domingo, 30 de outubro de 2011

PITANGUI: SUAS HISTÓRIAS, SUAS HEROINAS E SEUS HERÓIS- PROF. ARNALDO DE SOUZA RIBEIRO

CONHEÇA PITANGUI E SUA BELÍSSIMA E RICA HISTÓRIA.


Pitangui: suas histórias, suas heroínas e seus heróis

* Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro

"A história é a biografia do ser humano."
Mariano José Pereira da Fonseca – Marquês de Maricá. Nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de maio de 1773, onde faleceu no dia 16 de setembro de 1848. Escritor, filósofo e político brasileiro. Foi ministro da Fazenda, conselheiro de estado e senador do Império do Brasil, de 1826 a 1848.


1. Introdução

Por intermédio de nossa amiga comum, Dra. Ediene de Oliveira Campos, descendente da heroína D. Joaquina de Pompéu, no final de agosto soube que o historiador, pesquisador e escritor Fernando Martins Ferreira publicou um novo livro sob o título Reminiscências do Centro-Oeste Mineiro, onde registra a história de Pitangui e enaltece os heróis e as heroínas que por lá passaram e viveram.
Surpreso e agradecido, no início de setembro, recebi a mencionada obra acompanhada de uma elegante dedicatória enviada pelo autor.
Imediatamente observei a capa, analisei o índice e verifiquei os temas abordados nos vinte nove capítulos e a referência bibliográfica. Não tive dúvidas: estava diante de uma importante, oportuna e necessária obra.
Na apresentação do livro logo nas primeiras páginas, o autor de forma sutil, já deixou transparecer àqueles que ainda não o conhecem a sua sabedoria e a seriedade de seu trabalho quando assevera:
Devo advertir ao leitor que sou apenas um contador de “causos”, um aprendiz de escritor, e não sendo um historiador acadêmico, nem mesmo um grande pesquisador, não tenho compromisso com a exatidão dos fatos narrados. É claro que li, estudei, pesquisei, viajei muito, e contei com a ajuda de amigos, aos quais nunca me cansarei de agradecer, mas admito que é muitíssimo prazeroso ouvir e repetir as histórias contadas pelo povo. Sou fascinado por elas.

Ainda que pese a modéstia do autor e pesquisador, que se intitula contador de “causos”, nas cento e noventa e três páginas que compõem o livro, ele foi muito além de “causos”: fez um importante e detalhado estudo histórico deste singular ícone do centro-oeste mineiro, que é a cidade de Pitangui.
Na elaboração de seu livro registrou e apontou relevantes fatos de sua história e, sobretudo, ressuscitou heróis e heroínas. Advertiu aos leitores e pesquisadores de suas responsabilidades para perpetuar e divulgar estes fatos e o compromisso que se deve ter com esta grande heroína chamada Pitangui, tendo em vista que ela a tudo presenciou e hoje suas ruas e seus casarões são testemunhas oculares daqueles acontecimentos.
Dentre os pontos abordados e que foram marcantes para a região destacam-se: o Motim da Cachaça, a importância histórica de Pitangui, a passagem de Borba Gato, a vida e as influências exercidas pelo Padre Belchior, a vida das heroínas Dona Joaquina de Pompéu e Maria Tangará.

2. O motim da cachaça
A partir de 1700, com a descoberta do ouro em Minas e o declínio dos Engenhos no nordeste, a Coroa Portuguesa implantou a cobrança de um novo imposto a que denominou de Quinto Real, orçado em oito oitavas de ouro por bateia.
No ano de 1713, os cobradores deste imposto chegaram a Pitangui e trouxeram a conta: 6 arrobas de ouro.
Nesta mesma ocasião também autorizaram o aumento do preço da cachaça, gênero considerado de primeira necessidade para os mineradores. Diante destas duas extorsões, Domingos Rodrigues Prado, insufla a população a não efetuar o pagamento, cuja resistência deu inicio ao motim denominado pelo então Capitão Geral Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho de “Motim da Cachaça.”
Neste sentido ensina Fernando Martins Ferreira:
Ninguém paga! Foi a ordem de Domingos Rodrigues do Prado. Os cobradores do reino que ali estavam Jerônimo e Valentim Pedroso foram atacados pelo povo enfurecido e assim feriram o primeiro e mataram o segundo. Era a primeira sedição nativista que se levantara nas Minas do Ouro e na Colônia contra o Capitão General, Governador e El-Rei.

Diante desta primeira e inusitada resistência à Coroa, esta a princípio isenta os revoltosos do pagamento. Por alguns anos corroeram mágoas e prepararam a repreensão. No ano de 1719, outros cobradores são enviados, com o débito corrigido e atualizado o que alcançava um montante de 25 arrobas. Novamente entra em cena Domingos Rodrigo do Prado e seu sogro Bartolomeu Bueno da Silva e chefiam a sedição. No mês de fevereiro do mesmo ano matam a paulada Diogo da Costa da Fonseca, responsável pelo recebimento.
Àquele tempo era Governador Capitão-General Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos – o Conde de Assumar que, insatisfeito e ofendido com a sedição, mobiliza sua infantaria para combater os revoltosos de Pitangui. A infantaria por ele mobilizada alcançava um montante de 500 a 700 homens, enquanto os revoltosos contavam com aproximadamente 400 homens.
Neste encontro, travou-se sangrenta batalha, cujo palco se deu um pouco acima da foz do rio São João. Pela disparidade dos números entre os combatentes e os parcos recursos bélicos dos revoltosos, as tropas reais venceram o embate. Os revoltosos foram sumariamente julgados, executados e suas cabeças fixadas em postes para servir de exemplo.
Deste modo, Pitangui entrou para a história como palco da primeira sedição da Colônia e, por certo, inspirou várias outras até que se chegasse à Independência, em 1822, fortemente influenciada e apoiada por um de seus filhos do coração, o Padre Belchior.
3. A importância histórica de Pitangui
Para registrar a importância histórica de Pitangui bastaria o “Motim da Cachaça” e a divulgação das personalidades que por lá passaram e viveram, dentre eles: Domingos Rodrigues Prado, Borba Gato, Padre Belchior, Dona Joaquina de Pompéu e Maria Tangará. Importante acentuar que estas lendárias senhoras, no final do século XVIII e início do século XIX, anteciparam e mostraram a grande capacidade feminina, valores que vieram a se expressar e consolidar a partir da segunda metade do século XX.
Porém, com muita propriedade e justiça Fernando Martins Ferreira, autor do livro, que motivou a elaboração deste texto, declina também a importância de Pitangui pelas cidades que gerou e que aos poucos foram se emancipando, quais sejam: Abaeté, Araújos, Bambuí, Bom Despacho, Conceição do Pará, Córrego Dantas, Carmo do Cajurú, Divinópolis, Dores do Indaiá, Estrela do Indaiá, Lagoa da Prata, Leandro Ferreira, Luz, Igaratinga, Itaguara, Igarapé, Itapecirica, Itaúna, Juatuba, Maravilha, Martinho Campos, Mateus Leme, Moema, Morada Nova, Nova Serrana, Onça do Pitangui, Pará de Minas, Papagaios, Pedra do Indaiá, Pequi, Perdigão, Pompeu, Quatel Geral, Santo Antônio do Monte, São Gonçalo do Abaeté, São Gonçalo do Pará, São Gotardo, São Joaquim de Bicas, São José da Varginha, São Sebastião do Oeste e Tiro.
Assevera Fernando Martins Ferreira: Dizer que temos carinho por Pitangui é bom, mas é muito pouco, temos que fazer efetivamente algo mais para preservá-la e garantir aos pitanguienses uma boa fonte de renda advinda do turismo histórico, rural e ecológico.

4. Borba Gato e a guerra dos emboabas
Manoel de Borba Gato, filho de João Borba e Sebastiana Rodrigues, casado com Maria Leite, filha do bandeirante Fernão Dias Paes Leme, no ano de 1674 e 1681, acompanhou a Bandeira chefiada por Fernão Dias Paes Leme. Esta Bandeira, por determinação do então governador de São Paulo Afonso Furtado de Castro, veio procurar as jazidas de esmeraldas e prata, na região de Sabará.
No início do século XVIII, a descoberta do ouro em Minas Gerais, motivou a vinda de pessoas de diversas regiões do país e também da metrópole, o que resultou em vários conflitos armados em especial nos anos de 1707 e 1709.
Dentre os conflitos de maior expressão destaca-se a “Guerra dos Emboabas.” Sob a liderança do português Manuel Nunes Vieira, juntaram aventureiros das mais diversificadas partes do país, em especial da Bahia e de Pernambuco. Fortemente armados organizaram diversas expedições com o propósito de enfraquecer os paulistas nas regiões mineradoras.
Manoel de Borba Gato era o líder dos paulistas e dentre os ataques sofridos destaca-se o que ocorreu em Sabará.
Esta guerra teve o seu final com o lamentável acontecimento conhecido como “Capão da Traição”.
Com a derrota dos paulistas na batalha campal de Cachoeira de Campos, estes se renderam e foram anistiados com o compromisso de que deixariam a região aurífera de Minas Gerais. Os paulistas, no entanto, permaneceram albergados em um capão de mato que ficava no meio de uma campina banhada pelo rio das Mortes, próximo às atuais cidades de Tiradentes e São João Del Rei, região onde também se encontravam os portugueses, conhecidos também por emboabas.
De forma estratégica e ousada, os paulistas utilizaram índios cativos para atrair os emboabas em uma emboscada neste capão, plano que parcialmente deu certo. Com a morte de vários emboabas, estes recuaram, sob o comando de Bento do Amaral Coutinho.
Deste modo, novamente os paulistas ficaram sitiados neste capão, e certamente seriam vencidos pela sede e pela fome, o que os levaram a rendição, sob a promessa de que suas vidas seriam poupadas.
A promessa não foi cumprida e com a deposição das armas, o comandante emboaba Bento do Amaral Coutinho, ordenou que os 300 paulistas fossem executados, cuja atitude deu-lhe ingresso na história com o merecido e execrável título de traidor.
Acerca do destino dos paulistas e da presença de Borba Gato em Pitangui, ensina Fernando Martins Ferreira:
Ao fim da guerra, os bandeirantes buscaram outras jazidas nas regiões de Mato Grosso e Goiás. O povo de Pitangui tem como tradição oral contada de pai para filhos há séculos, que Borba Gato após a derrota imposta pelos emboabas teria se fixado por um tempo na cidade antes de embrenhar-se novamente pelos sertões. Não há nenhum documento que comprove a sua estada em Pitangui, mas o povo sabe e sua pretensa moradia se encontra de pé até a presente data. Segundo registros, Borba Gato morreu em 1718, aos 90 anos de idade quando exercia o cargo de juiz ordinário da Vila de Sabará e se encontra enterrado em Paraopeba – MG.

Cultuar a memória de Borba Gato, por extensão, implica no culto ao bandeirante Fernão Dias Paes Leme, que certamente passou pelas terras de Pitangui na busca de ouro e das sonhadas esmeraldas.

5. Padre Belchior Pinheiro de Oliveira

O Padre Belchior Pinheiro de Oliveira nasceu no dia 08 de dezembro de 1775, no Arraial do Tijuco, atual Diamantina.
Com a morte do vigário colado de Pitangui Pe. Dr. Domingos Soares Torres Brandão, Padre Belchior foi nomeado vigário colado de Pitangui através de Carta Régia assinada por Dom João VI, no dia 23 de agosto de 1813. Empossado em Mariana, no dia 04 de maio de 1814, concretizou essa posse em Pitangui, na Igreja Nossa Senhora da Penha no dia 18 de maio de 1814, onde permaneceu por 42 anos à frente do paroquiado.
Padre Belchior teve intensa e edificante vida pública e religiosa. Foi um dos mentores da Independência do Brasil; fez parte da comitiva que acompanhou D. Pedro I em sua visita a Santos, esteve presente e influenciou de forma efetiva o então Príncipe Regente a proclamar a Independência política do Brasil, no dia 07 de setembro de 1822, às margens do Riacho Ipiranga.
Foi deputado à constituição do império no ano de 1823, dissolvida por Dom Pedro I em razão das críticas e das limitações de poderes que os constituintes queriam impor-lhe. Mesmo sendo amigo do imperador, foi por ele exilado na Europa, por um período de sete anos. No ano de 1835 foi reeleito para novo mandato e reconduzido ao cargo no dia 03 de fevereiro de 1840, ocasião em que foi eleito Vice-Presidente da Casa com 22 votos.
Foi também vereador em Pitangui nos anos de 1832 e 1843, cidade onde faleceu no dia 12 de junho de 1856.

6. Joaquina de Pompeu
Joaquina Bernarda da Silva de Abreu e Silva Castelo Branco Souto Maior de Oliveira Campos nasceu em Mariana, no dia 20 de agosto de 1752. Filha do advogado português, Jorge de Abreu Castelo Branco e Jacinta Teresa da Silva. Ficou órfã de mãe aos 10 anos. Com a morte da esposa, Dr. Jorge retomou os estudos eclesiásticos que iniciara em Coimbra e se ordenou padre. Pelos trabalhos prestados como advogado em Mariana angariou afetos e desafetos, sendo certo que estes últimos, se fizeram com maior intensidade. Por esta razão no ano de 1762, transferiu-se com a família para Pitangui, vila já bastante conhecida e movimenta já naquele final do século XVIII. Alguns historiadores chegaram a afirmar que, àquele tempo, as cidades civilizadas de Minas Gerais, eram: Diamantina, Mariana, Ouro Preto, Pitangui, Sabará e São João Del Rei.
A então criança Joaquina, com apenas onze anos, em razão da educação obtida de sua falecida mãe, já se postava de forma determinada, coerente e independente. Relata a história que em plena festa de seu noivado, que ocorreria com o comerciante Manuel de Souza e Oliveira, ela fez sua opção pelo capitão Inácio de Oliveira Campos, de forma um tanto ousada e acintosa para os padrões da época, com as seguintes assertivas:
“Se é para beber a saúde do noivo, bebo a saúde do Capitão Inácio, meu escolhido”.

Mesmo contrário aos desejos de seu pai, em especial pelo constrangimento causado ao noivo então prometido, o casamento realizou-se no dia 20 de agosto de 1764, contava ela com 12 anos e o capitão Inácio com 30.
O primeiro domicilio do casal foi a Fazenda Lavapés e desde os primeiros dias aquela menina aristocrática se mostrou uma esposa trabalhadeira e disposta a enfrentar os trabalhos da fazenda.
Por volta de 1771, Inácio é designado para missões de apresamento de índios e negros fugidos nos sertões do oeste mineiro e recebe por isso, como recompensa, várias sesmarias que aumentam consideravelmente o patrimônio do casal. Com a ausência do marido a administração da Fazenda Lavapés ficou por conta exclusiva de Joaquina, que o fazia com singular competência e inteligência.
No ano de 1795, ocasião em que o casal já residia em Pompéu, Inácio ficou paralítico e Joaquina assume os negócios e o controle do latifúndio. Com a morte do marido nove anos depois, a grande proprietária, aos 52 anos, começa a construir de fato a sua fama e a sua fortuna.
Dentre os atributos mais confiáveis que a história lhe confere encontram-se: era uma viúva séria e nunca pensou em se casar novamente. Acreditava que era sua missão resguardar a memória de seu falecido marido. Comandava com punhos de ferro suas propriedades e os seus negócios, inclusive a educação de seus dez filhos. Dizem ainda que era detentora de grandes e indevassáveis pudores, não se mostrava nua nem para as escravas de confiança durante o banho. Que tratava e alimentava bem seus escravos. Que era católica fervorosa, caridosa com as causas da igreja católica e respeitada por todos, inclusive pelas autoridades, em especial por D. João VI e Dom Pedro I, ambos deviam-lhe impagáveis favores.
Dentre os expressivos favores: proveu a Família Real em 1808, de roupas e alimentos, e a participação indireta na Independência do Brasil, enviando bois para as tropas de Dom Pedro que combatiam contra aqueles que resistiam e contestavam a Independência na Bahia, no ano de 1823.
Joaquina de Pompéu, além do imenso patrimônio econômico deixou também uma numerosa descendência, conforme ensina o pesquisador Fernando Martins Ferreira:
Dessas uniões resultaram 87 netos, 333 bisnetos, 11.108 trinetos e 14.637 tetranetos. Sua descendência hoje é calculada em aproximadamente 40.000 pessoas. Dos seus descendentes, três já se tornaram presidentes do Brasil, quatro se tornaram governadores de Minas Gerais e vários participaram da vida pública nacional como senadores, ministros de Estado, deputados, prefeitos além de diversas autoridades eclesiásticas.


7. Maria Tangará
Maria Felisberta da Silva, filha de Miguel Gonçalves Palmeira e Dona Anna Teresa da Silva, conhecida por Maria Tangará.
O apelido Tangará conforme ensina Monsenhor Vicente Soares, em seu livro: A história de Pitangui: “sua mãe era uma índia por nome Tangará e daí o seu apelido herdado da mãe. Tangará também era o nome de uma dança indígena, além de ser o nome de um pássaro brasileiro cantor, de cores brilhantes.”
Maria Tangará também foi uma mulher rica e poderosa, porém a história procura imputar a ela somente as maldades eventualmente praticadas e, sobretudo crenças ligadas à magia.
Ensina Fernando Martins Ferreira:
São muitas as maldades atribuídas a ela e aqui vamos relatar algumas contadas pelo povo. Não desejo tomar para mim, as defesas de Maria Tangará, mas sabemos que ninguém nasce ruim ou mau. A maldade aprende-se no decorrer da vida. Não me acho competente para analisar o comportamento de um personagem tão complexo, mas me pergunto se não teria sido a jovem Joaquina Bernarda, a Dona Joaquina de Pompéu, a mola propulsora, o gatilho que fez despertar tanta maldade em Maria Tangará, explico melhor: o que se conta, é que o capitão-mor da Vila de Pitangui, Inácio de Oliveira Campos, filho de Inácio de Oliveira e Ana de Campos Martins, o homem que se casou com D. Joaquina era o namorado e prometido de Maria Tangará (à época com 16 anos) até o dia que Joaquina Bernarda se insinua para ele em plena comemoração de seu (dela) noivado.

Com a prudência e a saberia que lhes eram próprias, certa vez em conversa com o Dr. José Campos , saudoso amigo e companheiro de estudos, descendente de D. Joaquina de Pompéu, assim manifestou:
Desde criança ouço historias em diferentes direções envolvendo estas duas extraordinárias senhoras, também li livros e textos que as reverenciavam e que também apontavam seus defeitos. Em certa ocasião conversei demoradamente a este respeito com o meu colega, médico e historiador, Agripa Vasconcelos, autor de vários livros de histórias e dele obtive várias informações.
E o que verifiquei das histórias que ouvi e dos livros li, pode existir exagero daqueles que atribuem a Maria Tangará tanta maldade. É certo que a história é sempre contada de acordo com a visão dos historiadores e estes, nem sempre são isentos; na condição de médico e nos estudos de psicologia que fiz aprendi que o ser humano tem dificuldades para lidar com a isenção, a emoção é muito forte e exerce grandes influências.
Considere ainda que, no tempo em que elas viveram, para manter o poder e a disciplina o uso da força era essencial: naquele tempo respeitava-se mais pelo temor.
Por outro lado eram mulheres que trabalhavam, cuidavam de numerosa descendência e do marido. A locomoção entre Pompéu e Pitangui era difícil e demorada, principalmente no tempo das chuvas. Estou certo de que elas tinham poucas oportunidades para se encontrarem e menos ainda, para fofocas e provocações. E não se pode olvidar ambas viveram muito à frente de seu tempo, o que por certo despertou inveja e ciúme e, para o bem da verdade, se elas vivessem hoje, certamente teriam amigas e inimigas, pessoas que as elogiariam e que as criticariam.

Maria Tangará era casada com o Sargento-mor Ignácio Joaquim da Cunha e desta união teve nove filhos: Delfina, Ildefonso, Pulquéria, Gomes, Lino, Bazilio, Matildes, Porcina e Balbina. Faleceu em Pitangui no dia 20 de janeiro de 1837, no sobrado das Cavalhadas e foi enterrada dentro de Igreja Matriz com o hábito de São Francisco costume da época.
Heroínas ou não, o fato é que 200 anos depois seus nomes ainda motivam a discussão daqueles que as defendem e daqueles que as acusam, o que comprova a importância que representaram enquanto vivas.

11. Conclusão
A magnífica e oportuna obra do historiador, pesquisador e escritor Fernando Martins Ferreira que serviu de inspiração e pesquisa para elaborar este texto conduz o leitor através de suas 193 páginas por 316 anos de história, ou seja, da descoberta de Pitanqui até os dias atuais.
Com sabedoria e fidelidade ele conduz o leitor a diversificados e relevantes momentos históricos, apresenta os personagens marcantes de cada época e, sobretudo, conclama para que se tenha solidariedade e retribua a Pitangui um pouco do muito que ela fez por toda região do centro-oeste mineiro.
Humberto de Campos, grande escritor brasileiro, que viveu de 1886 a 1934, advertia que o Brasil é um País com poucos heróis e os poucos que tem, muitas vezes, a preocupação dos brasileiros ao contrário de enaltecê-los preferem detratá-los, negar-lhes os méritos e, pior, ignorar sua existência.
Ao contrário das tendências detratoras denunciada por Humberto de Campos, Fernando Martins Ferreira, de forma elegante e didática, ressuscita em sua obra fatos, heroínas e heróis, motiva que os conheçam e conclama para que sejam preservados e repassados para as gerações futuras.
Em razão da parcialidade daqueles que registraram os momentos históricos os eventuais conflitos sobre a existência ou não de um fato ou de um personagem são comuns e compreensíveis. Porém, na obra ora comentada uma personagem é real e ainda existe: Pitangui. Foi ela o palco dos acontecimentos relatados por Fernando Martins Ferreira, portanto, se dúvidas pairarem sobre a conduta ou a existência das heroínas ou heróis declinados, se eles por lá passaram ou lá viveram, é aceitável e até compreensível, faz parte da história. Porém, uma verdade é insofismável: a existência de Pitangui, que eventualmente os acolheram e ainda, gerou dezenas de cidades que hoje vigorosamente gravitam em seu entorno. Por esta razão, esta personagem merece a atenção e o respeito de todos na exata medida em que preleciona Fernando Martins Ferreira. E para reverenciar e manifestar o reconhecimento e a gratidão sugerida pelo autor recomenda-se colaborar na divulgação e manutenção de sua história e, sobretudo, na conservação e restauração de seu patrimônio histórico ainda existente, para que ele possa continuar testemunhando e apresentando às gerações presentes e futuras o endereço daqueles que fizeram a história do centro-oeste mineiro.
Para finalizar, quero agradecer ao escritor Fernando Martins Ferreira, por escrever esta magnífica obra e pela oportunidade de pronunciar estas breves palavras, às autoridades e ao povo pitaguiense e a todos os senhores aqui presentes.
Muito obrigado.
Um fraternal abraço, que Deus nos ilumine e nos proteja.
Itaúna, 28 de outubro de 2011.

Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro

12. Bibliografia
CAMPOS, Humberto de. Carvalho e Roseiras: figuras políticas e literárias. São Paulo: W. M. Jackson INC Editores, 1951. v. 20

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática Ltda.

FERREIRA, Fernando Martins. Reminiscências do Centro-Oeste Mineiro. Pará de Minas: Virtualbooks Editora e Livraria Ltda., 2010.

* Arnaldo de Souza Ribeiro É Doutorando pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática de Ensino pela CEUCLAR – São José de Batatais – SP. Advogado e conferencista. Coordenador e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna UIT – Itaúna – MG. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise - ESFLUP- Nova Iguaçu - RJ. E-mail: souzaribeiro@nwnet.com.br

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