terça-feira, 17 de julho de 2012

OS SETE PECADOS CAPITAIS- A HISTÓRIA/A LENDA-FERNANDO MARTINS FERREIRA

A HISTÓRIA Ao contrário do que muitos imaginam, a origem dos sete pecados capitais não é bíblica. Remonta ao século IV da era cristã e teriam surgido no movimento monástico cristão ocorrido no Egito, quando o Monge Grego Evágrio Pôntico (ou do Ponto) – 345/399 – teria escrito uma lista com oito pecados que afligiam a vida dos monges do deserto. São eles: Gula, Libertinagem, Avareza, Melancolia, Ira, Letargia Espiritual, Vanglória, Orgulho. Um dos discípulos do monge, João Cassiano (Santo) levou essa relação ao ocidente onde no século VI, o Papa Gregório Magno (Santo) fez algumas mudanças na lista que resultou em sete pecados: Orgulho, Inveja, Ira, Melancolia, Avareza, Gula, Luxúria. Tempos depois, São Tomás de Aquino, liderando outros teólogos revisaram novamente a lista e chegou ao que hoje conhecemos como os sete pecados capitais. São eles: Soberba, Inveja, Ira, Preguiça, Avareza, Gula, Luxúria. Quatro pecados são aqueles que se cometem contra o espírito e que prejudicam tanto quem os comete quanto a pessoa contra qual são cometidos. São: Ira, Avareza (Cobiça), Inveja, Soberba (Orgulho). Os outros são pecados que se praticam contra o corpo. São eles: Preguiça, Gula, Luxúria. Segundo o psicólogo Waldemar Magaldi Filho, “o melhor modo de não sermos dominados pelos pecados é não perdermos o alvo, a meta existencial que deveria ser o sacro-ofício de servir ao invés de apenas servir-se da natureza e da vida”. Continua ele: “E como os seres humanos possuem tanto os pecados quanto as virtudes devemos ter tolerância com quem é possuído por eles e criar condições para despertar as virtudes, em nós e nos outros. À medida em que as pessoas se tornam menos egoístas e mais amorosas as virtudes surgem no lugar dos pecados”. Os pecados capitais segundo a Igreja são graves e perdoados apenas com penitência, estipulada depois da confissão. O homem virtuoso só seria aquele que desconhece o ódio, porque somente ama. É o que não pensa nem fala no egoísmo, porque ama o desprendimento. É aquele que perdoa constantemente por conhecer o clima de paz, por amar. Difícil, não é? Quinze séculos se passaram desde que os monges do Egito começaram a refletir sobre o assunto, e eles, os pecados, continuaram firmes em nossa cultura. A LENDA Conta a lenda que certo dia um casal ao chegar do trabalho encontrou algumas pessoas dentro de sua casa. Achando que eram ladrões ficaram assustados, mas, um homem forte e saudável, com corpo atlético disse: - Calma meus amigos, nós somos velhos conhecidos e estamos em toda parte do mundo. - Mas quem são vocês? – Perguntou a mulher. - Eu sou a preguiça – respondeu o homem másculo – estamos aqui para que vocês escolham um de nós para sair definitivamente da vida de vocês. - Como você pode ser a preguiça se tem o corpo de atleta que vive malhando e praticando esportes? Pelo que sei a preguiça não tem ânimo para isso – falou a mulher. - A preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros de preguiçosos, com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor. Uma mulher velha e curvada, com a pele enrugada, mais parecendo uma bruxa diz: - Eu, meus filhos, sou a luxúria. - Não é possível! – diz homem – Você não pode atrair ninguém com essa feiúra. - Não há feiúra para a luxúria, amigos. Sou velha porque existo há muito tempo entre os homens, sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças para todos até a morte. Sou astuta e posso me disfarçar na mais bela mulher. Um mau cheiroso homem, vestindo trapos de roupas, parecendo mais um mendigo, diz: - Eu sou a cobiça, por mim muitos já mataram, por mim muitos abandonaram famílias e pátria, sou tão antiga quanto a luxúria, mas eu não dependo dela para existir. Tenho essa aparência de mendigo porque por mais bem vestido que eu me apresente, por mais rico que seja, sempre vou querer o que não me pertence. - E eu sou a gula – diz uma belíssima mulher, com um corpo escultural, cintura fina, seios perfeitos, lindos cabelos sobre os ombros e olhos expressivos. Todo corpo dela tinha harmonia de forma e movimentos. Assustam-se os donos da casa e a mulher diz: - Sempre imaginei que a gula seria gorda. - Isso é o que vocês pensam. Sou bela e atraente porque se assim não fosse, seria muito fácil livrarem-se de mim. Minha natureza é delicada, normalmente sou discreta, quem tem a mim não se apercebe, mostro-me sempre disposta a ajudar a busca da luxúria. Sentado a um canto, em uma cadeira confortável, um senhor, também velho, mas com o semblante bastante sereno, com voz doce e movimentos suaves, diz: - Eu sou a ira. Alguns me conhecem como cólera. Tenho muitos milênios, também não sou homem, nem mulher assim como todos meus companheiros que estão aqui. - Ira? Que isso? Você é tão doce. Parece mais o vovô que todos gostariam de ter – disse o homem da casa. - E a grande maioria me tem assim! – respondeu o vovô. – Matam com crueldade, provocam brigas horríveis e destroem cidades quando eu me aproximo. Sou capaz de eliminar qualquer sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar em qualquer residência inclusive nas mais protegidas. Mostro-me calmo e sereno para mostrar-lhes que a ira pode estar aparentemente mansa. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas sem me manifestar, provocando úlceras, câncer e as mais terríveis doenças. - Eu sou a inveja. Faço parte da história do homem desde sua aparição na terra – diz uma jovem linda que ostentava uma coroa de ouro cravejada com diamantes. Usava também brincos e braceletes e roupas finas de extremo valor. Assemelhava-se a uma princesa rica e poderosa. - Como inveja? Se é rica e bonita e parece ter tudo o que deseja – disse a mulher da casa. - Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que não são nada disso, mas eu estou entre todos. A inveja surge pelo que não se tem e o que não se tem é a felicidade. A felicidade depende do amor, e isso é o que mais carece a humanidade. Provoco mortes e sofrimentos, onde eu estou está também a tristeza. Enquanto os invasores se explicavam, um garoto que aparentava ter cerca de oito anos brincava pela casa. Sorridente e de aparência inocente, característica das crianças, sua face de delicados traços mostravam a plenitude da jovialidade. - E você garoto, o que faz junto a esses que parecem a personificação do mal? Você não faria mal a ninguém, até porque é uma criança – diz o homem. O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo: - Você se engana. Eu sou o orgulho. - O orgulho? Mas você é apenas uma criança! Tão inocente quanto as outras. O semblante do garoto tomou um ar de seriedade que assustou o casal e diz: - O orgulho é como uma criança mesmo, mostra-se inocente e inofensivo, mas não se enganem, sou tão destrutivo quantos todos aqui, quer brincar comigo? A preguiça interrompe a conversa e diz: - Vocês devem escolher um, e apenas um, de nós para sair definitivamente da vida de vocês. Queremos uma resposta. O homem da casa responde: - Por favor, nos dê dez minutos para que possamos pensar. O casal se retirou para o quarto e lá fizeram várias considerações. Dez minutos depois retornaram. - E então? – Perguntou a gula. – O que resolveram? - Queremos que o orgulho saia de nossas vidas. O garoto olha o casal com olhar fulminante, pois queria ficar ali. Porém, respeitando a decisão, dirige-se à saída. Os outros, em silêncio, acompanhavam o garoto quando o homem perguntou: - Ei! Vocês também vão embora? O menino com ar severo e com a voz forte de um orador experiente diz: - Escolheram que o orgulho saísse das vidas de vocês e fizeram a melhor escolha, pois onde não há orgulho não há preguiça, pois os preguiçosos são aqueles que se orgulham de nada fazer para viver não percebendo que na verdade vegetam. Onde não há orgulho não existe a luxúria porque os luxuriosos têm orgulho de seus corpos e se julgam merecedores. Onde não há orgulho, não há cobiça, pois os cobiçosos têm orgulho das migalhas que possuem, acumulando tesouros na terra e invejam a felicidade alheia, não percebem que na verdade são fantoches dos desejos. Onde não há orgulho, não há ira, pois os irados têm facilidade com aqueles que segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não percebem que na verdade sua ira é resultado de suas próprias imperfeições. Onde não há orgulho, não há inveja, pois os invejosos sentem o orgulho ferido ao verem o sucesso alheio seja ele qual for. Precisam constantemente de superar os demais nas conquistas, não percebem que na verdade são ferramentas da insegurança. Saíram todos sem olhar para trás, e ao baterem a porta um fulgurante raio de luz invadiu o recinto. OS SETE PECADOS CAPITAIS AUTOR:FERNANDO MARTINS FERREIRA EDITORA: VIRTUAL BOOKS-2010 femafer@hotmail.com

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