nos cercam. O que torna uma pessoa importante não é o cargo e nem a posição que tem e muito menos a autoridade que exerce. O que a torna importante, querida e respeitada é sua simplicidade, a sua educação no falar e no agir. Procure ser simples, entenda que viver assim é antes de tudo um ato inteligente, pois uma pessoa simples atrai para si as energias positivas de muita gente. Lembre-se também “se alguém quiser ser o primeiro, será o servo de todos” (Marcos – 10-44). Humilde não é o que esconde ou nega o seu próprio valor, é aquele que se faz respeitar pelo que vale pelo que é pelo que possui, mas disso não faz ostentação. Devemos nos lembrar de que ao contrário do que possamos imaginar, vivemos recebendo favores. Recebemos de Deus o sol, a chuva, a brisa, o vento, o orvalho, a flor, o calor, o frio, o dia, a noite, a luz, o som, o trabalho, o repouso, a (o) companheira (o), os filhos, os pais, os irmãos, a lua e as estrelas. Vivemos recebendo favores, então porque tanto orgulho tanta soberba? Os bens terrenos são passageiros e efêmeros e ficarão aqui mesmo, não irão conosco para a eternidade. Nosso verdadeiro tesouro é aquele que está vinculado à nossa alma eterna e imortal, e é o que apresentaremos ao criador quando formos prestar as nossas contas. Atentemos, pois o nosso tempo de hospedagem aqui no planeta terra que está chegando ao fim. O relojinho do tempo não para, tic-tac-tic-tac-tic-tac, e o que aguarda o nosso corpo carnal são somente sete palmos de terra fria. Tic-tac-tic-tac-tic-tac.

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