quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SOMOS CHIQUES MESMO, E DAI? -FLAVIO MARCUS DA SILVA (FOTO)




28 - Somos chiques mesmo, e daí?


- Nossa convidada de hoje é uma das mulheres mais badaladas da sociedade local e,podemos afirmar, sem nenhum exagero, de todo o estado: D. Jaciara de Assunção Menezes Torres e Albuquerque. Boa noite D. Jaciara, é uma alegria imensa tê-la conosco.
- A alegria é toda minha, meu caro Bruno. É sempre um prazer voltar ao seu programa.
- Acho que todos os nossos ouvintes já conhecem D. Jaciara: sabem que ela pertence a uma das famílias mais ricas e tradicionais da cidade, que muito contribui para o desenvolvimento econômico de toda a região. Porém, D. Jaciara tem uma novidade para nos contar...
- Pois é. A novidade é que eu e um grupo de amigas acabamos de fundar um movimento na cidade chamado “Somos chiques mesmo, e daí?”.
- Muito interessante. E o que esse movimento promove?
- Bem, há muito tempo me incomoda o fato de haver em nossa cidade um preconceito muito grande contra ricos e pessoas de classe. Tem um cronista que escreve para um site, por exemplo, que não perde uma oportunidade para humilhar os representantes da Alta Sociedade local: não cita nomes, é claro [pois ele não é louco], mas está sempre tentando mostrar que não existe diferença entre as pessoas.
- E existe?
- Claro que sim! Eu, por exemplo, viajo para a Europa cinco vezes ao ano. Só bebo vinho alemão Mit prädikat ou francês com Appellation d'origine contrôlée. Não preciso trabalhar para viver: sou dona de quase a metade dos imóveis comerciais da cidade, que me rendem alugueis astronômicos, fora os lucros das empresas que eu e meus irmãos herdamos de papai e das fazendas de gado Nelore que possuímos no norte de Minas. Isso sem contar o fato de termos mais deputados e prefeitos na nossa família do que qualquer outra família no estado, o que, sem dúvida, facilita muito as coisas, não é? [risos]. Pois então: Como alguém pode dizer que eu sou igual, por exemplo, à minha camareira número 4, que mora em um barracão de aluguel, num bairro tão distante do centro, que ela precisa pegar seis ônibus por dia para ir e voltar do serviço?
- Entendo perfeitamente o seu ponto de vista, D. Jaciara, mas talvez a perspectiva do cronista em questão não seja esta...
- Eu sei muito bem qual é a perspectiva dele. É a de alguém que precisa trabalhar para viver; anda num carro caindo aos pedaços [porque não consegue comprar um novo]; nos finais de semana só tem dinheiro para levar os filhos na pracinha da igreja e comprar pra
eles aqueles chur-ras-qui-nhos enfumaçados com guaraná [D. Jaciara sente um arrepio percorrer seu corpo e faz uma careta de nojo]. Eu conheço esse tipo de gente. Essas pessoas têm é inveja dos ricos, dos que têm classe: por isso inventam essas histórias de que somos todos iguais, de que “privada de ouro não fede menos”. Claro que fede menos! Lá em casa, por exemplo, tem um aparelho que eu trouxe do Japão que elimina todo o fedor das fezes antes mesmo dele sair da privada! Não dá tempo nem do cheiro chegar aos narizes de quem está defecando. Tudo acontece como num passe de mágica! E enquanto eu defeco, tenho diante de mim uma TV exibindo documentários franceses de altíssimo nível: Thalassa, Envoyé Spécial, etc. Pobre tem isso? O nosso cronista tem isso?
- Imagino que não, D. Jaciara. Mas, o que exatamente promove o movimento “Somos chiques mesmo, e daí?”?
- O nosso movimento promove a conscientização das pessoas para o fato de que ser chique não é para todos, mas para uma minoria rica, e que é preciso aceitar isso sem conflitos [internos ou externos], sem inveja, sem rogar praga e torcer para que todo tipo de desgraça aconteça com representantes da nossa classe. É incrível como pobre cafona adora ver rico chique sofrer, só pra dizer: “Tá vendo! Tem dinheiro, mas não é feliz”. Coitado. Infeliz é ele: mora mal, ganha mal, come mal e dificilmente vai melhorar de vida. Somos chiques mesmo, E DAÍ? Não fomos nós que inventamos o capitalismo! Que culpa temos nós de que, para existir, o capitalismo precise de milhares de trabalhadores pobres dispostos avender o seu trabalho por uma mixaria e, assim, fazer os ricos ficarem cada vez mais ricos?
Não temos culpa disso!
- Muito bem, D. Jaciara...
- E não temos culpa também dos pobres só aparecerem nas páginas policiais, enquanto nós, que temos dinheiro para pagar a publicação de nossas fotos e de matérias sobre nossas vidas chiques, aparecemos nas melhores colunas sociais da região, sempre arrancando suspiros invejosos de todos que gostariam de ser como nós.
- Entendo...
- E eu lá tenho culpa do meu filho ser brilhante, de estar fazendo doutorado numa das melhores universidades federais do país e viajar o mundo todo apresentando seus artigosem conferências internacionais? Por que eu não posso contar isso para todo mundo? É verdade!
- Claro, D. Jaciara, não precisa ficar nervosa.
- Não estou nervosa, meu caro Bruno. Apenas quis enfatizar a importância do nosso movimento, que representa uma minoria em nossa cidade [e no Brasil como um todo]: uma minoria que também tem seus direitos, assim como os gays, os índios, os sem teto, os sem terra, os cotistas universitários, etc.
- D. Jaciara, infelizmente nosso tempo acabou. Foi um prazer conversar com a senhora.
- O prazer foi todo meu. E quem quiser mais informações sobre o nosso movimento, encontre-nos no Orkut, no Facebook e no Twitter. É só digitar: “Somos chiques mesmo, e daí?”. Muito obrigada!
P. S.: Bruno, D. Jaciara e o movimento “Somos chiques mesmo, e daí?” não existem. São pura ficção, frutos
apenas da minha imaginação.
QUEM É MARCUS FLÁVIO DA SILVA



Nascido em Pará de Minas- MG em 1975. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e doutorado pela Universidade federal de Minas Gerais (2002) com estágio (Doutorado- sanduíche/CAPES) na Universidade de Lisboa- Portugal (2002). Atualmente é Vice- diretor da Faculdade de Pará de Minas- FAPAM-(MG) onde já exerceu os cargos de Coordenador do Curso de História, coordenador do NUPE- Núcleo de Pesquisa, e foi professor nos cursos de História e Administração. Atualmente leciona nos cursos de Direito e Pedagogia. É autor do livro SUBSISTENCIA E PODER: a política do abastecimento alimentar nas Minas Setecentistas (Editora UFMG -2008) e de artigos publicados em periódicos e livros de História. Um de seus trabalhos foi publicado no livro HISTÓRIA DE MINAS GERAIS- As Minas Setecentistas (Editora Autentica 2007) obra vencedora do PREMIO JABUTI
2008 na categoria Ciências Humanas. Atualmente exerce também a função de Pesquisador Institucional da Faculdade de Pará de Minas junto ao Ministério da Educação, sendo responsável pelo acompanhamento dos processos e renovação de reconhecimento dos cursos de graduação da IES. Em 2009 foi eleito para a Academia de Letras de Pará de Minas.
www.nwm.com.br/fms

Um comentário:

  1. rsrs estava quase acreditando uma vez meu esposo me mostrou esse programa horrivel na tv e não acreditei que uma emissora de tv pudesse ocupar um espaço carissimo com um programa tão sem noção rsrsrs
    parabens pela publicação
    adorei
    Rosane Silveira

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