domingo, 15 de janeiro de 2012

VOCÊ SABE O QUE É PSICOPATOLOGIA?- LEIA: O TEXTO DO PROF.MS.ARNALDO DE SOUZA RIBEIRO






Congressos de Psicopatologia Fundamental em Curitiba [1]
* Prof. Ms. Arnaldo de Souza Ribeiro
“Ce que j’entends, j’oublie; ce que je regarde, je me souviens et ce que je fais, j’apprends.”
Jean Willian Fritz Piaget. Epistemólogo, Educador e Psicólogo. Nasceu em Neuchâtel, Suíça, no dia 09/08/1896 e faleceu em Genebra, Suíça, no dia 16/09/1980.

1. Introdução 2. Participação internacional com destaque para os pesquisadores mexicanos 3. Pierre Fédida: o criador do termo Psicopatologia Fundamental 4. Psicopatologia Fundamental e Psicopatologia Geral 5. Jean Piaget e o conceito de transdiciplinaridade Conclusão Biografia

1. Introdução
Realizou-se nos dias quatro a sete de setembro de 2010, na cidade de Curitiba – Paraná - Brasil, o IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e o X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, promovidos e organizados pela Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental, com a participação de doze Universidades.
Participaram dos Congressos: escritores, pensadores, filósofos, historiadores, advogados, médicos, psicólogos e psicanalistas. Também participaram estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação - lato sensu e stricto sensu – que levaram suas monografias, dissertações e teses para apresentá-las e discuti-las com os participantes durante as mesas-redondas.
Durante os quatro dias de Congressos foram apresentadas 408 atividades, dentre elas: Conferências, Cursos, Simpósios, Mesas-redondas, Seminários Clínicos e exposição de vários Pôsteres. Em razão do grande número de participantes os Congressos foram simultaneamente realizados nos seguintes locais: Hotel Bourbon, Hotel Curitiba Palace, Hotel Trevi e Teatro Fernanda Montegro.

2. Participação internacional com destaque para os pesquisadores mexicanos
Participaram ativamente dos Congressos estudantes, profissionais e pesquisadores da América do Sul, da América do Norte e da Europa. Dentre eles destacaram os mexicanos, pela quantidade e qualidade dos trabalhos que apresentaram e debateram, destacando-se: Hugo Pedrosa Falcón, Mário Orozco Guzmán, da Universidad Autónoma de Querétano. Flor de Maria Gamboa Solis, David Pavón Cuellar, Alfredo Emilio Huerta Arellano, Alejandra Cantoral Pozo, da Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo. Antonia Reyes A-Dautrey, Maria Del Carmen Rojas Hernandéz, Antonia Reyes Arellano, Silvia Larisa Mèndez Martinez, Jeannet Quiroz Bautista, da Universidad Autonoma de San Luis de Potossi e a doutoranda Xochiquetzaly Yeruti De Avila Ramirez.

3. Pierre Fédida: o criador do termo Psicopatologia Fundamental
Pierre Fédida nasceu na cidade de Lyon - França, no dia 30 de outubro de 1934 e faleceu em Paris no dia 1º de novembro de 2002, com 68 anos. Seu pai era judeu sefardim [2], oriundo da Argélia e sua mãe francesa, nascida em Lyon. Pierre Fédida nasceu e cresceu em um lar modesto, porém estruturado e honrado.
Fez seus estudos em Lyon e exerceu com invulgar sabedoria o exercício do magistério, da filosofia, da psicologia e, sobretudo, da psicanálise. Seus livros, artigos e palestras exerceram acentuada influência no exercício da psicanálise na França e no mundo.
Registre-se que o exercício e o ensino da psicanálise no Brasil também sofreram influência direta do Doutor Pierre Fédida. Ademais, ele declarava de forma ostensiva sua simpatia pelo povo brasileiro e pela forma que os psicanalistas brasileiros exerciam a psicanálise. Em razão desta simpatia que era recíproca ele fez várias viagens ao Brasil e aqui participou de forma efetiva de: cursos, seminários, simpósios e palestras.
Outra influência do Doutor Pierre Fédida, no Brasil, deu-se através dos trabalhos e obras dos psicanalistas que fizeram sob sua orientação seus cursos de doutorado, na Universidade Paris VII - Denis Diderot.
Dentre as nobres virtudes do Doutor Pierre Fedida, destacava-se o elevado senso humanista, era um homem de espírito evoluído. Relatam seus amigos que ele sempre estivera atento e preocupado com o sofrimento humano.
No dia 1º de novembro de 2002, com 68 anos, o homem que colocou o seu talento e o seu trabalho a serviço da ciência, na busca da compreensão entre as correntes de pensamento e de lenitivos para minorar as dores daqueles que sofrem, despediu-se. Em outubro, dias antes de seu falecimento, fez sua última conferência na associação Espace Analytique, sob o título "As figuras da Pietá. O corpo da Virgem e o corpo de Cristo". Para o homem que estudou e respeitou as dores das pessoas, o título e o conteúdo de sua última conferência não poderiam ser mais oportunos e elucidativos.
Acredita-se que indiferente à sua crença, o homem que durante uma vida, abraçou, respeitou e acolheu os sofrimentos humanos e enveredou na busca de formas de minorá-los, por certo, no plano superior fora acolhido pelos braços da Pietá, sob os olhos e com as bênçãos do Supremo Criador, para externar-lhe gratidão e reconhecimento pelo que fizera em benefício da humanidade.

4. Psicopatologia Fundamental e Psicopatologia Geral
O termo Psicopatologia Fundamental, objeto dos Congressos realizados em Curitiba é de uso recente e pouco divulgado; ainda não alcançou a grande massa. Foi utilizado pela primeira vez em meados da década de oitenta, pelo Professor Doutor Pierre Fédida, com o propósito de distinguir o novo campo de pesquisa da Psicopatologia Geral de Karl Jaspers, no início do século XX.
Psicopatologia Fundamental, na acepção de Manoel Morgato Rezende:
O termo “Psicopatologia Fundamental” foi criado por Pierre Fédida, para distinguir o novo campo de pesquisa da Psicopatologia Geral, nomeada por Karl Jaspers, no início do século XX. A Psicopatologia Fundamental, segundo Berlinck (2004), dedica-se às manifestações existenciais e sua significação eminentemente consciente, ainda que nem toda a psicopatologia fenomenológica tenha se restringido a esse preceito. A Psicopatologia Fundamental, pretende ser um campo de investigação do sofrimento (pathos) psíquico, através de diferentes posições teórico-metodológicas. A complexidade do pathos não é compatível com tentativas reducionistas de qualquer abordagem. [3]
A Psicopatologia Geral nos ensinamentos de Mario Eduardo Costa Pereira:
No início do século XX, Karl Jaspers publicou Psicopatologia Geral visando descrever, de forma sistemática, as doenças mentais. Esse importante trabalho deu nome àquilo que muitos médicos faziam, principalmente na França, na Alemanha e na Inglaterra durante todo o século XIX e inaugurou uma rica tradição médica que se manifesta, até hoje, em Tratados de Psiquiatria e em Tratados de Psicopatologia Médica. Essa tradição, que muito contribui para a Psicopatologia Fundamental, está, entretanto, interessada na descrição a mais cuidadosa possível e na classificação das doenças mentais. [4]

5. Jean Piaget e o conceito de transdiciplinaridade
Jean William Fritz Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, no dia 9 de agosto de 1896 e faleceu em Genebra, Suíça, no dia 16 de setembro de 1980. Epistemólogo, foi considerado o maior expoente do estudo do desenvolvimento cognitivo. Estudou biologia, e posteriormente se dedicou à área de Psicologia, Epistemologia e Educação, escreveu mais de cinqüenta livros e diversas centenas de artigos, que influenciaram várias gerações e várias correntes de pensamento.
Jean Piaget utilizou o termo transdiciplinaridade pela primeira vez no I seminário Internacional sobre pluri e interdisciplinaridade, realizado na Universidade de Nice - França, também conhecido como “Seminário de Nice”, em 1970. A proposta de Piaget era estimular a reflexão acerca da interação otimizada entre as diversas disciplinas, sem que estas perdessem suas especificidades, quando asseverou: “...esta etapa deverá posteriormente ser sucedida por uma etapa superior: transdiciplinar”.
Ciente e de acordo com a premissa de Jean Piaget, no ano de 1993 o Doutor Pierre Fédida fundou o Centre d´Études du Vivant, que junto ao Forum Diderot, fundado por Dominique Lecourt, organizou grandes debates em que se reuniram notáveis pesquisadores para debaterem temas comuns à biologia, medicina, psiquiatria, filosofia e psicanálise.
Neste sentido ensina Mario Eduardo Costa Pereira:
A Psicopatologia Fundamental, não dispensando os saberes adquiridos nem pela Psicopatologia Geral, nem por outros saberes que contribuem para a compreensão do sofrimento psíquico - a filosofia, a psicologia, a psicanálise, a literatura, as artes, o jornalismo etc - não está tão interessada na descrição e classificação da doença mental como no que é vivido e expressado pelo paciente, pois baseia-se no pressuposto de que o pathos manifesta uma subjetividade que é capaz, através da narrativa, do relato, do discurso, da expressão em palavras, de transformar a paixão e o assujeitamento numa experiência servindo para a existência do próprio sujeito e, quem sabe, à medida que for compartilhada, para outros sujeitos. [5]
Psicopatologia Fundamental, segundo Paulo Roberto Cecarelli:
A preocupação central da Psicopatologia Fundamental é de contribuir para a redefinição do campo do psicopatológico, propondo uma reflexão crítica dos modelos existentes e uma discussão dos paradigmas que afetam nossos objetos de pesquisa, nossas teorias e práticas. Isso significa que a Psicopatologia Fundamental reconhece e dialoga com as outras leituras presentes na polis psicopatológica. [6]
Para aproximar o discurso entre a Psicopatologia Fundamental e as demais ciências, os organizadores dos Congressos convidaram o Professor e filósofo brasileiro Plínio W. Prado Junior, que leciona na Universidade Paris VIII, Vincennes à Saint-Denis – França, para palestrar sob o título “A arte de viver...à beira do abismo” a qual foi proferida de forma elucidativa e com brilhantismo. Durante sua fala o Professor Plínio citou e explicou o pensamento filosófico de várias gerações e suas escolas para que os congressistas pudessem ampliar suas reflexões e buscar novos caminhos.

Conclusão
O IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e o X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental foram fontes de pesquisa e aprendizado. A estrutura adotada pelos organizadores permitiu que os participantes revezassem nas condições de ouvintes e expositores e, deste modo, viram, ouviram e fizeram...
Na lição de Jean Piaget: “O que escuto, esqueço; o que vejo, lembro e o que faço, aprendo.”
Pela intensidade dos trabalhos e a forma em que os mesmos foram apresentados, os participantes muito escutaram, muito viram e muito fizeram, portanto, muito aprenderam.
Espera-se que o profícuo aprendizado, que fora adquirido nestes Congressos seja aprimorado, multiplicado e repassado, a exemplo do que fizera o Doutor Pierre Fédida, Sabendo-se que, os seus trabalhos e ensinamentos, ainda hoje, promovem inúmeros benefícios para a coletividade e servem de motivação para Congressos e novas pesquisas, cujos resultados transformam-se em lenitivos para amainar o sofrimento humano.

Notas
1. Disponível em: < http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/2531169 > Acesso em 01/10/2010.
2. Segundo o Dicionário Aurélio: Diz-se de, ou judeu descendente dos primeiros israelitas de Portugal e da Espanha, expulsos, respectivamente, em 1496 e 1492; sefaradita, sefardita.
3. REZENDE, Manuel Morgato. “Traumas” foi o tema de dois congressos de psicopatologia fundamental.
Disponível em: < http://www.metodista.br/ppc/mudancas/mudancas-12-2/201ctraumas201d-foi-o-tema-de-dois-congressos-de-psicopatologia-fundamental > Acesso em 07/09/2010
4. PEREIRA, Mário Eduardo Costa. O que psicopatologia fundamental? Disponível em : Acesso em 08/09/2010.
5. PEREIRA, Mário Eduardo Costa. O que é psicopatologia fundamental? Disponível em : Acesso em 08/09/2010.
6. CECARELLI, Paulo Roberto. A contribuição da psicopatologia fundamental para a saúde mental. Disponivel em : < Disponível em : < http://ceccarelli.psc.br/artigos/portugues/html/saudemental.htm > Acesso em 08/09/2010.

Bibliografia
CECARELLI, Paulo Roberto. A contribuição da psicopatologia fundamental para a saúde mental. Disponível em:
< http://ceccarelli.psc.br/artigos/portugues/html/saudemental.htm > Acesso em 08/09/2010.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática.
PEREIRA, Mário Eduardo Costa. O que é psicopatologia fundamental? Disponível em : Acesso em 08/09/2010.
PIERRE, Fedida. Dictionnaire de la psychanalyse. Paris: Librairie Larousse, 1974.

REZENDE, Manuel Morgato. “Traumas” foi o tema de dois congressos de psicopatologia fundamental.
Disponível em: < http://www.metodista.br/ppc/mudancas/mudancas-12-2/201ctraumas201d-foi-o-tema-de-dois-congressos-de-psicopatologia-fundamental > Acesso em 09/09/2010.
RIBEIRO, Arnaldo de Souza. Educação: compromisso de todos. In < http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1812077> Acesso em 12/09/10.
_______. Psicanálise e educação. Monografia. Nova Iguaçu - RJ: Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP, 2006. 60 F.
_______. Direito e psicanálise. Monografia. Nova Iguaçu - RJ: Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP, 2005. 151 F.
ROUDINESCO, Elisabeth. Mort de Pierre Fédida, grande figure de l’Université et de la psychanalyse. Disponível em: < http://www.siueerpp.org/spip.php?article13 > acesso em 15/09/2010.
Itaúna, (MG), 15 de setembro de 2010.
* Arnaldo de Souza Ribeiro é Doutorando pela UNIMES – Santos - SP. Mestre em Direito Privado pela UNIFRAN – Franca - SP. Especialista em Metodologia e a Didática do Ensino pelo CEUCLAR – São José de Batatais – SP. Advogado e conferencista. Coordenador e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna. Professor convidado da Escola Fluminense de Psicanálise – ESFLUP – Nova Iguaçu - RJ. Sócio efetivo da Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise – ABRAFP. E-mail: arnaldodesouzaribeiro@hotmail.com

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