quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

HISTÓRIAS DE PESCADORES- FERNANDO MARTINS FERREIRA

HISTÓRIA DE PESCADORES


Dessa história sou testemunho ocular e dou fé, pena que seu protagonista não esteja mais entre nós para confirmá-la.
O Sr. Ênio Mendonça Marinho deve estar com certeza fazendo boas pescarias nos lagos e rios do paraíso junto com D. Zica’, sua esposa.
Meu pai e alguns amigos construíram um rancho no rio Pará, na primeira Itaoca, entre Pitangui e Martinho Campos. O dicionário diz que Itaoca, vem do Tupi e significa Casa de Pedra ou Furna.
É exatamente isso. O maciço de pedra tem no mínimo vinte metros de altura e investe em sua parte mais alta sobre o rio. Aberturas na rocha formando furnas é criatório natural de pássaros e bichos da região. Os pescadores conseguiram colocar na pedra uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e todos que ali passam, rendem suas homenagens à padroeira do Brasil.
Lugar mágico, de uma energia telúrica sem igual.
O rancho foi construído pelos próprios companheiros pescadores que transportaram toda madeira e areia através do rio, em pequenas e frágeis canoas tocadas a remo e varejão.
Ainda garoto, assisti a construção do rancho que distava uns cem metros acima da primeira Itaoca, sobre um barranco alto, protegido das cheias do rio e debaixo de frondosas árvores.
De lá, tinha-se uma vista privilegiada do rio caudaloso, de águas límpidas.
O rancho era de uma simplicidade espartana, sem toque feminino, casa típica de pescadores.
O café no bule estava sempre pronto na trempe do fogão a lenha, tarefa de quem chegava mas cedo da pescaria.
Sábado, domingo ou qualquer feriado, íamos para o rancho.
Às vezes íamos mesmo no domingo, não sem antes de assistirmos a missa dos pescadores que era celebrada às cinco horas da manhã pelo saudoso Padre Grevi na antiga matriz de Nossa Senhora da Piedade.
O Padre Grevi tinha uma particularidade, sua missa demorava no máximo trinta minutos. Dali seguíamos na Kombi do João Sapateiro ou do Geraldo seu irmão, ambos sócios do rancho, e no máximo às sete horas estávamos lá. Ao chegarmos, descíamos a tralha, varríamos todo o rancho, fazíamos o café forte, colocávamos o feijão para cozinhar no fogão a lenha e só então saíamos para pescar. Era um ritual.
Todos colaboravam e em meia hora tudo estava pronto.
O rio Pará naquela época era extremamente piscoso e de suas águas saiam belas corvinas, surubins, dourados, pacus, matrinxâs, piaus, mandis amarelo, o pirá e até mesmo o pacamão, peixe de couro, característico do rio São Francisco, cujo rio Pará é afluente.
Certa feita, em um só dia, meu pai fisgou dois belos exemplares, um com uns 18 kg e outro com uns 12 kg e duas enormes piranhas. Amarrou os dois brutos e as piranhas em uma corda e os deixou dentro do rio, com a intenção de trazê-los vivos para a casa.
No dia seguinte cadê os peixes? As piranhas cortaram a corda com seus afiadíssimos dentes e adeus peixes.
“Não se preocupe, logo a gente pega mais”, disse meu pai.
Certa vez, ele e os demais companheiros, desceram o rio até a terceira Itaoca, em busca de um cardume de piaus que tinha sido avistado naquelas paragens. Da primeira à terceira Itaoca gastava-se uma hora de viagem rio abaixo e duas horas para retornar. O Sr Enio não quis ir à busca dos piaus e me convidou para ficar pescando com ele na primeira Itaoca.
Assim fizemos e até que estávamos pescando umas boas corvinas.
De repente, ele me chamou a atenção, pois fazia um grande esforço para recolher a linha de sua carretilha PEN.
Pensávamos se tratar de um grande pacu ou até mesmo uma boa piranha. Devido ao movimento da linha. Pasmem-se: O anzol tinha entrado caprichosamente em um minúsculo buraco, bem no centro de um prato esmaltado. Daí o peso e os rodopios. Ele me disse: “Que bom que você está aqui, se eu contar ninguém vai acreditar”.
Levamos o prato para o rancho e mais tarde contamos o fato e ninguém acreditou e foi verdade, eu vi.
De outra vez, no mesmo rio Pará, no lugar denominado Porto da Formiga foram pescar meu pai Walter Martins, José Ferreira de Oliveira, Geraldo Magela dos Santos, o Sr. Gillica, seu irmão José do Pedro, José Pereira Campos e o Manoel Pereira Campos.
As canoas com bons motores cortaram rapidamente as águas rio acima.
Apoitaram a uns 250 metros acima da ponte do Porto da Formiga e lançaram suas linhas n’água. Não demorou nada e o José Ferreira fisgou um dourado que é um belíssimo peixe carnívoro de grande porte, coloração dourada, tendente ao vermelho e carne extremamente saborosa.
Peixe guerreiro, ao ser fisgado proporciona um belo espetáculo com seus enormes saltos sobre a água e aquele fisgado pelo José Ferreira era um belo exemplar com aproximadamente uns 10 kg.
Todos pararam de pescar e ficaram apreciando o espetáculo da luta do peixe e do homem.
O Sr. José Ferreira pescador experiente foi trabalhando o peixe com calma para que ele se cansasse, mas por uma fatalidade a linha passou na hélice do motor e lá se foi o peixe.
Diante da desolação do Sr. José Ferreira, o Gillica, que havia fisgado um pequeno timburé, iscou com ele o seu anzol e disse ao Sr. José Ferreira, logicamente brincando:
- “Não se preocupe, vou buscar o seu anzol”.
Atirou a linha no rio e não demorou nem dois minutos e fisgou um dourado.
Depois de muita luta conseguiu içá-lo para o barco.
Qual não foi o espanto de todos: A linhada, o anzol do Sr. José Ferreira, estava na boca do dourado.
O Gillica calmamente apanhou o material e o entregou ao Sr. José Ferreira que para riso de todos afirmava ser dele o peixe.
Se duvidarem da história pergunte ao Gillica, ao Dr. Manoel Pereira Campos e ao meu pai. Eles estão aí e podem confirmá-la.

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